quinta-feira, 25 abril 2024

Shyamalan lança ‘Tempo’, inspirado nos quadrinhos

Questão climática e o distanciamento familiar dão a temática da obra baseada na HQ “Castelo de Areia”

TEMPO/ Suspense e Famílias perdidas com corpos numa praia fazem enredo do filme (Foto: Divulgação)

Quando era pequeno, o autor e diretor de cinema francês Pierre Oscar Levy, hoje com 66 anos, ia todas as férias para a praia de Gulpiyuri, na Espanha. O local, no entanto, parecia estranho, já que vivia sempre vazio. Com o passar dos anos, ele começou a trazer a ideia de uma história, em que o tempo se passava rápido demais dentro daquele ambiente.

A ideia inicial era fazer um filme com partes gravadas ano a ano – próximo ao que foi feito em “Boyhood: Da Infância à Juventude”, de Richard Linklater, e em “Alguma Coisa Assim”, de Esmir Filho e Mariana Bastos. Logo que contou para um produtor, a resposta foi bem direta -“impossível”. É o que Levy conta, às risadas, em entrevista por videoconferência.

Toda essa trama acabou, quase 40 anos depois, sendo adaptada no quadrinho “Castelo de Areia”, relançado no Brasil pela editora Tordesilhas. A HQ também ganha as telas dos cinemas agora, numa adaptação do diretor M. Night Shyamalan. Isso poderia até ter acontecido antes – já houve outras seis propostas para uma adaptação em longa-metragem. Mas a questão financeira pesou para só o suspense de Shyamalan ter ido para frente.

A sinopse é a mesma, com duas famílias chegando até uma praia e encontrando um corpo. Lá, elas começam a perceber o tempo mais acelerado, tentam desvendar o que aconteceu e como sair desse ambiente. Mas a forma como a história passou da sétima para a nona arte tem nome e sobrenome – Frederik Peeters.

O quadrinista suíço lançou, há 20 anos, a graphic novel “Pílulas Azuis”, publicada aqui pela Nemo. Logo que leu, três dias depois de sair nas lojas, Levy ficou apaixonado, conversou com Peeters e comprou os direitos de adaptação para as telonas.

O filme nunca saiu do papel, mas resultou numa amizade. Então, em 2010, Levy escreveu o roteiro de “Castelo de Areia” e enviou para o suíço, que topou na hora desenhar. Isso foi num sábado – no domingo, o contrato de publicação estava assinado. “Eu acabei transformando a derrota de nunca ter feito o filme em uma vitória”, conta Levy.

O trabalho original que inspira “Tempo” tem duas discussões, a questão climática e o distanciamento familiar, estando o primeiro bem mais em evidência. “Para mim, ‘Castelo de Areia’ é sobre a era da natureza. Quando eu era criança já sabia dos problemas climáticos. Toda a minha vida estive envolvido dentro desse debate”, diz o autor. “É complicado quando você sabe de um problema que vai acontecer durante toda a sua vida e não vê ninguém fazendo nada para mudar isso”.

O despertar em Levy foi em 1967, quando leu o segundo volume do quadrinho “Valerian”, uma pequena narrativa em que Nova York fica sob as águas. No ano seguinte, viu na TV uma reportagem sobre a possível inundação de diversas cidades, como Tóquio e Bancoc.

“Quando soubermos que seremos extintos, vamos nos sentir como os personagens naquela praia, cheios de medo”, diz.
“Precisamos enxergar a natureza como nossa mãe. Por isso, precisamos também de histórias que tragam soluções para esse problema”. Sobre o distanciamento da família, o artista conta que viveu isso na pele, em especial o sentimento de “como as crianças são deixadas completamente sozinhas por adultos”.

A ideia para o personagem Charles veio de uma particularidade da sua família, o fato de seu pai ser um fascista declarado. Dali saiu a inspiração para o homem que põe a culpa de toda a situação numa pessoa negra, que já estava na praia antes de as famílias chegarem ali. Na adaptação para os Estados Unidos, esse personagem será mexicano.

“Castelo de Areia” é um quadrinho que não termina com muitas explicações – ao menos não diretamente.

A ideia original do roteiro era trazer um elemento de dominação do governo, algo que acabou não acontecendo, já que Pierre Oscar Levy havia pensado numa trilogia, mas Peeters nunca a aceitou fazer.

O segundo volume até esteve próximo de ir para frente, mas foi rejeitado. Se essas histórias vão aparecer no futuro, o autor duvida muito, porém diz que não tem como prever. “Talvez as pessoas acabem nunca sabendo o que realmente aconteceu ali”, sugere.

(Claudio Gabriel)

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