Danielle explica que esse tipo de procedimento é muito delicado, só é feito quando a vida do feto está realmente em risco
Em maio deste ano, a médica Danielle Brasil, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília (DF), realizou um procedimento inédito no país ao retirar um tumor de um bebê que ainda estava sendo gestado no útero da mãe.
Semanas depois, a jornalista Polyana Resende Brant, 34 anos, deu à luz seu primeiro filho, Ragnar.
“Hoje ele está aqui cheio de saúde, mamando bem, dormindo bastante, crescendo forte, e é o que deixa a gente feliz e contente”, disse o pai, Tiago Brant.
Ainda na barriga da mãe, Ragnar passou por 2 cirurgias no segundo trimestre da gravidez, depois que exames confirmaram um tumor no tórax que estava comprimindo órgãos importantes da criança.
“A gente descobriu que ele estava com um tumor que é chamado de sequestro pulmonar, tumor irrigado pela aorta. Vários vasinhos alimentavam esse tumor e ele crescia progressivamente. Além disso, tinha derrame pleural, presença de líquido dentro da caixa torácica, e tudo isso estava empurrando e comprimindo coração, pulmão e esôfago”, lembrou Polyana.
Os pais procuraram especialistas obstetras em todo o Brasil e acabaram chegando na Dra. Danielle Brasil, que assim como eles, mora em Brasília (DF).
“Foi desesperador ter essa notícia de que o neném poderia vir a óbito, que esse tumor e derrame poderiam prejudicar o crescimento do coração, o desenvolvimento dos pulmões. A gente ficou bem desesperado. Mas mantivemos a fé e decidimos procurar pelos melhores”, contou a Polyana.
Danielle explica que esse tipo de procedimento é muito delicado, só é feito quando a vida do feto está realmente em risco.
“Assim, com uma agulha grossa que contém fibra de laser dentro, podemos queimar esse vaso. A gente entra com a agulha grossa tórax, [mas antes] anestesia o bebê, anestesia bem a parede do útero, e a barriga da mãe”, frisou a médica.
Antes da cirurgia, o tumor chegou a ter 2 vezes o tamanho da cabeça de Ragnar.
“Estava tão grande que comprimia os pulmões. Não dava para ver na ecografia. Estava desviando o coração, comprimindo o esôfago, e causou um quadro onde o neném fica inchado em várias partes do corpo. Então, o prognóstico era de óbito fetal se não houvesse uma intervenção”, disse Danielle.
Após uma primeira intervenção, que não foi o suficiente para remover por completa a massa, a médica optou pelo procedimento inédito, a laser, que “queimou” as vias de fornecimento sanguíneo do tumor, fazendo-o morrer gradativamente.
“Eu tenho um alvo móvel, que é o tumor, dentro de um alvo móvel, que é o bebê. A anestesia é para ele não sentir nada e ficar imóvel”, explicou a médica. “Quanto mais eu queimava o tumor, mais difícil ficava, porque a gente ia perdendo visibilidade. Mas a gente persistiu e queimou tudo que a gente conseguiu”.
Com o sucesso da operação, Polyana e Tiago decidiram batizar o filho de Ragnar, referência ao nome do guerreiro protagonista da série “Vikings”.
Ragnar está com o quadro de saúde estável e deve retornar daqui alguns meses ao hospital para exames de rotina.