quarta-feira, 24 abril 2024

Comunidade adota áreas e cria espaços de convívio

Um movimento cada vez mais visível tem tomado conta das áreas públicas de Americana: a “adoção” dos espaços públicos pela sociedade civil. São moradores e associações de voluntários interessados em transformar e aproveitar espaços inutilizados como ambiente de integração social. 

A exemplo do Parque Tio Gága, no Jardim Glória, e do Parque Vó Palmira, no Jardim Nossa Senhora de Fátima, nasceu a Praça Malala, no bairro Frezzarin, há aproximadamente uma semana. Por iniciativa da comunidade local, uma área antes ocupada por mato se tornou um espaço renovado, colorido, cheio de brinquedos para a criançada, feitos a partir de materiais reciclados, como pneus, cordas e garrafas pet. O nome do espaço – Malala – é uma homenagem à ativista paquistanesa homônima.

 
MATHIENSEN | Área revitalizada virou espaço infantil

 

Os três espaços têm em comum a proposta de ocupar as praças, transformando-as em áreas de lazer das crianças, por meio de doações e do trabalho voluntário. 

Bem distante dos bairros nobres de Americana, a proposta se replicou. O gerente administrativo Naldo Faustino, de 37 anos, decidiu transformar uma área pública próxima de sua casa, na Vila Mathiensen, por sugestão de sua filha Camile, de 7. 

A ideia veio num fim de tarde comum, segundo ele. “A rua que eu moro é corredor de ônibus, é muito perigosa então não deixava ela sair nem na calçada. E nos finais de tarde eu a levava neste espaço, onde não tinha nada, e a gente ficava jogando bola, que era o que dava pra fazer. E ela sempre adorou parquinhos. Aí ela olhou pra mim e falou: ô pai, porque você não faz um brinquedo aqui pra gente vir aqui à tarde brincar. Aí deu um estalo”, lembrou. 

Faustino buscou amigos e empresários que, durante cinco meses, doaram produtos e horas de trabalho aos fins de semana para a construção de brinquedos. A Prefeitura também investiu no local com a colocação de bancos de concreto e o espaço ganhou nova cara e muito mais vida. “Está virando mesmo uma pracinha”, comemora. 

Ele acredita ter gasto cerca de R$ 1,5 mil para recuperar o local, que era só grama. “Comecei a conversar com um, conversar com outro, expliquei o projeto que eu tinha em mente, pedi para me ajudar, eles aceitaram e a gente começou a fazer este parquinho com recursos próprios, os amigos ajudando pedindo pneus em borracharia e agora ficou bacana. Está um espaço legal”, avalia. 

O Grupo Escoteiro Dragões da Terra, sediado no Centro Cívico de Americana, também planeja outra ação semelhante: um mutirão ecológico para limpar as margens do córrego Pyles, na Avenida Rafael Vitta. 

A iniciativa deve ocorrer na altura da agência do Poupatempo, na segunda quinzena de julho, e integra um projeto maior de conscientização social, como explicou o diretor-presidente do grupo, Rodrigo Capozzi. “Essa atividade é dividida em duas partes: o projeto ecológico, que será a limpeza, e bases de instrução aos jovens, onde iremos ensiná-los sobre meio ambiente, poluição, como agir em casos de desastres naturais e, principalmente, como fazer algo para melhorar a situação mundial”, declarou. 

Iniciativas refletem maior conscientização

Para geógrafo com especialização em Ciência Política Luís Felipe Valle a iniciativa dos cidadãos em adotar áreas públicas se assemelha à feita pelas empresas dentro das “parcerias público-privadas”, em que o Estado concede benefícios fiscais e direito de publicidade a empresas que, em contrapartida, ajudam a preservar parques, praças e monumentos.

“A diferença é que o cidadão que tem se engajado a proteger o patrimônio público não recebe uma vantagem fiscal ou publicitária imediata, mas, sim, ajuda a preservar e dar manutenção a um espaço que pode ser desfrutado por toda a comunidade. Na contramão de marginalizar os espaços públicos e privilegiar apenas shoppings, clubes privados e o paisagismo de condomínios elitistas, a iniciativa popular de adotar e cuidar de áreas públicas reflete a conscientização sobre a importância de preservar os espaços coletivos como lugares democráticos, onde a pluralidade e a diversidade rompem muros, cercas e barreiras sociais”, explica Valle, que também é docente do UniFAJ (Centro Universitário de Jaguariúna). 

O resultado, segundo ele, é a criação de áreas de convivência e de solidariedade. “A partir do senso de comunidade e de pertencimento, se combate o vandalismo, a criminalidade e a segregação socioeconômica. Numa atmosfera cada vez mais individualista, essa tendência é uma injeção de ânimo e tende a se espalhar para outras áreas”, defende. 

Para o especialista, exemplos como estes são uma etapa da conscientização sobre as responsabilidades sociais. 

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