sexta-feira, 22 novembro 2024

Dia das Crianças

Por André Luís, teólogo e psicanalista
Por
André Luís
Foto: Divulgação

Eu tenho duas crianças convivendo diariamente em minha casa: minha filha de quase 3 anos, e a minha criança interna. De vez em quando elas se encontram, e, dependendo da situação, elas se divertem ou brigam entre si.

A minha criança interna revela muitas coisas sobre mim. No setting analítico, ela revela-se, por vezes, carente, machucada, abandonada, querendo maternagem. E é na terapia que consigo olhar pra essa criança e acolhê-la com menos rigidez e mais compaixão. Quando a afago e a acalmo no espaço da análise, o adulto é, também, afagado e acalmado. Quando a criança interna recebe a atenção e o cuidado que lhe faltou, a criança que corre pela minha casa encontra um amiguinho pra brincar, pois aquilo que impedia a criança interna de ser, não a impede mais e, então, ela fica desimpedida pra brincar com sua amiguinha.

Minha filha, ah, minha filha! Tento, a cada dia, com o auxílio e parceria da minha esposa, incentivar sua infância. Proporcionamos a ela o espaço da brincadeira, da arte, da expressão das emoções (muito embora essas expressões, por vezes, dêem treta com a nossa criança interior). O vocabulário emocional da nossa filha está ficando cada vez mais rico, e isso demanda de nós, pais (portadores de nossas crianças internas), muita maturidade e capacidade de estabilizar nossas emoções.

A criança externa, nossos filhos, sempre conclama a criança interna dos pais. Aí, sempre que isso acontece, dependendo da forma como esta criança se encontra, pode haver muita festa ou muito conflito; daí, por vezes, quando não há um olhar para dentro no qual haja acolhimento, as violências, agressões e deficiências para educar.

Hoje, sendo pai, vejo com mais clareza a importância de um casal, quando decide ter filhos, comprometer-se em fazer terapia. É importante reconhecer e conhecer a criança interior, aquela que, quase sempre, precisa ainda ser ouvida, acolhida e libertada, para que a maternagem e paternagem possam acontecer de uma forma mais saudável.

Nesses dias que antecedem o Dia das Crianças, tenho sido convidado, seja pela criança externa, minha filha, seja pela criança interna, o André, a me lembrar de que criança precisa de respeito, compreensão e de alguém que a acolha em amor.

Assim, desejo a todos nós, portadores das crianças interna e externa, que todos os 365 (às vezes 366) dias das crianças sejam mais libertadores, menos tensos e mais leves. Criança feliz é criança acolhida.

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