domingo, 29 setembro 2024

Crescem publicações sobre suicídio na pandemia; saiba como buscar auxílio

Desde que se mudou para o mesmo terreno em que mora toda a família do marido, no interior do Paraná, Helena* (o nome foi trocado a pedido da entrevistada), de 23 anos, não conseguiu mais ser feliz. Longe de seus pais e dos irmãos, diz que detesta o lugar e que se sente sozinha.

“Tem horas que vem uma angústia. Dá vontade de sumir, de morrer, de se matar. Fazer alguma coisa para tirar isso de dentro. Meu marido tem espingarda, mas penso nos meus filhos. O menino é muito apegado a mim”, diz.

Publicações como a de Helena engrossam um levantamento feito pelo ComunicaQueMuda (CQM), plataforma digital da agência nova/sb que tem como foco propor debates sobre temas polêmicos. Este é o terceiro ano que o suicídio suscita pesquisa do CQM.

Por meio de menções no Twitter, no Instagram, no YouTube, no RSS e no Facebook, foi possível comparar que, enquanto em 2017 a principal conexão do tema era com o jogo “Baleia Azul”, e, em 2018, com a série “13 Reasons Why”, em maio passado os posts relacionados a suicídio foram provocados pelo isolamento social atual.

“O tema, assim como a tristeza, começou a aumentar nas postagens dos internautas. Em 2017, o assunto ainda era tabu, mesmo com quase 800 mil vítimas por ano, um suicídio a cada 40 segundos no mundo, e outras 20 tentativas para cada caso”, diz Bia Pereira, diretora da agência e coordenadora do CQM.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2014, 10.631 pessoas cometeram suicídio no Brasil.
A maioria é masculina: a cada dez suicídios, oito são de homens e dois, de mulheres. Para a OMS, 90% dos casos aqui e no mundo todo poderiam ter sido evitados.

Para obter os novos resultados, o CQM monitorou as redes brasileiras ao longo de 29 dias em maio de 2020 e contabilizou 103.923 menções ao tema. Dentro deste número, registrou aumento no número de depoimentos e relatos. De 6,3% em 2017, passaram para 23,5% em 2020. “Isso mostra que as pessoas estão mais confortáveis em falar sobre como se sentem”, diz a coordenadora.

“Suicídio tem a ver com um sofrimento insuportável que a pessoa acha que não vai acabar nunca. É preciso mostrar que é possível transformar essa esperança na morte em esperança de que a pessoa pode ser tratada, pode buscar outros caminhos, entender as coisas e reagir a elas”, explica Karen Scavacini, psicóloga cofundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.

Scavacini afirma que, ao se deparar com uma publicação como a de Helena, é preciso agir. No caso de desconhecidos, a melhor recomendação é utilizar as ferramentas de denúncia da plataforma onde o comentário foi postado.
Se a publicação for de um amigo, ofereça ajuda falando de forma privada, sem que ele seja exposto.

E, caso quem precise de ajuda seja você mesmo, Scavacini sugere a conversa com pessoas próximas e uma pesquisa por locais com atendimento gratuito online. “Tente também respirar fundo e fazer planos para, se possível, colocá-los em prática quando a pandemia acabar. Mas, mais do que tudo, seja atendido e avaliado por um profissional da área da saúde mental.”

Receba as notícias do Todo Dia no seu e-mail
Captcha obrigatório

Veja Também

Veja Também

Coaching gospel

Primavera Chegou!