quinta-feira, 25 abril 2024

Morre Toni Morrison, primeira negra a ganhar o Prêmio Nobel, aos 88

A escritora Toni Morrison, vencedora do Nobel de Literatura de 1993, morreu na noite de segunda (5), aos 88 anos. Ela foi a primeira mulher negra a ganhar o prêmio. A informação foi confirmada pela sua editora, em uma publicação no Twitter. “Sua narrativa e sua prosa hipnotizante deixaram uma inegável marca em nossa cultura”, escreveu.

Nascida no estado de Ohio, ela ficou conhecida por obras que descrevem os obstáculos políticos e sociais enfrentados pela comunidade negra ao longo da história americana. Sua narrativa mistura as vozes de homens, mulheres, crianças e até fantasmas em camadas de polifonia. Mito, mágica e superstição estão interligados com verdades cotidianas, uma técnica que levou suas obras a serem comparadas ao realismo fantástico de Gabriel García Márquez.

Em “O Olho Mais Azul”, seu romance de estreia publicado em 1970 nos Estados Unidos, Morrison conta a história de Pecola Breedlove, uma moça negra que sonhava em ser loira e de olhos azuis como a atriz Shirley Temple. A escritora tinha quase 40 anos. “Se o parâmetro de beleza já foi ter a pele cor de marfim, com a qual sonhava Pecola, hoje é das bronzeadas que se gosta mais. Meus estudantes em Princenton, por exemplo, têm vergonha de muita brancura. Os códigos de pele mudaram, e o Brasil é o ideal nesse aspecto, o como verifiquei aí, em 1990”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo em 2003.

Em agosto de 1990, ela esteve no país para lançar o romance “Pérola Negra”. Na ocasião, deu uma palestra no auditório da Folha de S.Paulo, onde havia dito que ficava irritada no começo de sua carreira quando se referiam a ela como uma escritora negra. “Mas depois, comecei a pensar: o que eu preferia, ser um escritor branco? Hoje acho esse título uma glória.”

Morrison também ganhou o prêmio Pulitzer, em 1988, pelo seu romance “Amada”. A história é baseada em um artigo do século 19, encontrado pela autora, sobre uma escrava fugitiva chamada Margaret Garner que matou sua filha recém-nascida quando estava prestes a ser capturada. Em 1998, a obra recebeu uma adaptação cinematográfica com Oprah Winfrey. A apresentadora era amiga e admiradora da escritora, assim como Barack Obama. Em 2012, Morrison recebeu do ex-presidente a condecoração Medalha Presidencial da Liberdade.

Com sua ficção sobre as conflituosas relações de negros e brancos no país, ganhou o apelido de Pantera Negra, em analogia ao grupo que inseriu com força o debate das questões raciais na sociedade americana. Morrison foi casada com o arquiteto jamaicano Harold Morrison, com quem teve dois filhos, mas o casal se divorciou em 1964. Ela deixa o filho Harold Ford Morrison e três netos. Seu outro filho, Slade, com quem ela colaborou em textos de livros infantis, morreu em 2010.

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