domingo, 28 abril 2024

Novas peças driblam as regras das redes sociais na pandemia

A lista de melhores amigos do Instagram não serve só para seguir a vida desinteressante de colegas trancados em suas casas durante a pandemia – ou, pior ainda, compartilhar as farras clandestinas longe do escrutínio público.

Quem comprou ingressos para assistir à peça “Web-Strips”, em que seis artistas seguem a proposta de desnudar -literalmente- suas carreiras com um strip-tease, foi adicionado à lista exclusiva do perfil da produtora dentro da plataforma e teve acesso às performances.

O espetáculo se soma a outras produções que, um ano depois do começo da quarentena, flertam com a linguagem pornográfica em peças virtuais sobre orgia, camboys e strip-tease -e que deram um jeito de driblar as plataformas para pôr nudez em cena.

Nada nesses espetáculos lembra o teatro presencial ou provoca a saudade de compartilhar o momento com uma plateia próxima. O que há de mais próximo do universo da pornografia parece mais adequado a esse consumo entre quatro paredes – e tecnicamente as produções são pensadas já para as plataformas em que vão ser veiculadas.

É nessa mesma plataforma que acontece “CAM”, da Companhia de Teatro Artera, em que o ator Davi Reis vive um camboy, um rapaz que se despe para as câmeras, e interage com o público.

Entram na apresentação desse camboy sarado reflexões sobre a sobrevivência financeira durante a pandemia – que se dá também na venda de nudes e trabalhos de exibição online – e sobre como ele vive a sexualidade nesse momento de quarentena, em que estamos distantes dos encontros físicos.

Quem procura uma experiência, digamos, que vá direto ao ponto, não vai encontrar nessas peças. “A linha tênue entre o teatro e a pornografia é também o discurso, e ficar ali simplesmente se exibindo e interagindo”, diz Ricardo Correa, diretor de “CAM”.

“As pessoas estão se virando para sobreviver num país em que o arroz custa R$ 25. Isso é um retrato desse vale-tudo que é o Brasil”, afirma o diretor.

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