O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) deve firmar um acordo nesta terça-feira (05) com a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein para colaboração científica de pesquisa, ensino e inovação, uma busca de soluções aos desafios que novos vírus e doenças genéticas trazem para a sociedade atual.
O acordo que vem sendo montado há um ano prevê o intercâmbio de pesquisadores entre as instituições para a utilização de equipamentos e infraestrutura no estudo de vírus emergentes, como a Covid-19, na pesquisa de tratamentos para doenças genéticas e engenharia de tecidos, entre outros.
Mais que os avanços nas áreas com estudos já em andamento e novas pesquisas que podem impactar a saúde mundial, a colaboração entre os dois centros de estudo e pesquisa amplia os campos de formação e a retenção de pesquisadores no Brasil, que tem o costume de deixarem o país pela falta de investimentos e estruturas.
A parceria vem de um campo de consenso entre a comunidade científica pela necessidade de ampliar a capacidade de detecção e estudos de novos vírus principalmente em decorrência dos últimos números da saúde brasileira que mostram diversos desafios, como a epidemia de dengue, que em 2024 já ultrapassou 1 milhão de infectados assim como os surtos de outras arboviroses como a Zika e a Chikungunya e o ainda presente e ativo Covid-19.
Ambas instituições são nomes de peso na comunidade cientifica brasileira. Foi no Einstein a primeira detecção do novo coronavírus no Brasil, assim como foram seus laboratórios os responsáveis por identificarem um novo tipo de arenavírus, responsável pela febre hemorrágica em humanos.
O CNPEM pela sua extensa área de pesquisas possui uma série de competências na pesquisa de patógenos, com a vantagem do uso do Sirius, que atua como um “raio x superpotente” sendo capaz de analisar as estruturas em escala atômica e molecular, o que facilita o avanço do conhecimento sobre como as infecções estudadas se desenvolvem e a busca por tratamentos.
PESQUISAS
Um dos eixos da colaboração científica entre ambos é a ampliação do conhecimento e tratamento das doenças genéticas.
O Einstein no momento está organizando estratégias de tratamento em doenças como a Anemia Falciforme que causa a alteração dos glóbulos vermelhos do sangue e afeta milhares de pessoas no Brasil.
Já o CNPEM estuda tratamentos que possam ajuda na mucopolissacaridose tipo 1, uma doença rara que provoca o acumulo de substâncias nos tecidos e afeta múltiplos órgãos, “tirando décadas de vida”.
É esperado um salto nas pesquisas com a conclusão da construção do Orion, o complexo laboratorial do CNPEM que permitirá pesquisas com patógenos de alto grau de transmissibilidade (classes 3 e 4) por ser uma estrutura de máxima contenção biológica, algo que ainda não existia na América Latina.
ORION
Por se tratar de um laboratório de máxima contenção biológica, as equipes que atuaram no Orion tiveram de passar por treinamento com referência internacional em biossegurança.
Em 23 de fevereiro, uma das equipes do CNPEM, composta por pesquisadores, engenheiros e técnicos, foi certificada pela Universidade da Califórnia Irvine (UCI Irvine) e agora além de estarem certificados a trabalhar em laboratórios de nível de biossegurança 3 (NB3) podem oferecer treinamento a outros profissionais.
O treinamento da equipe feito pela UCI Irvine foi realizado presencialmente nas instalações do CNPEM e simulou diversas situações relacionadas as rotinas de pesquisa, documentação e manutenção de ambientes de NB3.
A capacitação que agora é oferecida no Centro de Treinamento do CNPEM conta com atividades teóricas e sessões práticas realizada em um espaço mock-up, um laboratório de treinamento fiel à instalações reais de um laboratório de máxima contenção biológica já existente no CNPEM. Neste espaço, os pesquisadores em treinamento irão exercitar protocolos de segurança sob a supervisão de profissionais.
A primeira turma começou seu treinamento em 26 de fevereiro e é composta por oito profissionais da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).
“Esperamos capacitar profissionais de diferentes instituições do Brasil e também de países da América Latina. Ainda neste ano, devemos ter, outros turnos de treinamento. Há um consenso entre todos os atores envolvidos no Projeto de que essa frente é fundamental para gerarmos os melhores resultados com toda infraestrutura que será disponibilizada no Orion, fortalecendo também a comunidade acadêmica que já atua em laboratórios NB3”, destaca Tatiana Ometto, especialista em biossegurança de máxima contenção biológica do CNPEM.