Seu nome, Asaph, é uma variante de Asaf, um dos escolhidos para dirigir os cânticos na Casa do Senhor. Por um destes acasos da vida, o campineiro Asaph, de seis anos, veio mostrar ao mundo que também é um guerreiro, lutando pela vida.
Diagnosticado com um tumor cerebral pelo Centro Infantil Boldrini – referência no Brasil em tratamento infantil – em julho do ano passado, Asaph teve de ser submetido a duas cirurgias em menos de um ano. Apesar das intervenções, o tumor retornou em uma região mais delicada e por isso o garoto segue em acompanhamento médico.
Apaixonado pelas forças policiais e por veículos antigos, recentemente o garoto foi surpreendido ao sair de mais uma consulta no Boldrini.
Frequentador da mesma igreja que a família de Asaph, o fotógrafo campineiro e ex-tenente da Marinha Djair Martinez ficou sensabilizado com a batalha do menino e de sua família.
A mãe de Asaph, a assistente social Joice Leite Barbosa, 33, contou que o filho é colecionador das miniaturas dos carrinhos da marca Hot Wells.
Joice e o marido, Bruno, tiveram de deixar seus trabalhos para se revezar nos cuidados com o filho. Eles têm outra filha, de 4 anos. “Eu fiquei sensibilizado ao saber de tudo que estavam enfrentando, principalmente da luta que esse menino tem travado diariamente pela vida. Isso me comoveu e quis ajudar de alguma forma. Como sabia dessa paixão dele por carro e por fardas, decidi prestar minha homenagem”, disse Matinez.
E foi assim que, há 15 dias, Asaph foi surpreendido pela presença de Martinez na recepção do Boldrini, vestido com uma farda da Marinha e a bordo de um veículo do modelo MP Lafer, ano 1977. “Quando ele me viu ficou nitidamente emocionado e foi logo entrando no carro”. Martinez relembra que, durante o percurso de pouco mais de 15 minutos por Campinas, Asaph fazia questão de acenar para as pessoas, principalmente quando se deparava com viaturas policiais. “O carro tem uma sirene ao invés de buzina, e ele se realizou tocando-a sem parar nas ruas”.
São exemplos para nós
Depois de seu gesto de solidariedade, Martinez diz que a vida ganhou um significado ainda maior. “Assim como o Asaph, existem tantas outras crianças por aí que não curvam a cabeça para a doença, pelo contrário. Eles a levantam ainda mais cheios de força. São um exemplo para nós adultos e nos ensinam muitas coisas. Quem mais ganhou com essa história não foi ele, mas sim, eu. Me orgulho por ter conduzido um grande guerreiro. Aquele momento nunca mais sairá de minha cabeça”, diz.
Tombo na escola levou ao diagnóstico do primeiro tumor na cabeça
A luta pela vida de Asaph começou cedo. A assistente social Joice Barbosa (mãe de Asaph), conta que ele sempre foi uma criança normal, sadia e sorridente. Mas um tombo rotineiro na escola, em julho do ano passado, mudou radicalmente suas vidas. “Ele bateu a cabeça e o levamos para fazer um exame. Foi assim que descobrimos que ele tinha um tumor na cabeça. Ele teve de ser encaminhado imediatamente para o Boldrini”, relembra.
Depois de uma bateria de exames os médicos diagnosticaram um tumor que tinha o tamanho de um limão e ele foi submetido a uma cirurgia de emergência. Sete meses após a primeira cirurgia, Asaph necessitou passar por mais uma intervenção para retirada de células cancerígenas que haviam ficado na região. “Durante todo esse tempo convivemos com essa triste realidade, pois as cirurgias eram de risco tanto de morte quanto de sequelas”, contou Joice.
Asaph parou de ir à escola e iniciou sessões de radioterapia e quimioterapia. Há três meses, no retorno de uma consulta foi diagnosticado que o tumor havia voltado, porém, desta vez, para a parte de trás da cabeça, numa região mais complicada de se operar e com riscos maiores. Por isso, seu caso segue em tratamento e estudo pela equipe médica. Na última sexta-feira, dia 14, o menino passou por mais uma bateria de exames e seu estado de saúde está estável.
“Hoje, vivo como se fosse o último dia de nossas vidas. Não espero amanhã para viver esse amor. Creio e vivo com a perspectiva desse milagre porque acredito na cura dele”. Bruno, pai de Asaph, também é confiante na recuperação do filho e, para mostrar que estavam juntos, raspou a cabeça assim que o filho perdeu os cabelos por causa das sessões de quimioterapia.
‘Policial militar por um dia’
Asaph sempre gostou de fardas, e diz com convicção que quer ser policial militar quando crescer. Quando foi diagnosticado com o tumor e precisou ser operado de emergência, sua mãe conheceu o trabalho da ONG Make a Wish, que tem o objetivo de realizar sonho de crianças de 3 aos 17 anos, portadoras de alguma doença que coloque suas vidas em risco. “Decidi escrever uma carta contando o desejo dele de ser policial”.
A mobilização dos voluntários da ONG foi imediata.
Para isso, entraram em contato com o Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar em Campinas. Coube ao tenente-coronel Marci Elber Rezende articular toda ação que resultou na surpresa de Asaph. Em uma das salas do Boldrini, ele e outros policiais esperaram pelo garoto. “Eu me aproximei dele e perguntei se estava pronto para realizar o maior sonho da vida dele que era ser policial. Ele disse que sim e o presenteamos com uma farda”.
VISITA – Depois disso, Asaph foi levado até a sede do grupo com o pai, Bruno Dias Barbosa, em uma viatura com as sirenes ligadas. Lá, foi recebido por outros policiais e também pelo cachorro “Pegus” que o acompanhou por todos os lugares durante sua visita guiada.
Ele estava acompanhado da irmã Deborah, então, com 3 anos. Andaram a cavalo e receberam presentes. “Sempre que podemos realizamos o desejo das pessoas, mas geralmente nos pedem para conhecer as viaturas, a instituição, mas o caso do Asaph era diferente. Ele queria ser um de nós, e não temos dúvida que esse pequeno guerreirinho vai vencer essa luta e ainda nos orgulhar muito. Nós sempre estaremos com ele”.
ONG se especializou em realizar sonhos
A história do campineiro Asaph Barbosa se mistura à do responsável pela fundação da ONG Make a Wish (Faça um pedido, em inglês),o norte-americano Chris Greicius, de 7 anos. Em 1980, o garoto foi diagnosticado com leucemia, mas Chris já havia confessado o sonho de ser policial e teve seu pedido realizado em um dia especial junto à polícia norte-americana.
Segundo a coordenadora regional da Make a Wish, em Campinas, Célia Rodrigues Enge, a ONG chegou ao Brasil em 2008 e já atendeu mais de 2,1 mil crianças e adolescentes. Ela conta que quando soube da história de Asaph se sensibilizou pela semelhança com a de Chris. “Ele foi literalmente adotado por nós, e estamos muito felizes de saber que ajudamos na realização do seu sonho porque essa é a nossa maior missão, e graças a Deus, ele está vivo e lutando muito para vencer”.
REFERÊNCIA – Fundado pelo Clube da Lady de Campinas em 1978, o Centro Infantil Boldrini tornou-se referência no tratamento infantil. Além da missão principal do diagnóstico e tratamento dos pacientes, assumiu um importante papel em programas de educação e capacitação de médicos e outros profissionais de saúde.
Construído exclusivamente com doações o Centro Infantil Boldrini conta com tecnologias de ponta que auxiliam no diagnóstico e tratamento do câncer e de doenças hematológicas.