Morreu na tarde de hoje, aos 80 anos, em Campinas, Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, técnico responsável pela revolução no futebol do Rio Branco de Americana e por transformar o clube em um dos maiores reveladores do talentos do futebol brasileiro na década de 90. O ex-treinador estava em observação médica desde quando sofreu uma AVC (Acidente Vascular Cerebral), em abril do ano passado, e recebia assistência constante.
Cilinho teve três passagens pelo Tigre, em 1992, 93/94 e 2012, seu último trabalho em um time de futebol. Quando treinador promoveu nomes importantes à equipe principal, como Márcio Rocha, Flávio Conceição, entre outros. Do seu trabalho de garimpagem, desembarcaram no Décio Vitta nomes como Souza, Sandoval e Sinha, além de enorme legado nas categorias de base, que passaram a revelar nomes como Marcos Assunção, Alexandre, Marcos Sena e Mineiro.
Em contato com o TODODIA, Edison Fassina, diretor do Tigre nos anos de ouro do clube, lembrou do convívio com Cilinho, com quem trabalhou em suas três passagens por Americana. “Foi o treinador mais inteligente que vi na vida. Folclórico, divertido, cheio de histórias, uma pessoa que tenho uma admiração muito grande. O trouxemos para promover uma transformação total nas bases do Rio Branco, que praticamente inexistiam, e foi o que aconteceu”, colocou.
“Aprendemos tudo sobre formação de base, da captação de jogadores, de colocar um olheiro em cada estado, ele nos ensinou e fomos bons alunos. Estava anos-luz à frente dos demais técnicos de sua época. A revolução que o Rio Branco promoveu nos anos 90 tem um nome: Cilinho”, opinou o dirigente, que trabalhou com Cilinho também no acesso do América de Rio Preto à elite paulista em 1999.
Márcio Rocha, na época, o lateral Marcinho, alçado aos profissionais do Rio Branco por Cilinho diz que ele era um espelho àqueles que o cercavam. “Se um dia eu for treinador profissional e mesmo trabalhando em projetos sociais vou seguir os métodos do Cilinho. Para mim, ele era muito superior à época, inclusive, o que o Flamengo joga hoje ele já implementou no Tigre de 92, sem referência, com homens de velocidade, como eram Mazinho e Júnior, na frente”, lembrou.
“Estou muito triste, ele era minha referência, gostava demais do Cilinho. Aprendi muito com ele. Trabalhava variações, visão de jogo espetacular, mudou muitos jogos no intervalo. Um ícone, um gênio, que não foi aproveitado como deveria por equipes maiores. Esse pode ser chamado de professor de futebol”, completou o ex-atleta.
Somando as três passagens, de acordo com dados do historiador Gabriel Pitor de Oliveira, Cilinho dirigiu o Rio Branco em 57 partidas, tendo obtido 26 vitórias, 18 empates e 13 derrotas. Foi sob seu comando que o Tigre alcançou o triunfo com placar mais elástico em sua história: 7 a 0 sobre o São Simão, em Jacareí, em 1993, um dos 16 amistosos realizados Brasil à fora para garimpo de jogadores.
CARREIRA
Nascido em 9 de fevereiro de 1939, em Campinas, Cilinho iniciou a carreira de treinador bastante jovem, aos 27 anos, na Ferroviária de Araraquara. Três anos depois assumiu a Ponte Preta, de sua cidade-natal, montando a base que ascenderia à primeira divisão em 1969 e seria vice-campeã paulista no ano seguinte – é o técnico que mais dirigiu a Macaca até hoje, com nove passagens pelo Moisés Lucarelli.
O auge da carreira veio em meados dos anos 80, quando montou no São Paulo a geração apelidada de ‘Menudos do Morumbi’, onde se destacavam nomes como Muller, Silas, Pita, Careca e Sidney. Foi campeão paulista em 1985 e 1987 e viu sua base vencer o Brasileirão de 86, sob comando de José Macia, o Pepe.
Ao longo de sua trajetória no futebol, além das três vezes em que dirigiu o Tigre americanense, trabalhou no Guarani, Corinthians, Portuguesa, Bragantino, XV de Jaú, São José e América de Rio Preto. Seu último trabalho, aos 72 anos, foi a montagem da equipe do Rio Branco campeã paulista da Série A-3 de 2012 – ele seria substituído por Luisinho Quintanilha ao longo daquela temporada.