sexta-feira, 19 abril 2024

Espiritualizada, Lina já fez do câncer um aprendizado de vida

Embora já tenha atuado em filmes e séries de TV, nada se compara à visibilidade que alcança agora no BBB 22

NO AR | Com trajetória de vida marcante,exposição dela pode quebrar os estereótipos (Foto: Reprodução)

Faltando menos de um mês para o fim do Big Brother Brasil 22 (Globo), são poucos os favoritos para o prêmio de R$ 1,5 milhão, mas muitas são as histórias que passaram por lá. Linn da Quebrada, 31, é uma dessas trajetórias marcantes. Na visão de seus amigos, uma quebra dos estereótipos sobre travestis.

Nascida em São Paulo, Lina, como é chamada dentro da casa, começou a ganhar projeção no ano de 2017, quando lançou a música “Enviadescer”. Também já atuou em filmes e participou de séries de TV, mas nada comparado à visibilidade que alcança agora no grupo Camarote do BBB 22.

Ana Flor, coordenadora das redes sociais da sister, e Thiago Felix, o gestor de carreira – ambos, também, amigos da rapper -, afirmam que ela estava decidida sobre sua presença no reality e que entrou para ganhar, mas só depois de debater por duas semanas os prós e contras de sua participação.

“Fazer parte de uma edição do BBB sempre foi uma vontade dela, ela vem falando há um bom tempo. Eu, enquanto gestor, tive esse pé atrás porque é um programa que abre uma janela para o bem e para o mal. E até tentei convencê-la a não entrar, mas ela queria muito. E no final, foi para o bem”, diz Felix.

Segundo ele, a cantora sempre se interessou por novas descobertas e autoconhecimento, o que pode tê-la levado ao reality. “Lina sempre foi interessada na pesquisa, na descoberta, sempre se apegou mais às dúvidas do que às certezas. Acredito que, por isso, ela sempre está aprendendo ou vivendo algo novo”.

Hoje no top 10 da edição e na disputa pelo grande prêmio, Lina já contou com seu interesse pelos estudos e autoconhecimento para outras conquistas. Foi assim em suas vitórias em olimpíadas escolares de matemática e na conquista de uma bolsa em uma escola particular, quando mais jovem.

Para Felix, essas características a ajudaram até mesmo quando enfrentou um câncer no testículo, entre 2014 e 2017. “Ela passou por esta fase com muita garra, compartilhando e se apegando a sua rede de apoio, que sempre esteve muito presente. Fez deste momento de fragilidade também um lugar de escuta, estudo e descoberta do que era possível fazer com seu corpo”, diz ele.

Outro ponto de apoio foi a espiritualidade. A cantora, que foi criada como testemunha de Jeová na infância, sempre explorou esse lado, independente da religião. “De algum modo, ela sempre explorou sua espiritualidade a partir da conexão com seu próprio corpo. Seja através da dança, teatro, performance ou música”, acrescenta o gestor de carreira.

Com essa base, Ana Flor diz que Lina foi ao BBB para ganhar. “Ela quer vencer, acredita que o Bra sil pode torcer para uma travesti”, diz Ana Flor, que também entrega os planos da amiga para o prêmio: comprar uma casa para a mãe após anos trabalhando como empregada doméstica, e lhe “dar uma vida digna”.

“Ela estava muito ansiosa para viver tudo, especialmente uma prova de resistência”, conta ainda a amiga, após Lina se tornar a primeira travesti a vencer uma Prova do Líder do programa, resistindo por 23 horas em uma disputa. O programa teve apenas uma participante transexual antes dela, Ariadna Arantes, eliminada na primeira semana do BBB 11.

Felix credita essas conquistas ao jogo de Lina, que, segundo ele, tem mostrado como realmente é: engraçada, chorona, jogadora e forte. “Temos recebido muitos feedbacks positivos, de pessoas que gostam da maneira como ela se comunica e trata as pessoas”, celebra Ana Flor.

Apesar da certeza e da preparação para participar do BBB 22, Lina esperava que sua participação gerasse algumas situações negativas por parte de um público preconceituoso. O que ela não imaginava era ter que lidar com isso dentro da casa, como ocorreu com outros participantes usando pronome masculino para se referir a ela.

“Lina não se preparou para se defender de qualquer tipo de violência como essa, porque ela não acreditava que isso fosse acontecer com constância. Acho que isso nem passou pela cabeça dela”, conta Ana Flor ao F5. “Acreditávamos que ela seria muito atacada dentro da internet
– porque sabemos o que
é o Brasil, mas dentro da casa não.

“Infelizmente, o que vimos foram várias pessoas errarem com ela, repetidas vezes. Até o momento em que ela sentiu a necessidade de se posicionar de uma maneira mais firme e dizer: ‘Essa é uma culpa que eu tenho aliviado para vocês, mas que tem me sobrecarregado, e nesse momento eu não quero mais fazer isso'”.

Em fevereiro, Lina chegou a dizer para Eslovênia que estava cansada de ouvir as pessoas errando seus pronomes (ela/dela), após Lucas tratar ela e Natália como “os dois”. “Já faz 30 dias que estamos aqui. Eu sei quem errou e quantas vezes erraram. Esse constrangimento não é mais meu”, disse Linn na ocasião. “Todas as vezes que fazem isso ignoram a minha existência […] vocês me matam mais uma vez”.

“Ela não achava que ia passar por essas questões, não dessa maneira, e a forma como ela se comportou frente a isso foi fundamental, não só para
o BBB mas também para
o Brasil”, diz Ana Flor. “Ela sabe o lugar em que está, e a importância de ser mais didática porque isso leva essa informação para mais pessoas. Ela tem a suavidade no tom, mas também a dureza da informação”, completa Felix.

“Linn deixa um legado de que é possível jogar o BBB sendo exatamente quem você é, de uma maneira ética, sem medo de errar ou acertar. Antes de entrar na casa, ela nos pediu: ‘Se eu errar, não quero que vocês passem pano para mim. Quero que digam que eu errei e está tudo bem, vida que segue’. O Brasil pode torcer por muitas travestis e mulheres, de uma maneira ética”, diz Ana Flor.

“E Linn sempre quer encontrar novas experiências para poder expressar sua verdade, porque Linn é assim, movida pela experiência”, completa Félix.

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