quinta-feira, 18 abril 2024

Aulas virtuais causam polêmica

Com a suspensão das aulas nas escolas públicas e privadas, alunos começaram a receber em casas atividades pedagógicas e aulas virtuais. As tarefas são preparadas pelos professores, e disponibilizadas pela Internet.

Embora boa parte das plataformas digitais públicas se concentrem na revisão de conteúdos dados em aula, e não exijam entrega de atividades, por exemplo, há escolas privadas – muitas – que exigem dedicação integral dos estudantes, mesmo online.

Existe, por parte dos estabelecimentos, a preocupação em cumprir o decreto do governo federal, exigindo o cumprimento de 800 horas-aula no ano letivo, apesar de abrir mão (por conta do isolamento social) do cumprimento do período legal mínimo de aulas (200 dias).

Mas as aulas virtuais – alternativa encontrada pelas escolas em um momento inédito – recebe críticas severas dos educadores. Até porque o método provocou a maior confusão dos lares.

Primeiro, muitos pais trabalham de casa na quarentena, remotamente. Já de cara, muitas vezes o único computador da casa precisa ser dividido entre três ou quatro pessoas. Segundo, porque os genitores precisam ajudar os filhos na tarefa, com a ausência física do professor. Muitas vezes os pais não dominam os conteúdos programáticos, ou os recursos tecnológicos da plataforma digital.

‘ERROS VIRTUAIS’

Segundo a doutora em psicologia escolar pela USP (Universidade de São Paulo), a americanense Luciene Paulino Togneta, o momento exige muita flexibilidade dos colégios no desenvolvimento das plataformas. Para ela, não se deve simplesmente adaptar o conteúdo da sala de aula às atividades desenvolvidas à distância, em casa.

“É preciso pensar no que é importante para o aluno agora, em uma situação tão atípica”, disse.

Para ela, as escolas precisam descobrir como elas podem ajudar as famílias. “O pai não é e nem nunca vai ser um bom professor. O colégio precisa pensar como pode ajudar a criança em um momento de isolamento, de estresse, com famílias preocupadas”, disse.

Luciene, aliás, fez parte de um seminário de debates sobre o tema na última semana, que envolveu educadores das universidades públicas do Estado de São Paulo.

Como coordenadora do Cepem (Centro Especial de Pesquisas sobre Educação Moral) na Unesp (Universidade Estadual Paulista), ela explicou que, durante esse momento nervoso, as crianças precisam ser estimuladas a brincar, a ter atividades leves.

“Não se pode atribuir aos pais, neste momento, a missão de trabalhar conteúdos que eles não dominam”, disse.

“No momento, é mais importante ter famílias saudáveis. E preservar a saúde mental das pessoas é o que importa agora.”

APRENDIZADO

Luciene lembra que as crianças de hoje, “nativos digitais”, também foram pegos de surpresa com a quarentena. “A escola nunca usou as ferramentas digitais para desenvolver relações humanas saudáveis”, diz.

“O desafio da educação é trabalhar a sociedade para um novo mundo, completamente diferente do que vivemos até hoje”, completa.

A dignidade humana, afirma, mais que nunca precisa estar acima dos conteúdos programáticos. E a escola, que não trata das demandas do cotidiano – como a pandemia, no caso atual – precisa aprender a como difundir valores como empatia, respeito e autonomia, dentro do desenvolvimento infantil.

“Neste momento, não podemos dar atividades para que a criança faça e mande para a professora corrigir”, resume. “A vida virtual, explica, ainda é fruto das velhas relações estabelecidas pelo mundo real, e que nunca levaram em consideração as relações humanas”.

Prefeituras disponibilizam plataformas

Secretarias de Educação da região abastecem as plataformas digitais com programas que disponibilizam atividades complementares que possam envolver as famílias em um ambiente mais saudável de estudos.

Em Nova Odessa, a plataforma “Aprender em Casa”, além das disciplinas de cada faixa etária, há sugestões de jogos e brincadeiras, inclusive com vídeos e ilustrações lúdicas ensinando a prevenção ao coronavírus. Os pais participam lendo histórias e interagindo.

A Secretaria de Educação de Sumaré desenvolveu uma nova plataforma digital para as aulas, onde nenhum aluno se preocupa em entregar tarefas. A busca é apenas por manter uma rotina diária de estudos, revisando atividades e mantendo o hábito da leitura. A mesma plataforma vai permitir que as famílias acompanhem on line o cotidiano escolar dos filhos.

A Prefeitura de Hortolândia está organizando blogs com atividades da Base Nacional Comum Curricular, de acordo com a idade e o ano escolar de cada aluno. Mas, pensando nos alunos que não têm acesso facilitado à Internet nem a computador em casa, as escolas entregarão livros didáticos com atividades pedagógicas às famílias. O objetivo é que, neste período de aulas suspensas, os pais se envolvam com a rotina escolar.

Americana tem, em fase de testes, uma estrutura digital que será disponibilizada nas escolas da rede pública, reforçando os vínculos dos alunos com os professores e as famílias.

Além dos recursos da plataforma, serão sugeridos cartilhas impressas, vídeos e filmes. A busca, segundo a Secretaria Municipal de Educação, é de formas criativas de vivência e atividades, adaptadas ao cotidiano das crianças.

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