quinta-feira, 18 abril 2024

Uma decisão difícil

Há alguns dias, na redação do TodoDia, conversávamos sobre a “regra” que durante muitos anos existiu na imprensa em relação aos casos de suicídio. “A imprensa não publica casos de suicídio” era uma máxima.
E o que discutíamos recentemente era exatamente que, com as mudanças nos meios de comunicação social, era preciso repensar também essa regra. Enquanto a imprensa não fala, vídeos circulam nas redes sociais e notícias, muitas vezes falsas, são compartilhadas livremente pelos celulares.
Ontem, em Americana, no meio de uma das avenidas mais movimentadas da cidade e na frente de pessoas desesperadas, um homem cometeu suicídio. Incontáveis fotos e vídeos circularam pelo Whatsapp.
Em um deles, policiais militares tiram pessoas que estavam em um ônibus, a poucos metros de onde o homem disparava sua arma. Comerciantes baixaram as portas de seus estabelecimentos comerciais. Pessoas relatavam momentos de desespero – pelo risco que aqueles disparos representavam – e pela compaixão ao ver alguém disposto a tirar a própria vida.
Recentemente, na Capital, dois alunos do ensino médio de um dos colégios mais tradicionais da cidade cometeram suicídio em menos de dez dias. E depois que os casos se tornaram públicos, outros relatos de jovens que fizeram a mesma coisa, alunos de outros colégios, apareceram. As escolas então desenvolveram projetos especiais para ouvir os adolescentes. E os relatos foram impressionantes.
Em reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo foram reveladas frases dos alunos. “As pessoas falam que temos vida fácil financeiramente e parece que não temos permissão para sofrer”, disse um dos alunos. “Estão dizendo que eles são covardes, fico muito triste com isso”, disse o outro. Na mesma reportagem, a psicóloga Karina Okajima Fukumitsu, especialista em processo de luto por suicídio, ressaltou a importância da “conversa” para identificar quem está vulnerável. “O suicídio é um ato de comunicação. A pessoa comunica em morte o que ela não consegue comunicar em vida”, disse ela.
O escrito Augusto Cury também tem uma frase famosa sobre o tema. “Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida”.
Após o caso registrado ontem em Americana, o Centro de Valorização da Vida também destacou a importância do diálogo para identificar mudanças de comportamento.
E o TodoDia optou por trazer hoje uma reportagem sobre o fato que parou uma parte de Americana por alguns minutos ontem. Não há um crime com culpado, mas há uma situação que precisa ser mostrada porque precisa ser debatida. O suicídio é a segunda maior causa de morte de jovens no mundo.
Expor fatos, com os devidos cuidados, com os depoimentos de especialista e com orientações para a sociedade sempre foi o papel da imprensa e isso não vai mudar. À família envolvida no caso de Americana, a solidariedade de nossa equipe. À sociedade, uma alerta. As pessoas continuam precisando de atenção. A rotina de exposição demasiada, trabalho excessivo, frustrações e cobranças pode favorecer situações como essa. Precisamos conversar mais sobre os mais variados assuntos. Precisamos ouvir mais. E precisamos aprender a dar atenção ao próximo.

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