sábado, 23 novembro 2024

Ludmilla diz que ‘Rainha da Favela’ homenageia funkeiras pioneiras

Ludmilla, 25, está diferente: mais ousada e mais segura de si. Desde que se viu travada em uma cama com um problema na coluna em 2019, a cantora conta que a sua fé se fortaleceu. “Ali foi quando Deus se apresentou a mim e mudou meu quadro”, diz a funkeria, que recentemente criou a Big Célula da Ludmilla -encontro em que ela reúne pessoas para orar, entoar cânticos religiosos e estudar a Bíblia. 

A funkeira diz que fala muito com o Todo Poderoso e não deixa de obedecê-lo. Mas até o momento, afirma, Ele não fez nenhuma restrição às roupas que ela veste, as músicas que canta ou influenciou nos rumos da sua carreira. É algo, relata Ludmilla, mais de “dentro para fora”. “O meu coração está todo limpo, todo em paz […] A força que eu estou por dentro não está no gibi.” 

“E meu Pai até agora não mandou em nada na minha carreira. Vocês podem ter certeza que ele não disse assim: ‘Hein, não quero mais você mostrando a bunda, não quero mais você falando isso, não quero mais você tomando isso'”, acrescenta. 

O aviso é outro, segundo ela. “O único recado que ele me deu para passar a vocês é: ‘amem uns aos outros, e Deus acima de tudo'”. Desta forma, sem tabus, a artista está cheia de planos para o pós-pandemia. “Vai ser trabalho até o ‘popozão’ arder”, relata. Antes, já nesta quinta-feira (12), ela lança o clipe de “Rainha da Favela”, música apresentada pela primeira vez, nesta quarta (11), no Prêmio Multishow. 

Ludmilla exibe diferentes figurinos no vídeo. Um deles, segundo ela, é o “mais pelado” que já usou em um clipe. “Nunca apareci assim, não”, comenta. A funkeira conta que ganhou uns “quilinhos a mais” durante a quarentena -“porque a gente não tem o que fazer, só come”. Por isso, para as gravações de “Rainha da Favela”, ela diz que “fechou um pouco a boca”. “Não fiz nada radical, não, só parei de comer como estava comendo, as rabadas aqui da minha mãe e da minha avó.” 

Ela pondera, no entanto, que a sua opção por emagrecer não deve ser encarada como um padrão de beleza. “A pessoa tem que se sentir bem como ela se achar melhor, e eu me sinto bem, me acho melhor nas fotos quando estou menos inchada”, afirma. 

“Rainha da Favela” homenageia quatro funkeiras que ela considera pioneiras do gênero: Taty Quebra Barraco, Valesca Popozuda, MC Kátia A Fiel e MC Carol de Niterói. A ideia, diz a cantora, é que o vídeo seja um reconhecimento a todas as “mulheres guerreiras das comunidades”. “Aquelas que levantam cedo, que vão atrás do seu, que lutam e criam seus filhos sozinhas.” 

Ludmilla diz que não seria possível chamar todas as cantoras que gostaria. Decidiu por aquelas que são mais próximas a ela e que marcaram a sua vida. As quatro participam apenas do clipe, já que não se trata de uma parceria musical. 

Para a cantora, é importante reconhecer essas mulheres que vieram antes dela e que abriram caminhos. Ludmilla afirma que se fosse ela a receber uma homenagem em vida, ficaria muito feliz, embora pondere que não fez o clipe com essa intenção. “Ajudei muita coisa ao levar o funk para outro público, para a televisão, para pessoas mais elitizadas e para provar para eles que o funk não é coisa de marginal, de puta, que todo o mundo pode dançar, que todo o mundo pode curtir”, ressalta. 

A funkeira também diz receber muitas mensagens de outras cantoras que afirmam ter se inspirado por ela a se aceitarem como são e a não ter vergonha do que produzem como artistas. “Canto sobre a ‘verdinha’, canto bunda aqui, bunda lá, bota aqui, bota lá, canto essas coisas também, e sou feliz assim. E isso inspira outras pessoas a saírem dessa redoma que querem nos colocar e a botar a cara a tapa e ser quem elas são, porque na vida a gente não está a passeio.” 

CÚPULA DO FUNK 

O vídeo de “Rainha da Favela” foi gravado em dois dias na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, na semana passada, e provocou um grande tumulto. Tanto que a última cena prevista não pôde ser filmada. “Penso que a Rocinha inteira já sabia que eu estava lá. Era muita gente, muita criança saindo de casa para falar comigo, para me abraçar. Não tinha como a câmera se mexer, não tinha como fazer nada e ia acabar ficando perigoso por causa da aglomeração”, relata. 

Apesar do imprevisto, Ludmilla diz que o clipe não foi comprometido e que ela ficou muito “encantada” com a recepção que teve no local. Por causa disso, já pensa em desenvolver projetos sociais na Rocinha. “Em breve, vamos fazer alguma coisa para ajudar essas crianças.” 

Uma das cenas é inspirada na representação da Santa Ceia cristã, a última refeição que Jesus Cristo compartilhou com seus apóstolos antes de ser crucificado. Polêmica à vista? Ludmilla diz que a sua intenção não é essa. “Longe de mim querer comparar a gente, a nossa música com Jesus”, reforça. 

A influência, diz ela, é só em relação à imagem e ao posicionamento dos apóstolos na mesa. “Eu pensei: ‘Como posso colocar elas ali comigo, uma coisa mais ‘poderzão’, que caibam todas, que ninguém fique de fora, nem uma apareça mais ou menos?”. Ludmilla prossegue que a proposta é mais “churrascão da laje” e “cúpula do funk”, e menos Santa Ceia. 

Além do clipe de “Rainha da Favela”, a cantora prepara o DVD do álbum “Numa Nice” e está cheia de projetos para 2021. Ela conta que aproveitou o período de isolamento social para organizar a carreira (virou a sua própria empresária) e tirar planos e sonhos do papel. “Com o fim da quarentena, vamos para cima com clipes, features, DVD de ‘Numa Nice’, campanhas, roupas, novos shows, muita novidade”, conclui. 

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