As rugas chegam, os cabelos brancos aparecem. E muitos idosos um dia precisam ser acolhidos em clínicas ou casas de repouso. Locais onde eles recebem atenção especial. São ouvidos, tratados, amparados. Mas ninguém podia imaginar que o mundo ia enfrentar uma pandemia. Os abrigos tiveram de se adaptar rapidamente, e adotaram medidas para eliminar riscos de contaminação.
Salas desinfectadas, jalecos especiais, máscaras, luvas, álcool em gel nas mãos. Mas a solidariedade é o ingrediente mais importante.
Os funcionários – enfermeiros, faxineiras, cozinheiras – se tornaram a família dos velhinhos que, isolados, nem podem receber a visita de parentes.
No Benaiah, por exemplo, onde estão acolhidos 38 idosos, uma equipe de 12 funcionários se ofereceu, voluntariamente, para permanecer em quarentena, ao lado dos idosos. Deixaram pais, filhos e amigos do lado de fora, e se ofereceram para morar dentro do abrigo, até a epidemia acabar.
“Não existe risco algum de um funcionário trazer o vírus aqui para dentro. Estamos isolados, fazendo companhia para nossos abrigados”, diz a coordenadora Enara Crepaldi Seco, que também assumiu afazeres na cozinha e na limpeza. Todos se ajudam.
Foi uma forma encontrada para atenuar o isolamento ao qual os idosos são submetidos. “Fizemos até uma festinha com bolo e guaraná para comemorar os 58 anos do abrigo. Tudo para alegrar o ambiente”, disse.
O mais curioso é que ela e o presidente da casa, Hélio de Oliveira Camargo, faziam seguidas reuniões para planejar o esquema alternado de trabalho dos funcionários, de forma a reduzir os riscos de contaminação. Mas o plano nem estava definido quando o grupo de voluntários se ofereceu para a quarentena. “Foi muito emocionante. Os funcionários se apresentaram como responsáveis pelos nossos idosos”, disse.
‘LIVES’
O Lar São Vicente de Paulo, também tradicional em Americana, suspendeu as visitas, trabalhos voluntários, estágios, atividades coletivas e grupais e saídas de moradores (inclusive para consultas e exames não urgentes). Foram intensificados os cuidados de higiene e limpeza dos idosos, funcionários, ambientes e dos utensílios.
Os funcionários com mais de 60 anos ficam em casa, e as equipes técnicas e administrativas fazem trabalho remoto, segundo a coordenadora Suellen Estevam Bortolotti.
A equipe organiza “lives”, envolvendo os idosos acolhidos e seus parentes nos bate-papos. Forma de aplacar a solidão desses dias.