O investimento em impulsionamento de conteúdo na internet pelos candidatos a deputado estadual e federal nas cidades da região varia de R$ 100 a R$ 130 mil. O levantamento foi feito pelo TODODIA com base nos dados do Divulgacand, sistema de divulgação de candidaturas do TSE (Supremo Tribunal Eleitoral). As cidades consideradas foram Americana, Campinas, Hortolândia, Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré (leia opinião de especialista na página 8).
Dos 43 candidatos que disputam o cargo estadual, 10 utilizaram impulsionamento de conteúdo. Segundo o TSE, essa categoria engloba tudo que for impulsionado por meio de internet, seja Facebok, Instagram, Google, entre outras mídias sociais.
O candidato estadual que mais investiu no impulsionamento foi o já deputado Cauê Macris (PSDB), com R$ 130 mil. O atual presidente da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) também investiu R$ 185 em criação e inclusão de páginas na internet. O político é disparado o candidato que mais dinheiro colocou na internet, tanto entre os candidatos estaduais quanto os federais.
“A população também está na internet. A opção por ampliar a disseminação do conteúdo de campanha nas redes sociais vem ao encontro de uma campanha limpa e da modernidade. Além de poder direcionar nossa prestação de contas para o público das cidades que representamos, cada cidadão e cidadã tem a facilidade de, na palma da mão através dos smartphones, conhecer mais nossos trabalhos e propostas”, afirmou Cauê.
De acordo com sua assessoria de imprensa, o valor referido é uma estimativa máxima de investimento. “No momento não atingimos este valor. As redes sociais são ferramentas legais dentro da campanha eleitoral e facilitam o contato com o eleitor”, ressaltou a assessoria da campanha.
O segundo candidato a deputado estadual que mais investiu em impulsionamento foi vereador de Campinas Rafa Zimbaldi (PSB), com R$ 13.500. O que menos gastou foi Madalena Santos (PSOL), de Hortolândia, com R$ 100 em impulsionamento.
Quatro candidatos investiram ao mesmo tempo recursos para criação e inclusão de páginas na internet: Mariana Conti (PSOL), Cauê Macris (PSDB), Chico Sardelli (PV) e Davi Zaia (PPS).
FEDERAL
Já entre os 50 candidatos a deputado federal, 15 utilizaram impulsionamento de conteúdo. Três deles também investiram na criação de inclusão de páginas na internet: Luiz Lauro Filho (PSB), Marcela Moreira (PSOL) e Luiz Carlos Rossini (PV).
A candidata que mais investiu no impulsionamento foi a vereadora de Americana Maria Giovana Fortunato (PCdoB), com R$ 19.700, o segundo maior valor entre os candidatos das duas esferas, atrás apenas de Cauê Macris. Ela acredita que a internet é a melhor forma de ter contato direto com a população.
“A gente decidiu fazer investimento na internet porque a gente acredita que mudar a maneira de fazer campanha é essencial para romper com o sistema de política atual. Anda existe muita compra de liderança, compra de voto. Ao nosso ver, a internet é o meio mais democrático para apresentar nossas ideias de forma mais direta para a população”, afirmou Maria Giovana.
O político que fez o menor investimento foi o também vereador de Americana Guilherme Tiosso (PROS), com R$ 500.
Investimento maior no virtual
A única candidata tanto estadual quanto federal que aplicou a maior parte de seus recursos de campanha na internet foi a ex-vereadora de Campinas Marcela Moreira (PSOL), com R$ 11.003, incluindo impulsionamento de conteúdo e inclusão de página na internet. A escolha partiu de um entendimento de que o seu perfil combinava com o do público que está nas redes sociais.
“A avaliação que fizemos é que já sou conhecida na cidade de Campinas por já ter sido vereadora de 2005 a 2008. Mesmo não tendo mais cargo continuei na militância, fui candidata a prefeita na última eleição. Com essa visibilidade de 18 anos, entendemos que a internet nos ajudaria a fazer com que as pessoas soubessem que sou candidata”, comentou Marcela.
A candidata contou que as duas mídias principais para impulsionamento foram Facebook e Instagram. Além de suas propostas, o recurso também foi investido para aumentar o alcance das postagens sobre eventos em que ela fosse participar ou estar presente.
“A pessoa acaba indo (ao evento) e me conhece pessoalmente. (…) Meu perfil de candidatura é um perfil muito forte na rede social. Sou mulher, feminista, defensora dos direitos dos animais, dos direitos humanos, de combate ao conservadorismo e ao fascismo. Percebo que as pessoas que utilizam a internet tem um perfil de possíveis eleitores, que podem se identificar”, argumentou a candidata.
Recursos ficam com empresas de fora, analisa professor
Para o professor de Propaganda Política do Claretiano, de Rio Claro, Paulo D’Elboux, as mudanças nas regras para realizar propaganda político-eleitoral beneficiaram empresas estrangeiras que controlam as redes sociais mais utilizadas no País. Como exemplo disso, ele citou o Facebook e o Instagram, que pertencem ao mesmo dono.
“Eu acho uma injustiça. Estão levando o dinheiro dos nossos veículos (de mídia), que tem uma restrição enorme de coisas que não podem fazer. O site do jornal não pode vender um banner de anúncio. (…) É dinheiro público, do fundo partidário, indo para empresas de fora”, afirmou.
No caso dos jornais impressos, por exemplo, existem limitadores. “São permitidas, até a antevéspera das eleições, a divulgação paga, na imprensa escrita, e a reprodução na internet do jornal impresso, de até 10 (dez) anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas diversas, para cada candidato, no espaço máximo, por edição, de 1/8 (um oitavo) de página de jornal padrão e de 1/4 (um quarto) de página de revista ou tabloide”, traz a resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O professor ressalta que essa será a primeira eleição no Brasil em que as mídias sociais podem, de fato, ter um peso no resultado final. “Antes dessa eleição não tinha ninguém eleito pelas mídias sociais no Brasil comprovadamente. Todo mundo fazia investimento muito mais na contrapropaganda ou para ficar controlando o que falavam de mal. Existe um grande problema de credibilidade nas mídias sociais. Então vai ser uma novidade para nós”, avaliou.
Para especialista, campanha desse ano é um ‘divisor de águas’
Para o doutor em Ciências da Comunicação e professor na PUC (Pontifícia Universidade Católica) Campinas, Victor Corte Real, essas eleições serão um “divisor de águas” para o futuro dos investimentos da campanha na internet. Ele explica que nas eleições municipais de 2016 tal modalidade já começava a ser utilizada, mas a deste ano é importante pelo aspecto geográfico.
“É uma eleição que (os votos) na própria cidade não costumam ser suficientes para eleger um candidato. Considerando uma abrangência muito maior geograficamente, (o impulsionamento) acaba entrando como uma maneira de encurtar essas distâncias. (…) O cenário dessa eleição ainda está em fase de testes, com algumas iniciativas um pouco mais efetivas”, analisou Real.
O professor explica que já é possível perceber os efeitos das campanhas na internet devido à baixa variação que as intenções de voto sofreram com a entrada da propaganda eleitoral obrigatória na TV e no rádio. “Sinaliza que as mídias tradicionais eletrônicas já não são tão determinantes quanto foram em outros períodos. Já houve essa migração para a internet”, disse.
Apesar dos investimentos de forma geral não serem tão altos no impulsionamento de conteúdo quanto em outras frentes, como panfletagem, o especialista acredita que é um erro pensar que esse tipo de campanha seja uma alternativa necessariamente mais barata. “De forma geral foram muito mais baixos, até porque há menos dinheiro nessas eleições, mas o que parece é que ainda há uma expectativa no ar de que dá para gastar pouco e fazer estratégia de web, o que não é verdade. É necessário investimento para ter maior visibilidade. A importância das redes é efetiva, o que precisa amadurecer é o uso estratégico dessas redes”, afirmou Real.
Em uma eleição com menos recursos disponíveis, faz sentido olhar para a internet como uma forma de chegar até seu público alvo. “Para um candidato que tem recurso mais limitado, de repente um investimento que pode parecer pequeno para outros pode ser suficiente para atingir a base que ele pretende. Se ele já tem uma base consolidada, consegue que esse público esteja consolidado e espontaneamente repercuta (sua campanha)”, comentou.