Sete em cada dez brasileiros (70%) acham que a velocidade da vacinação contra a Covid-19 no país está mais lenta do que deveria, segundo pesquisa Datafolha.
Outros 22% avaliam que o ritmo de imunização está dentro do prazo possível, 8% afirmam estar mais rápido do que deveria e 1% não opinou.
Os que se mostram descontentes com a velocidade da imunização são majoritários em todos os estratos e alcançam a taxa mais alta entre os que têm de 25 a 34 anos (80%).
Já no grupo que vê o ritmo da vacinação dentro do prazo possível, a taxa sobe a 40% entre os que aprovam a gestão Jair Bolsonaro (sem partido).
Para esse levantamento, o Datafolha entrevistou presencialmente 2.071 brasileiros com 16 anos ou mais, em todas as regiões, entre 11 e 12 de março. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
Com a campanha de vacinação iniciada em janeiro, o país já aplicou a primeira dose em 24,4% da população adulta e a segunda, em 12,1%. No total, foram aplicadas 58,6 milhões de doses, segundo dados do consórcio dos veículos de imprensa, integrado por Folha, UOL, G1, O Estado de S. Paulo, Extra e O Globo.
Mesmo que o país tenha ainda índices de vacinação considerados tímidos pelos especialistas, o Datafolha revela uma pequena melhora na avaliação da velocidade da imunização se comparada à pesquisa de março deste ano. Na ocasião, 76% disseram que a imunização estava mais lenta do que deveria.
Entre as pesquisas, o país viu uma aceleração na campanha, após o Ministério da Saúde liberar o uso de vacinas reservadas para a segunda dose.
O ritmo da vacinação chegou a estagnar em meados de abril, em razão da redução da previsão de ofertas de novas doses, mas voltou a crescer no fim do mês com a chegada do lote do imunizante da Pfizer e de novas entregas da Fiocruz.
No entanto, a estratégia do governo de não reservar a segunda dose mostrou problemas. Com atraso na chegada de insumos da China, no início de maio mais da metade das capitais do país registrava falta da Coronavac para a segunda dose, sendo que em nove delas a etapa final da imunização foi suspensa.
E o ritmo de vacinação pode diminuir, já que a produção da Coronavac está parada em razão de um novo atraso na entrega de 10 mil litros de insumo –equivalente a cerca de 18 milhões de doses da vacina.
O descontentamento da maioria com o ritmo da imunização, no entanto, não se reflete na avaliação do desempenho do Ministério da Saúde na aquisição de doses contra a Covid-19, mostra a pesquisa.
Um terço dos entrevistados (32%) aponta como ótimo ou boa a atuação da pasta na compra de vacinas. Já 33% avaliam como regular e 34% como ruim ou péssima. Uma fração de 1% não opinou.
Se comparada com a pesquisa anterior, de março, os percentuais mostram uma melhora na avaliação do governo. Naquela data, 27% tinham o trabalho do Ministério da Saúde em adquirir vacinas contra a Covid-19 como ótimo ou bom, 32% como regular e 40% como ruim ou péssimo.
A alta se deu mesmo diante do cenário atual adverso para a gestão Bolsonaro nesse tema. A CPI da Covid no Senado começou os trabalhos em abril e tem centrado fogo no empenho do governo para garantir a vacinação.
No dia 14, após duas semanas de depoimentos, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse à Folha considerar que já está provado que o governo federal negligenciou inicialmente a compra de vacinas.
Em depoimento à CPI, o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou que a empresa fez em 2020 ao Brasil ao menos cinco ofertas de doses de vacinas contra o coronavírus e que o governo ignorou proposta para comprar 70 milhões de unidades do imunizante.
O ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten afirmou, também em depoimento à comissão do Senado, que uma carta enviada pela Pfizer com proposta para fornecimento da vacina, enviada em setembro de 2020, permaneceu dois meses sem resposta do Executivo.
A pesquisa mostra que o índice de aprovação ao trabalho do Ministério da Saúde na aquisição de vacinas é mais alto entre os que têm 60 anos ou mais (39%), os com menor escolaridade (39%), os aposentados (40%) e os moradores das regiões Centro-Oeste e Norte (41%).
Os números favoráveis ainda são impulsionados pelos grupos que demonstram apoio a Jair Bolsonaro, chegando a 59% entre os que aprovam o governo, 62% entre os que sempre confiam nas falas do presidente e 66% no grupo dos que se dizem satisfeitos com o desempenho do Executivo federal no combate à pandemia.
Já a reprovação do trabalho da Saúde encontra maioria entre os com mais escolaridade (47%), os que possuem renda familiar mensal de mais de dez salários mínimos (55%) e os moradores da região Sudeste (40%) do país.
Ainda avaliam como ruim ou péssimo o desempenho da pasta na compra de imunizantes 51% dos que reprovam a gestão Bolsonaro, 46% dos que nunca confiam nas falas do presidente e 51% dos que reprovam o desempenho do governo federal no combate à pandemia.
Durante pronunciamento em março, o presidente prometeu imunizar toda a população até o final de 2021 –o que é considerado pouco provável pelos especialistas, diante da oferta atual de doses.
“Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal”, afirmou Bolsonaro, na ocas