quinta-feira, 18 abril 2024

Em clima de campanha, Bolsonaro repete a evangélicos acusação sem provas de fraude em eleição

No evento em Goiás, nenhuma obra foi inaugurada, mas houve reuniões com líderes políticos e econômicos locais e participação em um culto religioso 

O evento teve direito a pulseira com o lema da campanha de 2018 e desfile pela cidade com o presidente com o corpo projetado para fora do carro ( Foto: Alan Santos/PR)

O presidente Jair Bolsonaro tirou a quarta-feira (9) para realizar compromissos em tom de campanha eleitoral no interior de Goiás, onde voltou a fazer acusações sem provas de fraude nas eleições.

“Eu fui eleito [em 2018] no primeiro turno, eu tenho provas materiais disso, mas o sistema, a fraude que existiu, sim, me jogou para o segundo turno”, disse Bolsonaro, repetindo uma acusação que já fez outras vezes, sobre a qual já prometeu apresentar provas, mas sem nunca ter cumprido.

Em março de 2020, ao discursar para apoiadores brasileiros em Miami, Bolsonaro disse que tinha “provas” em “mãos”, “não apenas palavra”, de fraude na eleição e que iria mostrá-las “brevemente”. Mais de um ano depois, nunca apresentou nem sequer indícios para justificar seu discurso –visto por especialistas como uma retórica prejudicial à democracia.

No evento em Goiás, nenhuma obra foi inaugurada, mas houve reuniões com líderes políticos e econômicos locais e participação em um culto religioso. O evento teve direito a pulseira com o lema da campanha de 2018 e desfile pela cidade com o presidente com o corpo projetado para fora do carro.

Por volta das 11h, o mandatário embarcou em um helicóptero do governo –uma outra aeronave o acompanhou, como é praxe– e desceu em Goianápolis, onde almoçou com o cantor Amado Batista, que em uma entrevista no fim de maio chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ladrão. O PT ameaçou processar o artista.

Depois do convescote, as aeronaves decolaram novamente, desta vez para a vizinha Anápolis, a 150 km de Brasília.

Segundo o gabinete do deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), responsável pela agenda, ainda no aeroporto de Anápolis Bolsonaro conversou com membros da Associação Comercial e Industrial de Anápolis (ACIA) e representantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.

Depois, seguiu para a evangélica Church In Connection (Igreja em Conexão, em livre tradução), dos pastores Thiago e Késia Cunha. Antes do culto, a assessoria de Vitor Hugo disse que ele se encontraria com representantes dos segmentos econômico, agropecuário e leiteiro, com vereadores e secretários e com lideranças e prefeitos goianos.

Em seguida, acompanhado dos ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Milton Ribeiro (Educação) e do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), seu filho, o presidente seguiu para o culto.

A entrada da imprensa no local não foi autorizada, embora o evento político-religioso tenha sido transmitido ao vivo pela estatal TV Brasil.

Na mesa na entrada da igreja, identificada com um letreiro luminoso com a palavra church (igreja, em inglês), havia pulseiras de papel, como aquelas que se usava para entrar em festas, onde se lia o lema de campanha de Bolsonaro em 2018: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.

Sem poder entrar, jornalistas conseguiram entrar no cercado montado nos fundos do templo para isolar os apoiadores do comboio do presidente.

Ao chegar, Bolsonaro cumprimentou os eleitores e fez fotos. Ele sem máscara, mas parte das pessoas aglomeradas usavam o item de proteção.

De acordo com a equipe de Vitor Hugo, o culto interdenominacional contaria com a presença de pastores e membros de 20 igrejas de Anápolis: Church In Connection, O Caminho Cláudio Romero, Plenitude Church, Esconderijo do Altíssimo, Igreja Evangélica Efraim, Casa do Pai, IIR, Igreja de Cristo, AD Madureira, AD Anápolis, Igreja Quadrangular, Shalom Anápolis, Igreja MIVE, Igreja Vida Nova, Luz Para os Povos, Presbiteriana Renovada, Igreja New, Igreja de Cristo, Igreja Rio de Vida, e o vice-prefeito da cidade, pastor Marcio Candido.

Os evangélicos representam uma parcela importante do eleitorado bolsonarista.

Pesquisa Datafolha, porém, identificou que Bolsonaro e o ex-presidente Lula estão empatados na preferência desse eleitorado.

A pesquisa mostrou que, no primeiro turno da eleição, 35% dos evangélicos votariam em Lula. Bolsonaro marcou 34%. Num eventual segundo turno entre os dois, cada um recebe 45% das intenções de voto, ainda de acordo com a sondagem.

Diante de um telão que exibia uma Bandeira do Brasil, o pastor Tiago, Onyx e Vitor Hugo discursaram antes de chegar a vez de Bolsonaro.

O presidente criticou vacina, fez insinuações sobre a China, defendeu medicamentos que não têm efeito comprovado contra o coronavírus, invocou o fantasma do comunismo, falou de sua trajetória política, criticou a CPI da Covid, senadores e governadores, fez comentário homofóbico e voltou a colocar em dúvida o sistema eleitoral brasileiro.

Após falar em “fraude” na eleição de 2018, dizendo que teria sido eleito no primeiro turno, Bolsonaro afirmou: “Outras coisas aconteceram e eu só acabei ganhando porque tive muito voto e algumas poucas pessoas que entendiam de como evitar ou inibir que houvesse a fraude naquele momento, nos elegemos”.

No campo internacional, o presidente disse que venezuelanos estão chegando ao Brasil “a contragosto”, afirmou que “só um milagre para salvar a Argentina”, que “vai reassumir um cara do Foro de São Paulo” no Peru e chamou a atenção para a nova Constituinte no Chile.

“Você pode perder tudo, com liberdade você pode tudo reconquistar. Mas sem ela, a vida acabou. E a liberdade é mais importante que a própria vida. Uma pessoa sem liberdade não tem vida”, disse Bolsonaro, que afirmou que a fé é quem mantém os brasileiros vivos.

O primeiro a deixar o templo foi o ministro da Educação. Sem máscara, cumprimentou as pessoas e chegou a pegar uma criança no colo. Carlos Bolsonaro também foi bastante assediado.

Ao sair da igreja, Bolsonaro voltou a cumprimentar as pessoas e posar para fotos. Depois, foi até o limite das grades, onde estavam cinegrafistas e fotógrafos. Ao chegar neste ponto, apoiadores passaram a gritar palavras hostis aos jornalistas.

O presidente cumprimentou policiais militares escalados para o evento e saiu pela avenida Brasil Sul, na frente da igreja, com o corpo para fora do carro, acenando para as pessoas.

Por volta das 17h30, os helicópteros de Bolsonaro decolaram de volta a Brasília. Até o início da noite, a agenda oficial de Bolsonaro trazia apenas um compromisso além do culto -uma reunião com os ministros Paulo Guedes (Economia), general Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo), com duração de 30 minutos, pela manhã.

CONFIRA O QUE BOLSONARO JÁ DISSE SOBRE FRAUDE ELEITORAL

‘PERDER NA FRAUDE’

Em live, em setembro de 2018, quando se recuperava de facada

“A grande preocupação realmente não é perder no voto [a eleição presidencial], é perder na fraude. Então, essa possibilidade de fraude no segundo turno, talvez até no primeiro, é concreta.”

‘NÃO POR VOTO’

Em live, em outubro de 2018, antes do segundo turno das eleições

“Isso só pode acontecer por fraude, não por voto, estou convencido.”

‘VOTO IMPRESSO É SINAL DE CLAREZA’

Em novembro de 2019, após Evo Morales renunciar à Presidência da Bolívia

“Denúncias de fraudes nas eleições culminaram na renúncia do Presidente Evo Morales. A lição que fica para nós é a necessidade, em nome da democracia e transparência, contagem de votos que possam ser auditados. O VOTO IMPRESSO é sinal de clareza para o Brasil!”, escreveu nas redes sociais.

‘A DIFERENÇA FOI MUITO MAIOR’

Em live, em novembro de 2019, comentando a renuncia de Morales

“Todo mundo dizia que eu tinha tudo para ganhar as eleições na reta final. Eu tinha certeza disso e teve no final 55% para mim e 45% para o outro candidato. Muita gente achou que a diferença foi muito maior. Como um lado ganhou, e nas ruas todo mundo tinha essa convicção de que eu ia ganhar, não houve problema. Mas imagina se o outro lado ganha as eleições, como é que a gente ia auditar esses votos? Não tinha como auditar.”

SUPOSTAS PROVAS

Durante evento em Miami, em março de 2020

“Pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente [até hoje o presidente não apresentou o material], eu fui eleito no primeiro turno, mas, no meu entender, teve fraude. E nós temos não apenas palavra, temos comprovado, brevemente quero mostrar, porque precisamos aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos. Caso contrário, passível de manipulação e de fraudes (…).”

‘VÃO QUERER QUE EU PROVE’

Em novembro de 2020, após votar no pleito municipal

“A minha eleição em 2018 só entendo que fui eleito porque tive muito, mas muito voto. Tinha reclamações que o cara queria votar no 17 e não conseguia. Vão querer que eu prove. É sempre assim. O cara botava um pingo de cola na tecla 7, um tipo de adulteração.”

‘TEVE MUITA FRAUDE LÁ’

Em novembro de 2020, comenta as eleições americanas após votar no pleito municipal

“Tenho minhas fontes [que dizem] que realmente teve muita fraude lá. Isso ninguém discute. Se foi suficiente para definir um ou outro, eu não sei.”

‘É NO PAPELZINHO’

Em conversa com apoiadores, em dezembro de 2020, dá informação falsa sobre as eleições para Presidência da Câmara dos Deputados, que adota sistema eletrônico desde 2007

“O que é comum na Câmara, não sei como está agora. As eleições na Mesa [Diretora], para presidente, é no papelzinho. Não sei como vai ser esta agora.”

PIOR QUE OS EUA

Em janeiro de 2021, ao comentar invasão do Congresso americano

“Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos.”

“Lá [EUA], o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente lá que votou três, quatro vezes, mortos que votaram. Foi uma festa lá. Ninguém pode negar isso daí.”

NÃO APENAS ESTE VOTO ELETRÔNICO

Em 8 março de 2021, em entrevista à Rede Bandeirantes

“Não tem problema. Gostaria de enfrentar qualquer um, se eu vier candidato, com um sistema eleitoral que pudesse ser auditado, no caso aí um voto impresso ao lado da urna eletrônica, e não apenas este voto eletrônico que está aí, porque muita gente, cada vez mais, reclama dele. E nós queremos umas eleições onde não deixe dúvidas. A preocupação nossa é enorme no tocante a isso aí.”

SÓ GANHA NA FRAUDE

Em 14 maio de 2021, em evento de entrega de títulos de posse de terra em Terenos (MS)

“Um bandido foi posto em liberdade, foi tornado elegível, no meu entender para ser presidente. Na fraude. Ele só ganha na fraude no ano que vem.”

SE NÃO TIVERMOS VOTO AUDITÁVEL

Em 15 de maio, ao comparecer a uma manifestação de ruralistas na Esplanada dos Ministérios

“Se tiraram da cadeia o maior canalha do Brasil e se a esse canalha foi dado direito de concorrer, o que me parece é que se não tivermos voto auditável, esse canalha, pela fraude, ganha as eleições do ano que vem.”

ALGUNS DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA DA URNA

Uso de criptografia

Código certifica que o sistema da urna é o gerado pelo TSE e não foi modificado

Somente o sistema do TSE pode funcionar na urna

O sistema da urna fica disponível para consulta pública por seis meses

Em Testes Públicos de Segurança, especialistas tentam hackear o equipamento e apresentam as falhas encontradas para o TSE corrigir

Urnas selecionadas por sorteio são retiradas do local de votação e participam de uma simulação da votação, para fins de validação

Sistema biométrico ajuda a confirmar identidade do eleitor

“Log”, espécie de caixa-preta, registra tudo o que acontece na urna

Impressão da zerésima e boletim de urna

Processo não é conectado à internet

Lacres são colocados na urna para impedir que dispositivos externos (como um pendrive) sejam inseridos 

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