Desde os Jogos Olímpicos de Pequim-2008, esta foi a primeira vez que o Brasil caiu na fase de grupos. É também a primeira vez que esta geração regride de colocação numa olimpíada: foi 9º em Pequim, 6º em Londres-2012 e 5º no Rio-20
A base da equipe que perdeu para a França era basicamente a mesma daquela que levantou a taça no Mundial da Sérvia, em 2013. Na ocasião, a equipe era treinada pelo dinamarquês Morten Soubak. Desde aquela conquista, restavam na seleção a goleira Barbara, Ana Paula, Duda e Alê.
“Mostramos para o mundo e para os brasileiros que o handebol é um esporte que deve ser levado a sério. Agradecer todo o carinho que a gente recebeu. Nossa missão é trazer esperança para as pessoas e mostrar que o esporte pode mudar a vida das pessoas e que vocês continuem torcendo para a gente”, pediu a goleira Barbara, após a eliminação.
Para piorar o cenário, a Confederação Brasileira de Handebol foi envolvida em uma série de escândalos. Em 2018, o presidente Manoel Luiz Oliveira foi afastado pela Justiça por suspeita de irregularidades na gestão. O seguinte, Ricardo Souza, renunciou em dezembro do ano passado depois de ser acusado de assédio sexual por uma funcionária.
Isso tudo contribuiu para que não houvesse uma grande renovação. Com o campeonato nacional estagnado, não há o interesse de antes na modalidade. Ainda não se sabe quem vai herdar o posto de Duda Amorim, grande expoente da geração, eleita melhor do mundo da categoria em 2014, e que não deverá voltar a vestir a camisa da seleção brasileira após os Jogos de Tóquio.
Fim de uma geração
A derrota para França por 29 a 22 marca o fim da geração mais vitoriosa do handebol feminino do Brasil. O apito final do último jogo da fase de classificação marcava a eliminação da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos. Acabava ali o propósito de existência daquele grupo específico de jogadoras. E provavelmente, acabava ali, também, o propósito olímpico de quatro mulheres em particular.
É um ritual de passagem tão grande quanto a formatura do Ensino Médio. A existência nunca mais será igual. A diferença é que estas quatro mulheres têm 30 anos para cima e muito mais compreensão do que está acontecendo. Sabem o tamanho da saudade que sentirão da vida de atleta. Ao passar pela na área de entrevistas, é possível ver os olhos vermelhos. Justo. Não seriam humanas se fosse diferente.
Aquelas quatro jogadoras em quadra que não devem estar em Paris-2024. A goleira Barbara, eleita a melhor da posição no mundial de 2013, tem 34 anos. Ana Paula, 33 anos; Alê, 39 anos; e Duda Amorim, 34. São as únicas campeãs mundiais do elenco que o técnico espanhol Jorge Dueñas convocou para Tóquio-2020.
Duda sempre foi a principal jogadora da seleção brasileira, incluindo a campanha no Mundial. Considerada um talento desde que era conhecida como a irmã de Ana Amorim (uma das primeiras brasileiras a jogar —e brilhar—no handebol europeu), já era campeã brasileira com 16 anos. Foi jogar com a irmã mais velha na Europa ainda adolescente e venceu cinco Ligas dos Campeões da Europa.
Foi escolhida melhor jogadora do mundo em 2014 e votada a melhor jogadora da década 2011-2020 em eleição popular da revista Handball Planet, uma das publicações mais influentes da modalidade no mundo.