sexta-feira, 19 abril 2024

Minas Gerais e o cantar dos galos

Por  Ailton Gonçalves Dias Filho

Na semana dos feriados, em junho, tive a oportunidade de visitar minha querida Ipanema, em Minas Gerais. Fui rever minha mãe, irmãs e amigos que lá deixei. Saí de lá com 19 anos para vir para Campinas estudar teologia. Desde então, minhas visitas à casa de minha mãe se tornaram esporádicas.

A cidade que deixei, em 1984, já não existe mais. Ela se transformou. Cresceu. Novas ruas, novos bairros, novas pessoas e moradores. É a dinâmica da vida que acontece em qualquer ambiente urbano. Em Ipanema, como em outras cidades do interior, a vida tem um ritmo diferente. Nesses dias que lá estive pude perceber algo esquecido da minha vida urbana nos últimos 30 anos. Não riam os leitores, mas em Ipanema, na minha cidadezinha no interior de Minas Gerais, ouvi às quatro horas da manhã o cantar do galo. Vários. Numa sinfonia perfeita, os sons iam se multiplicando e se expandindo sobre a cidade que amanhecia. Um despertar completamente diferenciado, nostálgico e que acalmava a alma.

Os galos pareciam combinados. Nenhum cantava em cima do canto do outro. Acabava um canto e, depois de três segundos, outro começava. Um canto em cada canto. Eu, acordado com essa orquestra diferente, comecei a imaginar… Esse é um galo garnizé… Esse é de penas brancas e pescoço pelado… Cada um com um canto e tom diferente. É assim que Ipanema acorda. É assim que Minas Gerais acorda. Pensei, é assim que o Brasil deveria acordar. Com um despertador natural que nos lembra a beleza e a simplicidade da vida.

Certa vez Jesus Cristo nos mandou olhar para as aves. Elas nos ensinam. Os galos e seus cantos me fizeram pensar no sentido da vida. Lembrei de um amigo que sempre, brincando, me diz: “A vida é boa. O que falta é treino”. Eu acrescentaria: “O que falta é vivê-la intensa e sabiamente”.

Os galos e seus cantos me fizeram voltar no tempo. Lembrei da poesia de Casimiro de Abreu: “Oh que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais…” Mas, o cantar do galo anuncia um novo dia… o raiar do sol. É vida que segue. Lembrei também do salmista que orava ao Senhor pedindo sabedoria para saber contar os seus dias.

Que os nossos ouvidos se abram aos sons da vida ao nosso redor. Que percebamos a beleza e a simplicidade do templo que pulsa em nosso peito. Que saibamos viver a vida e não ter a vergonha de ser feliz. Que tenhamos tempo para apreciar o canto dos galos em cada canto deste vasto país. 

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