quinta-feira, 18 abril 2024

Atividade outdoor requer regras e cuidados especiais

O drama vivido pelos 12 meninos da Tailândia, que junto ao técnico do time “Javalis Selvagens”, ficaram duas semanas presos em uma caverna, emite um sinal de alerta: a prática das chamadas atividades ‘outdoor’ requer cuidado especial. Na região existem pontos de atividades junto à natureza que precisam de atenção.
Especialista em atividades de risco, o engenheiro Carlos Augusto dos Santos, o Carlos Carpa, conhece muitas cavernas no Brasil e já presenciou situações de risco. Para ele, o resgate que salvou a todos pôde ser concluído com sucesso graças a uma somatória de fatores, incluindo o “equilíbrio emocional” de cada um dos garotos e do treinador. A marinha tailandesa chegou a dizer não ter certeza se o resultado havia sido “um milagre, ciência ou o quê”.
“Eu não consigo entender o quão calmas essas crianças são. Pensando em como elas foram mantidas na caverna por duas semanas, sem ver suas mãesSão crianças incrivelmente fortes. Isso é quase inacreditável”, disse o mergulhador Ivan Karadzic, quando a operação de resgate na Tailândia ainda estava em curso.
Carlos diz entender os momentos de tensão, ansiedade e emoção que envolvem toda a história. Ele iniciou seu estilo de vida junto a natureza quando criança no movimento escoteiro, onde continua atuante até hoje como voluntário. Carlos Carpa diz que muitas pessoas de Americana e região frequentam trilhas e ainda o Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), que é a maior porção de Mata Atlântica preservada do Brasil e concentra 400 cavernas. “Nem todas são visitáveis justamente por questões de segurança”, explica ele, que já visitou outras cavernas em Goiás, Bahia, Minas Gerais e escalou montanhas no Brasil e fora, como Peru, Bolívia e África. Formações de grutas também são muito visitadas em São Pedro, Charqueada, Analândia e Jundiaí.
“A atividade de espeleologia, que é o estudo de cavidades subterrâneas, como cavernas e grutas, envolve uma série de riscos, como picadas de animais peçonhentos, fraturas, desmoronamentos, risco de queda em abismo e a questão da água. Inundações em cavernas é um risco muito grande”, conta ele. E foi justamente o que ocorreu na Tailândia.
DRAMA
O drama vivido pelos ‘javalis selvagens’ pode acontecer facilmente nas grutas visitadas por moradores da região. Carlos explica que a formação das cavernas nada mais é que o curso da água da chuva que percorre e abre uma cavidade. “Existem muitas cavernas em atividade. Isso quer dizer que podem ser inundadas. Basta uma chuva na cabeceira de uma montanha e a água percorrer o solo para entrar na caverna. É algo muito natural e foi exatamente isso que aconteceu com esses garotos”, conta.

 

ATIVIDADES GUIADAS

O engenheiro conta que as atividades junto a natureza são um presente de Deus. “As formações nos tetos subterrâneos resultantes da reação da água com o cálcio, as chamadas estalactites, são divinas. A experiência é fantástica, mas é preciso cuidado”, alerta.
De acordo com ele, é preciso iniciar essas atividades em locais com estrutura pra receber os aventureiros, como ter guias e guardas parques. “Hoje em dia existem agências de ecoturismo experientes no ramo. É importante estar acompanhado de gente experiente para evitar acidentes”, garante.
De acordo com Carlos, no Petar, por exemplo, tem toda estrutura de visitação. Das 400 cavernas, apenas 12 são visitáveis. “Existe todo um plano de manejo justamente para evitar acidente com turista”, observa.

 

TEM QUE  SE PREPARAR

Quando situações traumáticas ocorrem, é natural as pessoas terem o ímpeto de ajudar. Mas em casos extremos, só pode prestar ajuda quem está de fato preparado. Com vasta experiência em resgastes por deslizamentos , como em Santa Catarina e na região serrana do Rio, Carlos explica que o objetivo é ajudar a equipe de resgate e não se tornar mais uma pessoa a ser resgatada.
Para ele, a morte de um dos mergulhadores profissionais no resgate dos “javalis selvagens” mostra o quanto a situação era de risco.
“As atividades outdoor estão crescendo muito. Exploração de cavernas, trilhas, grutas, montanhismo entre outras. É preciso preparo. Não se pode ter falta de conhecimento e desrespeito à natureza. O controle psicológico precisa ser grande. Por isso que as crianças foram dopadas para sair da caverna. O estresse desse mergulho de resgate seria um estresse muito grande que poderia provocar outros acidentes”, observa.
Para completar, Carlos Carpa lembra que esse equilíbrio de emoções foi conquistado ao longo dos anos e com grande ajuda do escotismo. “Toda atividades outdoor precisa de equilíbrio emocional. O perigo é a todo momento. Em uma mata você pode se deparar com um animal e se desesperar pode te ocorrer algum acidente. Acidentes ocorrem muito quando a gente relaxa, normalmente no retorno”.

 

ESCOTISMO ENSINA RESPEITO

Um dos aprendizados do escotismo é o chamado P.O.R. (Princípio, Organização e Regras). É um ritual a ser seguido que aumenta a segurança de qualquer atividade. “Considero importante que pais estimulem seus filhos a se tornarem escoteiros. Esse aprendizado oferece a crianças, jovens e adultos uma formação de respeito a natureza, de respeito ao trabalho em equipe, de respeito aos mais velhos, respeito à Pátria, a Deus e às regras”, aponta.
“Devo muito ao movimento escoteiro. Hoje posso viver todas estas coisas devido aos ensinamentos que eu tive. Contemplar o pôr ou nascer do sol em uma montanha ou visitar as formações das cavernas é algo indescritível”, termina o engenheiro.
Uma das premissas básicas dos esportes de aventura é jamais se arriscar sozinho. “É preciso respeitar regras de segurança para entrar em uma caverna. A primeira é avisar alguém que vai ficar do lado de fora que você vai entrar, informar número de pessoas e a previsão de que horas irá retornar”, conta.
“São conceitos básicos de sobrevivência. Observar o clima, saber se vai chover é um deles. Mesmo que não chova no local, mas em regiões próximas. Outras regras importantes são quanto aos equipamentos, roupas adequadas, calçados, lanternas, pilhas reservas, luvas, água e alimento. Ter cloro ou algum tipo de desinfetante também é importante, de forma a tratar água em caso de emergência até ser socorrido”, ensina Carlos.

 

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