sábado, 23 novembro 2024

A conta não fecha

Por Gaudêncio Torquato 

Cerca de 25% dos eleitores não gostariam que Lula ou Bolsonaro fossem vitoriosos no pleito de 2 de outubro. Enquanto algumas pesquisas mostram essa posição, outras chegam a apontar rejeição de 43% para Lula e 59% para Bolsonaro. Esses dados, por si só, sinalizam a viabilidade de um nome da terceira via. Mas não é isso que se enxerga nos índices de Ciro Gomes (PDT-CE), entre 6% e 9%, o deputado André Janones (Avante-MG), a senadora Simone Tebet (MDB-MS), ambos entre 1% e 3%.

A conta também não fecha na área do marketing político. Lula alfineta Bolsonaro, ao dizer que uma “canetada” basta para enquadrar a Petrobras e, consequentemente, ordenar a baixa nos preços dos combustíveis. Sugere que “falta coragem” ao presidente. Ora, significa que ambos se igualam na defesa intervencionista, o uso da caneta para definir a política de preço da estatal. Populismo.

E mais: os dois principais protagonistas falam coisas que só agradam a suas bases tradicionais. Bolsonaro entra na seara pessoal do petista, chamando-o de “nove dedos”, referência a perda de um dedo do ex-metalúrgico nos tempos em que trabalhava no chão de fábrica no ABC paulista.

Não satisfeito com o ataque pessoal ao adversário, atira nas urnas eletrônicas, sugerindo fraude nas eleições, e fustiga o STF, avisando que não cumprirá decisões da Corte, ao atacar a decisão sobre o marco temporal na demarcação de terras indígenas. “Uma nova interpretação querem dar a um artigo da Constituição. E quem quer dar? O ministro Fachin, marxista leninista. Advogado do MST. O que eu faço se aprovar? Entrego a chave para os ministros do Supremo ou digo: não vou cumprir”.

Lula faz defesa da regulamentação da mídia, entrando em outros terrenos temáticos que assustam parcelas da sociedade, como a revogação (isso mesmo, não apenas revisão) da reforma trabalhista e quebra do teto de gastos. Trata-se do renascimento de velhos programas da era lulista no centro do poder. Dinheiro para expandir o acesso das massas ao crédito e restabelecer as contribuições sindicais.

As falas de ambos tendem a segurar ou a baixar sua aprovação junto ao eleitorado, o que pressupõe que fazem ouvidos de macaquinho (não ouvem, não veem, não sentem) aos conselheiros de marketing. Ou será que estes não usam pesquisas qualitativas para orientar os seus candidatos?

O fato é que os profissionais do marketing político não estão dando um recado eficaz nesses tempos de polarização acirrada e discursos virulentos. Dizem que estariam defasados ante a emergência de novos polos de difusão de ideias, como as redes sociais, onde o filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro mostra ser um expert. Já os pesquisadores deveriam chegar a um bom termo sobre metodologias usadas, a par de uma boa explicação sobre o significado dos índices elevados de rejeição, que abrem grande interrogação na sociedade.

Quanto ao discurso, se o candidato não apresentar bom ideário, será mais eficaz usar a técnica do gaguinho. Conto a história: certa vez, o governador de Pernambuco, Moura Cavalcanti, teve de escolher com urgência um nome para substituir seu candidato a prefeito, que falecera. Correu para a cidade e passou a perguntar: “Quem é mais popular na cidade?” Respondiam: “O gaguinho”. Escolheu o sujeito. No palanque, gritou: “Prefeito não precisa falar. Precisa agir.”

A multidão, comovida, aplaudia o gaguinho, que apenas gesticulava com o V da vitória. Sem dizer um A, ganhou. É o preço de uma democracia improvisada. 

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