sexta-feira, 22 novembro 2024
INVESTIMENTO EM CIÊNCIA

Brasil e Alemanha assinaram acordo para implantação do Laboratório de máxima contenção biológica

Acordo assinado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), CNPEM, Ministério da Saúde e o Instituto Robert Koch deve trazer R$ 1 bilhão para a construção do laboratório até 2026.
Por
Ana Flávia Defavari
Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, Luciana Santas, ministra da Ciência e Tecnologia, e Lars Schaade, presidente do Instituto Robert Koch — Foto: Lísia Gusmão/MCTI

Nesta segunda-feira (4), Brasil e Alemanha assinaram um acordo de cooperação para a implantação do laboratório de máxima contenção biológica, o NB4, que será construído no CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), em Campinas ao lado do Sirius, o acelerador de partículas brasileiro.

A implementação de um laboratório NB4 permitirá o estudo de patógenos capazes de causar doenças graves e com um alto grau de transmissibilidade o que permite o enfrentamento de eventuais pandemias.

O acordo foi assinado em Berlim entre o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), o CNPEM, o Ministério da Saúde e o Instituto Robert Koch da Alemanha.

A ministra Luciana Santos comentou após assinatura do acordo a importância de tal projeto. “A parceria do Instituto Robert Koch no planejamento, construção, operação, monitoramento e avaliação de instalações de nível de biossegurança 4, além dos trabalhos de pesquisa e das oportunidades de intercâmbio, é realmente uma prova do quanto é estratégica a cooperação entre Brasil e Alemanha” e completou “Tenho a convicção de que os dois países, como fortes líderes regionais e globais, poderão influenciar fortemente na solução dos problemas comuns a toda a humanidade”.

Também presente no evento a ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou a parceria entre Brasil e Alemanha e explicou que a criação do NB4 segue a estratégia traçada no Ministério da Saúde para o enfrentamento de eventuais pandemias. “Elas podem acontecer, assim como já ocorreram, e precisamos estar cada vez mais preparados para utilizar a nossa expertise nas múltiplas áreas de conhecimento e também munidos do que há de mais avançado em tecnologia. Precisamos investir cada vez mais na biossegurança e na ciência em prol da saúde pública para tentar evitar doenças de impacto massivo”, ressaltou.

Orion
Projeto anunciado em agosto de 2023, o complexo laboratorial de máxima contenção biológica foi batizado de Orion e será o único no mundo a ser conectado a uma fonte de luz síncrotron (Projeto Sirius). Atualmente o CNPEM opera uma das três fontes de luz síncrotron de quarta geração do mundo, o Sirius, que utiliza aceleradores de elétrons para produzir um tipo especial de luz.

A luz síncrotron é utilizada para investigar a composição e a estrutura da matéria em suas mais variadas formas, com aplicações em praticamente todas as áreas do conhecimento, algo que pode ser simplificado à um raio x hiperpotente que possibilita estudar diversos tipos de materiais nas menores estruturas do material como átomos e moléculas.

A construção do Orion está incluída no Novo Programa de Aceleração do Crescimento e deve receber R$1 bilhão em recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico) até 2026. Assim como o Sirius, o NB4 será uma infraestrutura aberta e a serviço dos desafios da saúde pública do país.

O complexo terá cerca de 20 mil metros quadrados e está previsto para ser concluído em 2026, após essa etapa, o Orion passará pelo comissionamento técnico e cientifico e por certificações internacionais de segurança para ter o titulo de NB4 e entrar em operação regular.

O nível de segurança NB4 é o mais alto em biossegurança na atualidade, um laboratório com esse nível pode manter amostras de agentes exóticos e perigosos que exponham um alto risco de contaminação de infecções que podem ser fatais para o estudo aprofundado e desenvolvimento de possíveis prevenções, diagnósticos, curas e vacinas.

No caso do laboratório brasileiro além de armazenar e manipular esses agentes biológicos, o Orion terá acesso exclusivo a três linhas de luz (estações de pesquisa com Luz Síncrotron) do Sirius, algo que nenhum outro NB4 possui.

Segundo Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM além das instalações laboratoriais em NB3 e NB4 e das estações de pesquisa em conjunto ao Sirius, o projeto contará com laboratórios de pesquisa básica, técnicas analíticas e competências avançadas para imagens biológicas, como microscopias eletrônicas e criomicroscopia.

O diretor ainda comenta que a colaboração com o Instituto do governo alemão que é responsável pelo controle e prevenção de doenças. “O Instituto Robert Koch é um dos centros de referência mundial na área de pesquisas em biomedicina, com particular ênfase em patógenos. A parceria terá papel importante não apenas durante a execução e desenvolvimento do projeto Orion, mas também ao auxiliar na mobilidade e treinamento de pesquisadores, na realização de pesquisas conjuntas e, de forma mais ampla, na área de saúde, do diagnóstico e do desenvolvimento de vacinas”, ressaltou.

Um dos pontos mais importantes da implementação do Orion e do projeto laboratorial em si está na capacitação de cientistas brasileiros para lidar com agentes infecciosos desse tipo através de parcerias com instituições internacionais de referência e treinamentos no exterior e atividades práticas em ambiente-modelo (Laboratório Mockup), no próprio CNPEM tudo já previsto dentro do orçamento de R$ 1 bilhão.

Segunda Fase do Sirius
Com a construção do Orion, o projeto Sirius entra em sua segunda fase com a construção de 10 novas linhas de luz (estações de pesquisa). Projetado para ter até 38 linhas de luz, 14 foram concluídas durante a primeira fase do projeto e com o novo PAC, o MCTI irá destinar R$800 milhões para o avanço na segunda fase.

Durante a ampliação das linhas, outras três serão construídas e conectadas ao Orion (essas dentro do orçamento do laboratório). Assim como as linhas do Sirius, essas terão seus nomes inspirados pela fauna e flora brasileira, sendo a Hibisco, Timbó e Sibipiruna.

As três linhas, segundo o diretor do CNPEM, devem ser entregues justamente com toda a estrutura voltada para pesquisa básica, técnicas analíticas e competências de bioimagens previstas para o Orion.

Projeto Orion – Foto: CNPEM/Divulgação
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