O Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, foi palco de uma operação logística diferente ontem para receber uma passageira especial: Ramba, uma elefanta de 3.600 quilos que chegou em um Boeing vindo do Chile, e desembarcou em solo campineiro rumo a uma nova vida.
O animal, de 53 anos, era o último de um circo desativado no país andino e, depois de anos de maus-tratos, foi resgatado após uma comovente campanha promovida por uma ONG (Organização Não-Governamental), que mandou buscar a elefanta para que ela viva a partir de agora no Santuário de Elefantes Brasil (SEB), uma reserva mantida na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.
Ramba estava em um celeiro de um parque safári em Rancágua, no Chile, atrás da Cordilheira dos Andes. Em uma complexa operação, que envolveu um guindaste para o transporte do animal em uma caixa especial – tipo contêiner, já utilizada antes para resgate de outros elefantes levados ao SEB – Ramba foi transportada até o aeroporto de Santiago, onde foi colocada no avião ontem por volta das 3h.
A carga especial chegou em Campinas pela manhã, foi desembarcada do avião e colocada novamente em um caminhão com destino à Chapada dos Guimarães, onde deve chegar somente nesta sexta-feira (18), por conta das paradas. São aproximadamente 1,5 mil quilômetros de Viracopos até o santuário.
Algumas fazendas foram contatadas em pontos estratégicos do percurso, para eventual abertura da caixa com a elefanta. Médicos veterinários e policiais rodoviários federais acompanham o trajeto.
CAMPANHA
Toda a operação está sendo bancada com R$ 87 mil arrecadados em uma campanha pela Internet, que teve doações de 997 voluntários. A ação de resgate é coordenada por Scott e Katherine Blais, americanos que são os atuais diretores do Santuário dos Elefantes Brasil.
Criado em 2012, o SEB é o primeiro lugar em toda a América Latina destinado à conservação desses animais. Está localizado em uma antiga fazenda de gado em Rio da Casca (MT) e possui 1.100 hectares, equivalente a sete parques Ibirapuera.
Na fazenda adaptada com área médica, tanques de água e setor de alimentação, as elefantas recebem cuidados diários e têm espaço de 29 hectares para percorrer – apenas as áreas adaptadas são permitidas aos animais, para que possam ter o acompanhamento adequado.
SAIBA MAIS
O Santuário de Elefantes Brasil (SEB) é uma organização sem fins lucrativos que ajuda a transformar as vidas e o futuro dos elefantes cativos na América do Sul. A Instituição foi criada em 2012, está localizada no Mato Grosso e tem como objetivo resgatar elefantes cativos em situação de risco, oferecendo a eles espaço, condições e cuidados necessários para que possam se recuperar fisicamente e emocionalmente dos anos passados em cativeiro. Informações em www.facebook.com/santuariodeelefantes
A OPERAÇÃO
chegada DE Ramba a Viracopos
A caixa de transporte utilizada para trazer a elefanta do Chile já tinha sido construída no Santuário de Elefantes Brasil (SEB), para o transporte das primeiras habitantes do local, resgatadas em 2016. Um caminhão levou a caixa, tipo conteiner, até o parque a 97 km de Santiago, no Chile, onde a elefanta estava desde meados de 2011. A caixa foi colocada no habitat do animal, para que Ramba se acostumasse a entrar e ficar dentro dela. Com o animal adaptado após vários dias, a caixa foi içada por um guindaste, colocada em uma carreta e levada até o aeroporto de Santiago, onde embarcou rumo a Viracopos, em Campinas. Em solo brasileiro, Ramba segue agora em um caminhão até o SEB, na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, a cerca de 1.500 km de Campinas, onde deve chegar amanhã (18).
TRANSPORTE | A caixa com o animal no avião
UMA VIDA DE MAUS-TRATOS NOS CIRCOS
A elefanta Ramba, carinhosamente chamada de “Rambita”, tem 53 anos e foi comprada na Ásia e levada em 1980 para a Argentina.
No final daquela década, começou a se apresentar em vários circos, onde vivia acorrentada e forçada a participar de apresentações no picadeiro.
Chegou ao Chile em 1995, para ser utilizada no “Los Tachuelas”, o circo mais famoso do país. Dois anos chegou a ser confiscada pelo Serviço Agrícola e Pecuário do Chile por questões relacionadas a abusos, maus tratos e posse ilegal de animais.
Em 2012 a ONG chilena Ecópolis, soube que Ramba estava na cidade com o circo e, após o impacto da triste situação em que se encontrava, começou uma campanha para seu resgate.
Por ordem judicial, Ramba foi removida do circo naquele ano e levada ao Parque Safári Rancágua, onde permanecia em um pequeno celeiro até ontem.
Ramba tem inúmeras cicatrizes devido ao uso de correntes e sofre de problemas renais crônicos, devido à falta de água potável – herança da época de circo.
