sexta-feira, 22 novembro 2024
DO RENASCIMENTO À TRADIÇÃO

A história da Páscoa e a simbologia dos coelhos e ovos misturam tradições

A Páscoa tem origens antigas, que mesclam memórias pagãs de celebração da primavera com a ressurreição de Jesus Cristo. Os coelhos, associados à fertilidade, e os ovos, símbolos de renascimento, foram incorporados à celebração ao longo dos séculos, representando novas vidas e esperança
Por
Ana Flávia Defavari
Foto: Ilustrativa

Já é comum sempre que a Páscoa se aproxima e o mês de março começa vermos decorações de coelhos e a venda dos ovos de chocolate, mas para entendermos como o Coelho e os ovos vieram a se tornar um símbolo pascal precisamos primeiro compreender o que é a Páscoa. Assim como muitas festividades no calendário moderno, a Páscoa tem diversas histórias de surgimento seja ela no cristianismo ou na cultura pagã.

Para entender primeiro devemos compreender o surgimento da palavra Páscoa. Em português, a palavra páscoa pode ser relacionada a três idiomas “Pessach”, no hebraico, “Pascha”, no latim, e “Paskha”, no grego. “Pessach” é a etimologia mais aceita pelo seu vínculo com a história de surgimento cristã já que “Pessach”, que significa passagem, se refere a festa celebrada em recordação da saída e libertação do povo hebreu do Egito que coincide datas com a celebração da ressureição de Jesus Cristo.

Ostara, Ostera, Eostre ou Ēostre era a deusa da fertilidade, amor e do renascimento nas mitologias anglo-saxã, nórdica e germânica e durante as celebrações da primavera, as lebres e ovos coloridos eram os símbolos de fertilidade e renovação associados a ela.

Legenda: Quadro “A Virgem com o coelho” de Tiziano Vecellio

Alguns historiadores veem Ostera como uma versão da deusa Eos, da mitologia grega, a deusa do amanhecer. Outros dizem que ela é uma das inúmeras formas de Frigg, da mitologia escandinava dita como esposa de Odin, ou apenas um epiteto para a forma jovem e primaveril de Frigg. Outros pesquisadores a associam à Astarte, deusa Fenícia, e Istar, deusa Babilônica, devido às similaridades em seus respectivos festivais da primavera.

Mas, como essas diversas celebrações teriam virado a Páscoa como atualmente conhecemos, tendo o coelho e os ovos como principais símbolos? Novamente tudo é em decorrência da absorção de diversas práticas e celebrações, conforme o mundo foi passando por suas inúmeras mudanças em religião, poder e entendimento pessoal tudo foi sendo adaptado.

Legenda: Representação gráfica moderna do circulo de três lebres

A relação mais comum que se tem do coelho com a Páscoa na cultura pagã é a associação com a fertilidade em decorrência a sua capacidade de reprodução. Tradicionalmente, Ostara tem o coelho como símbolo por conta de uma de suas lendas que contavam que Ostara teria transformado um pássaro em coelho para o entretenimento das crianças que a acompanhavam, em algumas versões do conto o animal teria ficado descontente de sua nova forma e pedido para retornar a sua origem e quando Ostara concedeu o pedido, o pássaro teria dado a deusa germânica ovos coloridos que ela teria distribuído entre as crianças que a seguiam.

Legenda: Janela do cemitério da Arquidiocese de Paderborn

No cristianismo, a associação inicial é com a lebre que ao passar dos anos foi sendo substituída pelo coelho por ser um animal mais dócil. Em diversas iconografias cristãs, principalmente, em obras criadas na idade média, a lebre ou o coelho apareciam com uma relação com a virgindade fazendo com que o animal aparecesse junto a Virgem Maria. Especulasse que a origem dessa colocação se deva pelo fato de muitos acreditarem que o animal se reproduzia assexualmente. Em outras iconografias cristãs como em igrejas medievais é visto muito um círculo de três lebres interligados pelas orelhas seja em conjunto a cruzes ou sozinhas como na Catedral de Paderborn na Alemanha que este símbolo está presente pelo cemitério da igreja em suas janelas.

As lebres interligadas seriam além da representação da castidade, a representação da própria Santíssima Trindade.

Existem também lendas dentro do Cristianismo que apontam o coelho como o primeiro ser a presenciar a ressureição de Jesus Cristo, sendo visto assim, como um símbolo de renovação, esta que é entendida dentro da teologia cristã como um sinônimo de ressureição, já que na época em que a páscoa é celebrada, o coelho é um dos primeiros animais a serem vistos após o fim do inverno.

Apesar das diversas conexões, o coelho foi apenas se consolidar completamente como um símbolo pascal entorno do século XIX quando a Páscoa se tornou a celebração que conhecemos atualmente.

Enquanto, a ligação dos ovos aos coelhos, a primeira menção de que os pequenos mamíferos traziam os ovos remonta um texto germânico de 1572 tendo sido consolidado no século XVII, a história de que o coelho da Páscoa trazia ovos decorados para as crianças boas.

A prática de decorar ovos têm diversas origens, como o povo persa que decorava ovos durante uma comemoração no equinócio de primavera, para a cultura chinesa, os ovos eram um importante símbolo de renascimento e a sua decoração celebrava tal momento e o povo eslavo da região da atual Ucrânia também decorava ovos em suas celebrações. Dentro do Cristianismo Ortodoxo, o ato de pintar os ovos de vermelho é comum e ainda existiam histórias relacionando os ovos à Maria Madalena.

Legenda: Ovos coloridos ucranianos

A tradição de associar o coelho com os ovos foi levada do oriente aos Estados Unidos por imigrantes por volta do século XVIII, onde a história se popularizou e transformou-se em um dos símbolos da Páscoa Moderna. Os ovos de chocolate só vieram a substituir os ovos de galinha decorados que eram trazidos pelo coelho no século XVIII, após a popularização por meio dos confeiteiros franceses.

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