Nove candidatos da região nas eleições 2020 com bens declarados acima de R$ 1 milhão pediram e receberam auxílio emergencial durante a pandemia. O TCU (Tribunal de Contas da União) divulgou ontem, após determinação do ministro Bruno Dantas, a lista de candidatos que declararam patrimônio superior a R$ 300 mil e receberam auxílio emergencial.
Na lista, 1.320 candidatos no País com patrimônio acima de R$ 1 milhão, sendo nove da região, todos candidatos a vereador. São três de Americana, dois de Hortolândia, um de Nova Odessa e três de Sumaré.
Há ainda outros 10.724 candidatos com patrimônio entre R$ 300 mil e R$ 1 milhão. Da região, são 51, sendo 23 candidatos de Sumaré, 18 de Americana, seis de Santa Bárbara e quatro de Nova Odessa, todos candidatos a vereador.
Segundo publicado pelo TCU em seu site oficial, “tais casos demonstram potenciais integrantes do rol de inclusões indevidas do benefício, uma vez que os indícios apontam renda incompatível com as regras do programa. Essa lista foi divulgada mediante parcial supressão dos CPFs dos candidatos”.
O ministro do TCU já havia informado que havia mais de dez mil candidatos com patrimônio acima de R$ 300 mil que receberam o auxílio emergencial do governo. No despacho, Dantas decidiu pela publicação e divulgação da lista. O ministro diz que “as informações contidas nas referidas listas são de interesse público e devem ser levadas ao conhecimento da população”.
Três dos nove candidatos milionários são de Americana. O advogado Dinael Machado (PROS) declarou patrimônio de R$ 1.758.000, sendo porcentagem pequena de casa, terreno em Brotas, BMW 2001 e uma casa avaliada em R$ 1,5 milhão no Jardim Santana. Ele recebeu R$ 600 de auxílio emergencial.
O representante comercial Nardinho Milanezi (Rede Sustentabilidade) declarou patrimônio de R$ 1.272.000 em bens, sendo um sobrado avaliado em R$ 800 mil, uma chácara e uma moto. Ele recebeu R$ 1.200 de auxílio emergencial.
O empresário Pedrão Pinesi (PTB) declarou como bem apenas um patrimônio, uma casa no Werner Plass, avaliada em R$ 1,5 milhão. Ele recebeu auxílio de R$ 1.800.
AMERICANA | Dinael, Pinesi e Nardinho
Duas candidatas de Hortolândia também figuram na lista do TCU.
Diretora de autoescola, Adriana Ribeiro (Podemos) declarou como patrimônio uma área comercial de R$ 600 mil, uma casa de alvenaria, um ônibus, duas motos e cinco carros, totalizando R$ 1.406.900 em bens divulgados ao TSE. Ela recebeu R$ 600 de auxílio.
Cabeleireira, Giovanna Pavesi (Podemos), recebeu R$ 1.800 de auxílio. Ela declarou patrimônio de R$ 1.030.000. Três casas de alvenaria somam R$ 700 mil. Há ainda um apartamento, um terreno e um carro.
HORTOLÂNDIA | Adriana e Giovanna
Nova Odessa teve apenas o contador Romildo Codogno (Patriota), que recebeu R$ 1.800 de auxílio, mesmo com patrimônio de R$ 1.890.000. Uma chácara dele está avaliada em R$ 1 milhão. Completam a lista de bens um box comercial, uma camionete, um carro, uma moto, e cotas de capital social de empresas de contabilidade e equipamentos.
CODOGNO | Nova Odessa
Os três candidatos restantes são de Sumaré. Thiago Silva (MDB), empresário, recebeu auxílio de R$ 1.800, com patrimônio declarado de R$ 4,8 milhões, de uma casa.
José da Silva, o Pai do Depósito (PV), comerciante, recebeu o mesmo valor de auxílio e declarou R$ 1.630.000 de bens, sendo uma casa de R$ 900 mil, um terreno em Hortolândia e dois carros.
Encerra a lista da região Iraci Barbosa Bocaneri, a Baixinha da Van (Patriota), empresária de transporte escolar. Ela declarou R$ 1.376.764 em bens, sendo uma casa avaliada em R$ 1,3 milhão, um carro e conta poupança. Ela recebeu R$ 1.200 de auxílio emergencial na pandemia.
SUMARÉ | Thiago, Pai do Depósito e Iraci
O QUE ELES DIZEM
O candidato Thiago Silva (MDB), que tem R$ 4,8 milhões de bens declarados, uma casa, informou em nota que “houve erro de digitação no lançamento dos dados de sua declaração de bens no sistema da Justiça Eleitoral”. Silva diz que “não possui nem nunca possuiu um imóvel deste valor. Uma declaração retificadora já foi encaminhada à Justiça Eleitoral”.
A candidata Baixinha da Van (Patriota) disse em nota que o imóvel declarado está registrado em nome de seu marido, “com quem é casada em comunhão de bens”. A nota diz que o único bem e fonte de renda dela é uma van, com a qual ela faz transporte escolar. “Seu trabalho foi afetado diretamente pela pandemia, por conta da suspensão das aulas”.
Giovanna Pavesi (Podemos) falou com a reportagem. “Sou cabeleireira, tenho MEI e funcionário registrado. Optei pelo auxílio emergencial por ser menos burocrático. Assim pude manter o salário do funcionário mesmo com o salão fechado por três meses. Saliento ainda que não estou recebendo e nem recebi nenhuma verba eleitoral e dinheiro do governo na minha campanha, e ter bens não é necessariamente ter renda”.
Pedro Pinesi (PTB) também conversou com o TODODIA. “Eu tenho patrimônio, mas não tenho liquidez. Sou separado, é a realidade do que está acontecendo. Veio a pandemia e ninguém quer comprar nada. Fui obrigado a recorrer ao auxílio”.
A assessoria do Rede, partido do candidato Nardinho Milanezi, confirmou os bens declarados e alegou em nota que ele pediu o auxílio emergencial “porque, no momento, não tem liquidez, ou seja, não tem dinheiro na mão, nem ocupação que lhe garanta renda para o sustento da família”.
Dinael Machado (PROS) disse que seu patrimônio “é muito inferior ao que consta na mencionada lista” e que vai procurar os órgãos para verificação e retificação se confirmado o equívoco. “Resolvi solicitar o auxílio pois devido a pandemia ficou tudo parado e meus rendimentos caíram drasticamente”. Ele se disse “à disposição para esclarecimentos”.
A reportagem tentou contato com José da Silva, Pai do Depósito (PV), candidato a vereador em Sumaré, via Facebook e e-mail, além de acionar por e-mail a assessoria do PV nacional, estadual e municipal, mas não conseguiu retorno. A mesma situação se passou com Adriana Aparecida Ribeiro (Podemos), candidata a vereadora em Hortolândia, e com Romildo Codogno (Patriota), candidato a vereador em Nova Odessa.
