quarta-feira, 24 abril 2024

Alemanha e França compraram madeira ilegal do Brasil, apura PF

Uma operação da PF (Polícia Federal) que apreendeu madeira ilegal que seria exportada para oito países europeus foi usada nesta terça-feira (17) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para ameaçar divulgar um lista de nações que compram o material extraído de forma irregular da Amazônia.

A “Operação Arquimedes” da PF resultou na apreensão de 120 containers com 2.400 m³ de madeira extraída ilegalmente e que seria vendida para empresas importadoras na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Portugal e Reino Unido.

A operação foi deflagrada em 2017 e teve novas etapas nos anos posteriores.

Sem citar a operação ou o nome dos países, Bolsonaro se queixou ontem – durante a cúpula virtual com presidentes do bloco Brics (grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) – de “ataques injustificáveis” à política ambiental do governo e prometeu tornar público os países que são receptores de madeira ilegal.

A ameaça é mais uma reação do presidente às críticas que tem recebido diante do aumento de desmatamento na Amazônia e da onda de queimadas na região e no Pantanal.

“A nossa Polícia Federal desenvolveu um método para permitir a localização da origem de madeira apreendida. Não apenas apreendida, mas o mais importante: a exportada também. Estaremos revelando nos próximos dias países que têm importado madeira extraída de forma ilegal da Amazônia”, declarou o presidente no encontro virtual. “Alguns desses países são os mais severos críticos ao meu governo no tocante a essa região amazônica”, ressaltou.

“Revelaremos nos próximos dias o nome dos países que importam essa madeira ilegal nossa, através da imensidão que é a região amazônica. Porque daí sim estaremos mostrando que esses países, alguns deles que muito nos criticam, em parte têm responsabilidade nessa questão”, disse.

RASTREAMENTO

A tecnologia para o rastreamento de madeira citada por Bolsonaro é usada pela Superintendência da Polícia Federal do Amazonas.

O objetivo é analisar as moléculas de hidrogênio, carbono e enxofre para identificar a origem do material natural apreendido.

Tanto os detalhes da Operação Arquimedes quanto a tecnologia utilizada no laboratório da PF no Amazonas foram apresentados a embaixadores convidados pelo vice-presidente Hamilton Mourão para uma viagem à Amazônia.

O roteiro foi pensado num esforço de tentar melhorar a imagem do Brasil no exterior.

Na apresentação aos embaixadores, no entanto, a menção aos países onde há receptores de madeira ilegal foi feita para pedir colaboração dos respectivos governos no combate a essa prática.

A fala de Bolsonaro vai por outro caminho e deve aumentar as tensões com esses países na arena ambiental, destacaram diplomatas ouvidos pela Folha de S.Paulo.

Os países europeus protagonizaram os maiores choques com o governo Bolsonaro diante do aumento do desmatamento na Amazônia. Em 2019, às vésperas da reunião do G7, o presidente francês, Emmanuel Macron, chamou a onda de incêndios na Amazônia de “crise internacional”.

A fala do francês foi vista em Brasília como uma interferência na soberania nacional. Macron e Bolsonaro trocaram ataques.

A Alemanha, por sua vez, é uma das principais doadoras do Fundo Amazônia, mecanismo que financia projetos de preservação na região. No entanto, após o governo Bolsonaro promover mudanças na gestão do fundo, tanto a Alemanha quanto a Noruega – outro doador – interromperam as contribuições.

A fala de Bolsonaro foi considerada problemática por diplomatas ouvidos pela Folha.

A divulgação de qualquer lista acusando governos estrangeiros de comprar madeira ilegal obrigaria esses países a responder publicamente, o que aumentaria as tensões.

Também criaria um obstáculo na tentativa de atrair cooperação internacional para a redução dos índices de desmatamento.

A cúpula dos Brics ocorreu virtualmente devido à pandemia de Covid-19.

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