Pouco conhecida até por peritos criminais especializados em toxicologia, uma nova droga sintética que contém a substância N-etilpentilona vem sendo consumida em festas raves e pode levar à morte. Segundo dados da Polícia Federal, algumas apreensões já foram registradas em cidades como Campinas, Bragança Paulista e Serra Negra, Blumenau, Curitiba, Brasília e em Itajaí. A ‘potência’ da nova droga foi analisada em laboratórios da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O primeiros caso de morte registrado causado pela N-etilpentilona foi o de Carlos Henrique Santa Oliveira, 32, de Aracaju (SE), em julho de 2017. Segundo dados da SSP (Secretária de Segurança Pública) da capital sergipana, este pode ter sido o primeiro caso de morte causada pela nova substância no Brasil – e o segundo em todo o mundo. Outro registro de morte possivelmente provocado pela nova droga foi nos Estados Unidos, no início do ano passado.
A universitária Ana Carolina Lessa, 19, fez uso de droga sintética antes de morrer, no dia 23 de junho deste ano em uma rave, e foi o primeiro caso de Brasília. Na RMC (Região Metropolitana de Campinas) quatro pessoas foram internadas no hospital da Unicamp devido ao uso da N-etilpentilona. Um dos pacientes ficou em estado vegetativo com danos neurológicos depois de um AVC. Os nomes não foram divulgados.
De acordo com informações da PF, a nova droga é vendida em forma de comprimidos, líquida e em pó. Uma porção pequena custa entre R$ 100 e R$ 150. Ela pode ser misturada na água, suco, bebida alcoólica e energéticos.
TESTES
Os exames toxicológicos para confirmar a presença da N-etilpentilona no sangue dos seis casos brasileiros descobertos até agora foram realizados no Laboratório de Toxicologia Analítica do CIAtox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas), na Unicamp.
Segundo informações de José Luis da Costa, toxicologista e professor da Unicamp, como a N-etilpentilona é uma droga ainda com pouca informação sobre sua toxicologia e farmacologia (ela entrou no registro de entorpecentes da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – apenas em março de 2017),os profissionais do CIAtox tiveram que desenvolver e validar um método analítico para a quantificação da substância em amostras de sangue e urina para diagnóstico das intoxicações.
As pesquisas começaram em 2017, para a confecção do laudo pericial de Carlos Oliveira a pedido da polícia de Aracaju. “Descobrimos que as concentrações de N-etilpentilona no sangue humano variaram de 7 a 170 ng/ml. Ou seja, as análises de sangue mostraram que pequenas quantidades são suficientes para provocar danos no organismo” comenta Costa.
Segundo o professor, a substância causa euforia, agitação, aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, agitação, comportamento agressivo, convulsões e alucinações.
APREENSÕES SÃO REGISTRADAS DESDE 2016
Segundo dados da Polícia Federal, a primeira apreensão da nova droga sintética no Brasil, já em forma de comprimidos, foi registrada em Blumenau (SC), em 2016. A partir daí, novas apreensões foram feitas, principalmente nas regiões Sudeste e Sul, como em Florianópolis em 2017, quando foram recolhidos e periciados 6 mil comprimidos, além de aproximadamente 550g em pó.
De acordo com os dados divulgados pela PF, a N-etilpentilona foi a segunda substância mais detectada entre as drogas sintéticas em 2017. Foram 816 comprimidos e 29,5 kg de cristais apreendidos e periciados em 2017. Isso representa o dobro da quantidade de cristais da substância do ecstasy, a MDMA, apreendidos e que passaram por perícia no mesmo período.
A PF já apreendeu a nova droga em Campinas, Bragança Paulista e Serra Negra. Foram quatro casos em 2017 e um caso em 2018, totalizando 212 unidades da substância.
Em Itajaí, em junho desse ano, a PF realizou uma operação que apreendeu uma embalagem contendo a nova droga sintética que seria usada em festas de música eletrônica do Vale do Itajaí. A quantidade de droga existente na encomenda seria suficiente para produzir cerca de 5 mil comprimidos. Outras apreensões foram feitas em Brasília e no Rio Grande do Norte.
Segundo informações de relatórios da ONU (Organização das Nações Unidas), essas drogas são produzidas principalmente na China, 90% delas, e no Leste Europeu. Esse tráfico geralmente acontece nos aeroportos, onde as pessoas escondem nas bagagens na maioria das vezes e trazem em pequenas quantidades.
O Tenente Coronel PM, Mauro Luchiari Júnior, comandante do 19º Batalhão da Polícia Militar do Interior, diz que a N-etilpentilona ainda não foi apreendida na região de Americana e cidades que compõem a base do seu comando.
“Apreendemos drogas todos os dias, mas são as chamadas drogas de rua. As drogas que são consumidas em raves, festas fechadas, são mais caras e mais difíceis de serem apreendidas pela polícia. Isso acontece quando há denúncias e casos fatais”, explicou.
Na Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de Americana, também não há informações sobre a N-etilpentilona e nem prisão de traficantes dessa nova droga sintética na região.