Um projeto desenvolvido por meio de uma parceria firmada entre pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e psicanalistas voluntários disponibiliza atendimento gratuito ao público. O serviço funciona aos sábados, na histórica estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, hoje usada para eventos culturais. Além de abrir espaço para que as pessoas possam compartilhar dores, sofrimentos e angústias, a experiência também ajuda a repensar o papel do psicanalista e sua contribuição para a coletividade.
NOVA PROPOSTA
A proposta é que os psicanalistas atuem em espaços públicos. A estação é apenas o primeiro deles. Não se trata de uma adaptação do que se pratica em consultórios, ou de um “subproduto assistencial”para pessoas de baixa renda. É uma forma de mostrar que é possível colocar em prática um serviço de saúde mental adequado ao mundo contemporâneo. A iniciativa vem sendo planejada desde o ano passado, em encontros que reuniram pesquisadores do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem) e profissionais da Tykhe, uma associação privada de psicanálise. A chamada “psicanálise de rua” propõe a ocupação do espaço urbano, de forma a abolir a imagem pré-concebida do que se faz em uma consulta de hora marcada, de como é o consultório, do que se conversa. Enfim, se pretende abolir o script da profissão e lançar um novo método de contato, que também gere resultados.
COMO FUNCIONA
O coletivo realiza atendimentos gratuitos todos os sábados, das 9h às 12h, na Estação Cultura. Os voluntários se revezam, mantendo sempre cerca de seis profissionais disponíveis para o serviço. Qualquer pessoa interessada pode participar e não é necessário fazer agendamento prévio. Os atendimentos são informais e duram o tempo em que as pessoas se sentirem confortáveis para falar de si mesmas e de seus sentimentos.
CHAMA REACESA
Marcos Barbai, pesquisador da Unicamp e psicanalista do coletivo, afirma que o contato com as pessoas nos locais públicos é uma forma de valorizar os espaços que podem servir de encontro entre as pessoas. “O projeto reacende a chama da cidade”, diz. “É uma possibilidade de, nesse momento social e político do País, ouvir a população da cidade, estar ali para escutar os sofrimentos”. A essência do trabalho do coletivo é o diálogo: deixar que as pessoas falem de seus problemas faz a diferença na busca pelo bem estar.
QUEM PRECISA
Na avaliação do professor Lauro Baldini, integrante do projeto, a dificuldade emocional é coletiva, e as pessoas precisam se ajuda. Para ele, fatores que desencadeiam ansiedade, depressão ou até síndrome do pânico estão centradas nas relações sociais do cotidiano, de todos. “Ao levar a psicanálise para os espaços públicos, chamamos a atenção para a importância do sentimento coletivo, de que todos são responsáveis pelo bem estar de todos”, afirma. Na visão do professor, a essência do projeto é mostra que aquele mal- estar que a pessoa relata não é individual, não é um problema dela. É da cidade, de como a urbe está concebida, onde já há muros e segregação.