terça-feira, 16 abril 2024

Dados de variantes em SP mudam, e gama (P.1) continua sendo 90% das amostras sequenciadas

 Recentemente, a OMS mudou a nomenclatura das variantes de preocupação e de interesse do Sars-CoV-2, usando letras do alfabeto grego. Os nomes antigos atribuídos às linhagens estão entre parênteses neste texto.

Os dados utilizados, no entanto, continham amostras classificadas como P.4 no sistema Gisaid que eram, na verdade, gama (P.1) ( Divulgação/Fotos públicas

No dia 15 de junho, um boletim sobre as variantes em circulação no estado de São Paulo divulgado pelo tradicional instituto de pesquisa paulista Adolfo Lutz apontava que a variante do coronavírus identificada no interior de SP, chamada de P.4, estava presente em todo o estado desde janeiro.

Também acordo com o relatório divulgado, a variante mais frequente em SP era gama, também chamada de P.1 (67% das amostras), seguida da P.4 (19%), depois vinha a zeta, ou P.2 (6%), a alfa, também chamada de B.1.1.7 (4%), a linhagem ancestral B.1.1.28 (2%) e P.1.2 (1%). O 1% restante inclui demais linhagens de menor relevância.

Os dados utilizados, no entanto, continham amostras classificadas como P.4 no sistema Gisaid que eram, na verdade, gama (P.1).

O instituto fez a correção do relatório no dia 18 de junho e, agora, as principais variantes em circulação no estado são: gama ou P.1 (83%), zeta ou P.2 (5%), P.4 (4%), alfa ou B.1.1.7 (4%), B.1.1.28 (2%) e P.1.2 (1%).

Recentemente, a OMS mudou a nomenclatura das variantes de preocupação e de interesse do Sars-CoV-2, usando letras do alfabeto grego. Os nomes antigos atribuídos às linhagens estão entre parênteses neste texto.

A análise do Lutz foi feita a partir de amostras sequenciadas no próprio instituto e com registros obtidos do banco de dados Gisaid, principal repositório de sequências do Sars-CoV-2 no mundo e que, junto ao órgão Pango Lineages, é responsável por avaliar aspectos dos diferentes genomas do vírus e classificar novas cepas como linhagens.

Um outro levantamento, divulgado na última semana pelo Instituto Butantan, aponta ainda que a gama corresponde, na realidade, por quase 90% das amostras sequenciadas no estado, como havia sido reportado no final de abril também pelo Lutz.

A variante P.4, identificada no interior de São Paulo por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da Rede Corona-Ômica-BR, foi descoberta a partir de amostras do vírus da região de Porto Ferreira e, embora esteja crescendo em frequência em algumas partes do estado, ainda é restrita aos municípios ao noroeste, próximos à divisa com Minas Gerais.

Ainda não é possível afirmar se ela é mais transmissível ou mais perigosa do ponto de vista de saúde pública, e ela não é uma VOC (sigla utilizada para descrever formas do vírus com mutações que são de maior preocupação).

Segundo o diretor do Centro de Respostas Rápidas do Lutz, Adriano Abbud, como os dados do Gisaid já vêm tratados, a classificação do órgão foi considerada para o boletim genômico do instituto paulista, sem a possibilidade de fazer uma análise própria.

“Nós aqui no Lutz analisamos as nossas sequências e confirmamos a constatação da P.4 desde janeiro em algumas DRS [Departamentos Regionais de Saúde] de SP, mas levamos em consideração também a fotografia do momento no banco oficial [Gisaid], e a fotografia naquela data [15 de junho, dia de divulgação do primeiro boletim] era essa”, afirma.

Porém, como são depositadas diariamente inúmeras amostras no Gisaid, que já conta com mais de 2 milhões de sequências do vírus em todo o mundo, o processamento desses novos registros pode demorar até um mês para ser atualizado, e é comum encontrar informações ainda não verificadas na plataforma e que depois são corrigidas.

Por isso, os virologistas usam essas amostras apenas como uma referência, mas realizam as análises filogenéticas com as próprias sequências, sejam elas obtidas pelos institutos e universidades de pesquisa que monitoram as formas do vírus, ou pelas redes de monitoramento com apoio do governo, como é o caso da rede Corona-Ômica, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

A análise filogenética é a ferramenta utilizada pelos cientistas que estudam a evolução do vírus que permite identificar e compreender a origem e as relações de parentesco entre as diferentes linhagens. Cada amostra do vírus coletada de uma única pessoa, representando um genoma ou sequência genética única, corresponde a um galho em uma imensa árvore. Os galhos são agrupados em ramos maiores (as linhagens), como por exemplo a alfa (B.1.1.7), a gama (P.1), a zeta (P.2), e por aí vai. O “tronco” da árvore representa a linhagem ancestral a partir da qual todos os outros ramos se originaram.

O problema é que quando algumas dessas sequências são classificadas erradas, ou seja, uma sequência atribuída à P.4 é, na verdade, gama (P.1), essa amostra cria ruído na análise, uma vez que alguns galhos “dissidentes” não vão se agrupar ao ramo ao qual pertencem. Esse foi o motivo da confusão do boletim do Lutz.

“Todos os virologistas que trabalham com vírus sabem que existem muitos erros de classificação no Gisaid, e que é preciso sempre checar com uma análise própria. A linhagem da P.4 é um clado perfeito. Qualquer sequência que foge daquilo não é P.4, é uma outra cepa”, explica o pesquisador da Unesp e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, João Pessoa Araújo Júnior.

Na versão inicial do boletim paulista, algumas regiões de saúde, como a Baixada Santista e Campinas, apresentavam a P.4 em mais de um terço das amostras (36,96% e 35,29%, respectivamente), mas essa taxa não se confirmou. Outra região que chamava a atenção era de São José do Rio Preto, com 29,75% das amostras do vírus como P.4, mas Araújo afirma que até agora não foi verificada essa variante na região.

“A coordenação da rede que encontrou a P.4 é de pesquisadoras da Unesp de S. José do Rio Preto, e nós estamos monitorando de perto lá [a P.4] e ainda não encontramos. Por isso, é fundamental fazer uma dupla checagem nas amostras, evitando assim esses erros de comunicação”, diz.

Quem trabalha com monitoramento de vírus sabe que é fundamental que esse tipo de comunicação não tenha erros, uma vez que as decisões a nível municipal e de vigilância epidemiológica na região levam em consideração as variantes em circulação. “A população não precisa de mais medo, precisa de informações seguras”, diz.

O boletim das variantes publicado pelo Lutz foi atualizado no dia 18 de junho. Nesta segunda-feira (28), a Secretaria de Estado de Saúde divulgou uma nota com a atualização da informação. 

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