terça-feira, 26 novembro 2024

“Consciência” negra

Marcos Barbosa
Jornalista na Visual Assessoria
 

No último fim de semana, tive a oportunidade de assistir a um filme, premiado com Oscars, Globo de Ouro, BAFTA e tantos outros, que fez todo sentido ser exibido nessa época e abordar a escravidão, o racismo e o preconceito a negros.
O nome? 12 anos de escravidão.
O filme foi veiculado pela TV Globo, na sessão de filmes “Supercine”, no sábado. Apesar de tarde, fiz questão de assistir até o final. Filmes como este nos faz refletir e entender a dívida eterna que teremos com os negros, que há anos foram escravizados e pior, tratados como animais por brancos que se sentiam superior por possuir pele mais clara. Não há tempo que cure tal crueldade cometida.
Esta semana, na maioria das cidades, com exceção de Americana, Indaiatuba e algumas outras, o dia da Consciência Negra não foi dado como feriado.
Entendo e respeito, mas mesmo assim, vale a reflexão sobre a data e o que ela representa.
Sei também que muita gente sequer procura saber sobre isso e a única coisa que pensam é sobre ir à praia, programar viagens e passeios.
Em tempos como os atuais, é mais do que importante que portemos o conhecimento sobre o passado, afinal, acredito que durante tantos anos de ensino, nos colégios, a maioria das pessoas deve ter aprendido, mesmo que o mínimo, sobre escravidão, diversidade e o racismo em si.
Mediante a isto, o respeito para com o próximo é indispensável, assim como, a não tratativa do que diverge de nós como minoria ou inferior.
É preciso ter consciência de que somos diferentes um dos outros e é isso o que nos une.
Desde cedo somos habituados a nos prostrar a padrões em que muitas vezes nem àqueles que o criaram são capazes de se encaixar. É doloroso demais ver o preconceito e o racismo em si, mesmo que velado, ainda acontecer.
Pessoas ironizam o movimento, descaracterizam conquistas, julgando como “privilégios”; e coloco a palavra entre aspas, pois é como deve estar.
Não trata-se de privilégio, nada mais é do que resultado do massacre que cometemos para com os descendentes desse povo, que trabalharam e marcaram essas terras com o próprio sangue.
E se mesmo assim não for possível ver de outra forma, que a prática de “privilégios” a estes, sejam vistos pelo menos como incentivo.
Na última eleição vi muita discussão a respeito de cotas, que é ilegítimo, que somos todos iguais e que merecemos a mesma competitividade, seja no mercado de trabalho ou educação. Mas quando olhamos ao redor é possível notar que não há como ter livre concorrência se os meios sociais não são os mesmos.
Podemos julgar igual a oportunidade entre o negro que nasceu na favela, morando em um barraco, sem saneamento, sem comida na mesa todos os dias; e o branco, de classe média baixa, nascido em um bairro qualquer, que mora em casa de alvenaria, com água e esgoto encanado, que apesar do baixo salário dos pais, a comida nunca faltou à mesa? É fácil falar quando não se está incluso na realidade do outro.
Onde mora a empatia, compaixão, sororidade na hora do julgamento?
De acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE, mais de 54% da população brasileira se declara negra. Diante disso tratá-los como minoria já não se pode, os números escancaram a realidade.
No filme, o personagem principal, Salomon Northup, negro, livre, que sabia ler e escrever, bem sucedido, em plena escravidão acabou confundido e escravizado. Se posso aqui pedir algo a todos e principalmente aos negros é que não deixem essas conquistas ou “privilégios”, como a maioria costuma chamar, morrerem. A luta para chegar até aqui foi grande.
Não deixem que governantes e outras pessoas descaracterizem ou diminuam aquilo que é de seu direito. Ainda há muito que reaver a vocês.
Espero aqui estar fazendo a minha parte.
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