sexta-feira, 19 abril 2024

‘Setembro Amarelo’ acaba, mas o desafio prossegue

Mês de mobilização contra o suicídio amplia o debate para ajudar pessoas

JULIANO SCHIAVO SUSSI | Ele superou a depressão e aborda o tema em livro (Foto: Márcia Tomiyama / Divulgação)

O mês que concentra a mobilização contra o suicídio – chamado “Setembro Amarelo” – está terminando, mas persiste o desafio da saúde pública e dos serviços assistenciais na prevenção. Setores do serviço público têm se organizado para ampliar o conhecimento sobre o tema e oferecer uma abordagem cada vez mais condizente.

Psicóloga do setor de Recursos Humanos da Secretaria de Saúde de Americana, Richele Mendes Fonseca Fracasso, abordou estatísticas, principais causas e formas de prevenção ao suicídio em encontro com servidores da instituição na última semana.

Ela chama a atenção sobre como abordar pessoas em situação de risco, para que o quadro não se agrave ainda mais. “É preciso fazer uma abordagem calma, aberta, de aceitação e sem pré-julgamentos. É preciso ouvir com cordialidade, tratar a pessoa com respeito, ter empatia com suas emoções e garantir sigilo sobre a conversa”, explanou.

De janeiro até o dia 10 de setembro deste ano, Americana registrou 10 mortes causadas por suicídio, sendo nove homens (idades de 22, 44, 27, 24, 64, 43, 80, 25 e 29 anos), além de uma mulher (47 anos).

Em todo o ano de 2020 foram 17 suicídios, sendo 16 homens (61, 33, 60, 31, 38, 46, 47, 41, 35, 83, 69, 60, 64, 27, 25 e 20 anos), além de uma mulher de 50 anos.

LEVANTAMENTO MP
O MP (Ministério Público) de São Paulo também fez um levantamento dos inquéritos de investigações de suicídios.

Desde 2008, foram 965 inquéritos, com 72 em 2020 e 18 neste ano, até 2 de setembro.

A regional de Campinas é a terceira com mais casos (63), atrás da Capital (406) e Grande São Paulo (163). Na proporção, 588 pessoas (60,81%) eram homens e 375 (38,78%) eram mulheres, enquanto quatro (0,41%) não tinham dados.

Arthur Pinto de Lemos Júnior, promotor de Justiça e Secretário Especial de Políticas Criminais do Centro de Apoio Operacional Criminal (Caocrim), avalia que o número significativo para as ocorrências de suicídio pode ser atribuído ao momento de pandemia que ainda vivemos. “O isolamento social; o clima tenso derivado da contaminação invisível; várias vidas perdidas em tempo curto; e ainda o momento de polarização política, aliado à existência de pessoas sem apoio familiar, pouco amor ao próximo, e outros fatores certamente contribuem para a estatística exibida”, considera.

Sobre o fato de os casos se concentrarem em regiões metropolitanas, ele avalia que a RMC (Região Metropolitana de Campinas) apresenta estatística preocupante, “o que decorre da situação de se tratar de região muito populosa, com acentuada e desproporcional distribuição de renda.
Todas as dificuldades experimentadas, então, pelo momento de pandemia se verificou com maior intensidade”.
 

O esclarecimento que partiu da dor
O escritor e professor americanense Juliano Schiavo Sussi é autor do livro “Aprendendo com a Depressão”, que partiu da necessidade que ele sentiu após lidar com a doença, em 2015. “Só quem passou pela depressão sabe o que ela realmente significa. O que mais me assustou é que muitas vezes as pessoas ocultavam essa doença, com medo de serem julgadas”, afirma.

Sussi, que também é jornalista, passou a reunir materiais e a entrevistar profissionais e pessoas que tiveram depressão. “Encontrei várias, mas poucas quiseram se identificar nominalmente, por medo do estigma”.

O resultado é um livro com uma série de reflexões e orientações de 30 especialistas, como psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, filósofos, sociólogos, além de depoimentos de quem teve depressão.

INCAPACITANTE
“O que descobri é que a depressão não é uma escolha, não é falta de fé, não é frescura. É uma doença que precisei sentir na pele para compreender o quanto ela é incapacitante. E o principal: é essencial termos em mente que jamais devemos desistir da vida. Jamais acreditei que fosse sair da depressão e cheguei ao ponto de pensar em suicídio diversas vezes. A ausência de sentido e o vazio que eu sentia eram tão enormes que a morte sussurrava em meus ouvidos desde o momento que eu acordava até finalmente dormir. Porém, entendi que, sem ajuda, jamais romperia aquela doença. É um passo de cada vez, que se dá hoje, sem pensar no amanhã”.

O jornalista também reconhece as dificuldades da pandemia de Covid-19, além da influência negativa das redes sociais, que podem funcionar como gatilho para a depressão.

“O essencial na vida é ter em mente que jamais devemos desistir do nosso bem-estar: sempre procurarmos ajuda e, principalmente, nos permitirmos ser ajudados. Essa é a essência para lutarmos contra a depressão”.

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