sábado, 20 abril 2024

Oito cães, 32 gatos, uma missão

Ana se mudou para Americana há menos de dois anos. E a casa dela, no Frezzarim, virou morada para oito cães e 32 gatos. A bicharada foi encontrada na rua. Faminta, doente, machucada. Ela os acolheu e os tratou. E nem fica pensando em como vai arrumar dinheiro para comprar tanta ração e material de limpeza. 

Aliás, se pensasse, ela abandonaria a causa. Os gastos mensais com os animais passam dos mil Reais. Adicionada a vários grupos de ambientalistas e simpatizantes do bem-estar animal, ela sempre é chamada para socorrer algum cão abandonado. 

HISTÓRIA 

Ana Paula Ciavatta Corrêa, de 47 anos, trabalha como consultora de vendas. Ela morava em São Paulo. Não tinha tempo, não tinha espaço, não tinha interesse pelo assunto. Mas, por aqui, foi apresentada a protetores. De imediato ficou impressionada com os casos de abandono denunciados nas redes. Se comoveu. Sentiu que precisava ajudar. E não parou mais. 

Ah, detalhe. Ela mora com o marido Rubem e a mãe Terezinha, senhorinha de 85 anos. 

O maridão, que se afastou do trabalho para tratar da saúde, é quem assumiu a missão doméstica de cuidar da bicharada. Ana passa o dia inteiro na empresa. Ganhando dinheiro para pagar as contas. 

PARCEIROS 

A dona tem muitos amigos, simpatizantes do ideal. Como a Priscila Generoso, que mantém um serviço de banho e tosa na cidade, mas se ofereceu para tratar de graça dos bichos. 

E como os veterinários que fizeram uma cirurgia delicada para a retirada de um tumor de um cãozinho. Ana lhes deve R$ 800,00. Não sabe como vai pagar. E os credores nem ficam cobrando. É aquela história. O empenho pelo bem-estar animal precisa de idealismo. 

Mas, claro, nem todo mundo da vizinhança gosta. Há nariz torcido, olhares de reprovação… Mas e daí? Alguém precisa cuidar dos bichos. E ela sabe: um elogio vale mais que mil reclamações. 

O QUE FALTA 

Para Ana, a situação em Americana é semelhante à de qualquer cidade. As pessoas querem ter animal de estimação, mas não imaginam que vão ter gastos. Por isso, os bichos acabam abandonados. 

A seu ver, deve existir uma campanha forte, ininterrupta, de conscientização em defesa da posse responsável. “É preciso criar uma cultura nova entre as pessoas. Deve haver envolvimento, respeito com os animais”, afirma. 

O Poder Público, diz, também precisa continuar investindo em programas gratuitos, periódicos, de castração e vacinação. 

E ela tem o sonho de ver na cidade um serviço público equipado, eficiente, para acolher e tratar bichos abandonados. Utopia, talvez. 

E enquanto isso não acontece, ela procura a ajuda dos simpatizantes da causa para socorrer a bicharada. 

MUNICÍPIO PROJETA SERVIÇOS ESPECIAIS
Priscila faz cuidados voluntários

A Prefeitura de Americana planeja instalar na cidade, nas próximas semanas, um serviço especial, voltado exclusivamente à causa animal. A unidade vai estar vinculada à Secretaria Municipal do Meio Ambiente. 

De acorco com o responsável pela pasta, o secretário Odair Dias, o Poder Público busca certificações de órgãos competentes para a execução do projeto. 

A cidade já pode contar com um castramóvel, adquirido com recursos de uma emenda parlamentar. 

O veículo, no caso, custou quase R$ 205 mil. Desse montante, chegam R$ 120 mil de Brasília. O restante foi assumido como contrapartida, pelo próprio governo municipal. 

 
Cãozinho da “coleção” de Ana

 

PARCERIAS SÃO ESSENCIAIS PARA MANTER UM TRABALHO ALTRUÍSTA 

Os cuidados com os animais abandonados historicamente dependeram de ações altruístas. Sem dinheiro, sem patrocínios, os grupos quase anônimos se espalham pela cidade. 

E, quando existem, as parcerias surtem resultados fantásticos. 

Caso, por exemplo, da Anjos Peludos, por exemplo, ONG ambientalista voltada à causa, que para sobreviver conseguiu a ajuda estratégica do IESA (Instituto de Ensino Superior de Americana), instalado no Condomínio Industrial Werner Press. 

Além da contribuição fiel em dinheiro para a manutenção da ONG, a faculdade ainda organiza, duas vezes a cada semestre, uma feira de animais.

Gato foi encontrada presa

A última, neste sábado, buscou vender acessórios, roupinhas, rações. O dinheiro arrecadado, na íntegra, vai ser usado pela ONG. 

E a despesa é grande. O grupo cuida de animais em uma chácara alugada. E tem contas que beiram a casa dos R$ 10 mil mensais. 

O convênio nasceu quando uma dirigente da faculdade descobriu uma página virtual que oferecia filhotes. Na hora, comovida com a situação, a executiva ofereceu as dependências da faculdade, ao lado da praça de alimentação, para a feira que, desde 2016, deixou de ser apenas virtual. 

Cristiane Ochuiuto Marques, dirigente da ONG, festeja demais a parceria. Mas afirma que o empenho voluntário, independente do que se arrecada com o bazar, é fundamental para o sucesso do empreendimento. 

Na chácara alugada, fala, há quem ajude na limpeza das dependência e nos cuidados com a bicharada. No bazar não é diferente. Até os alunos de empolgam e participam. 

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