quinta-feira, 18 abril 2024

Crise estimula adoção, mas também eleva abandono de pets

Levantamento de ONG aponta maior número de adoções na pandemia, mas também mais abandono 

Thiago Rodrigues, da AAANO (Divulgação)

 Florença passou 17 anos do lado da professora Lúcia Helena Rodrigues, até deixá-la por uma doença renal. A falta da gata, no início de 2021, fez com que ela se interessasse pela história de Meg, que agora divide o apartamento com a professora. A gata havia sido abandonada em uma horta e por conta de duas gravidezes está fraca. Além disso, os filhotes eram adotados com facilidade, enquanto Meg permanecia sem um tutor. Em 10 de março, no meio da pandemia, Lúcia resolveu levar Meg para casa.

“Fui ganhando a confiança dela com carinho e paciência e hoje ela dorme comigo e me acorda com um lambeijo”, comenta.
Lúcia não é a única que acolheu um pet durante o isolamento social. Uma pesquisa da ONG (Organização Não-Governamental) Ampara Animal mostra que tanto a adoção quanto o abandono de animais de estimação cresceram durante o último ano.
Entre os três primeiros meses de pandemia, um levantamento entre ONGs apontou um aumento de 80% nas adoções. No entanto, até o final do primeiro semestre de 2021, a média de abandono foi em torno de 70%.
“Infelizmente uma parte destas pessoas que adotaram mais no início da pandemia, principalmente aquelas que adotaram por impulso, estão devolvendo para as ONGs e outras estão abandonando. A crise econômica e social exacerbou um problema antigo, que é a falta de responsabilidade das pessoas com os animais. Então quando a pessoa está passando por um momento difícil, a primeira coisa que ela faz é abandonar o mais vulnerável”, comenta Rosângela Gebara, gerente de projetos da Ampara Animal.
“Claro que tem situações muito complicadas, muito tristes e a pandemia afeta a vida de muitos, mas sempre vemos casos de pessoas que fazem de tudo para ficar com seu animal e que continuam cuidando dele, ou pessoas que em último caso procuram de maneira responsável alguém que possa cuidar na família. Nunca devemos abandonar ou deixar de procurar assistência”, completa.
Rosangela lembra que abandono é crime previsto pela lei federal 9.605 e passível de punição. As penas podem variar de 2 a 5 anos de prisão, multa e perda definitiva da guarda.
Estima-se que há 54,2 milhões de cães e 23,9 milhões de gatos no país. “Não há dados oficiais de quantos animais abandonados existem no Brasil, mas há estimativas de 30 milhões de cães e gatos. Existem mais de 370 ONGs espalhadas com mais de 170 mil animais”, informa a gestora. “Acredito que falta muita política pública para os animais em situação de abandono. O abandono é responsabilidade do poder público e da sociedade em geral. Animais auxiliam em muitos aspectos da vida social de crianças e adultos. O animal é uma cura. Acredito que deveria fazer parte do currículo escolar”, comenta a professora Lúcia Helena.
A dona de casa Silvana Marques dos Santos conta que já abandonou uma gata, há cerca de 20 anos. A filha, Dalila, 25, foi diagnosticada com uma alergia ainda bebê e o médico orientou-a a se desfazer do animal. “Na época eu não soube o que fazer e a abandonei. É um episódio que não consigo esquecer e acho que isso me motiva um pouco a adotar”, diz Silvana, que hoje possui cinco animais adotivos. O mais recente é o gato Fofão, adotado no início deste ano. “Ele veio para casa, mas tem data de mudança. Minha filha vai levá-lo assim que se casar, no final do ano que vem.”

Associação luta para apoiar os animais

Presidente da Associação dos Amigos dos Animais de Nova Odessa (AAANO), o jornalista Thiago Rodrigues passou a se envolver com a causa animal por influência do namorado, em 2015, e desde o início deste ano está à frente da instituição. Ele afirma que o número de adoções na cidade não acompanha o número de resgates.

A AAANO possui em seu abrigo 500 animais (350 cães e 150 gatos) em um espaço de 17 mil metros quadrados, cedido pelo estado. Um convênio com a prefeitura ajuda a ONG a custear as quase 5 toneladas mensais de ração. Os outros custos são pagos com o que é arrecadado com campanhas e com a ajuda de voluntários, que hoje somam 40 pessoas. A entidade registrou um aumento de 25% no número de adoções na cidade. “Hoje não resgatamos mais animais. Ajudamos orientando as pessoas sobre como proceder nesses casos. Nosso foco é viabilizar a adoção dos animais”, comenta.

O bom exemplo de quem cuida dos bichos de forma voluntária

Além das ONGs voltadas à causa animal, inúmeras pessoas atuam sem o respaldo de entidades. É o caso da monitora de educação infantil Daniele Rodrigues. Ela começou o trabalho há cerca de 8 anos e hoje alimenta quatro colônias de gatos de rua em Santa Bárbara d’Oeste.
“Trabalhava em uma creche onde apareceu um filhote, que hoje é uma das gatas que moram comigo, e lá ela não teve uma recepção. Jogaram água sanitária nela. Foi quando resolvi trazê-la para casa. Naquele momento eu senti que precisava fazer alguma coisa a mais.”
Daniele mantém atualmente o projeto “Coração Felino” voltado ao resgate e adoção animal. É ela quem prepara a ração dos animais que alimenta toda a manhã. A maior parte dos custos também são dela. “Às vezes, faço uma rifa, além de vender camisetas e canecas do projeto”.

Daniele pretende ampliar o seu projeto, assim como conscientizar as pessoas sobre o abandono, “Não se abandona quem depende exclusivamente de você”, diz.

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