quinta-feira, 28 novembro 2024

Pesquisador da Unicamp descobre em MG ‘minicrocodilo’ que viveu há 80 milhões de anos

Marcus Vinícius Soares integra grupo de trabalho que identificou o animal que viveu na região de Uberaba  

Arte simula como seria o pequeno crocodilo; nova espécie é a primeira descoberta na Formação Uberaba, em MG – Reprodução/ Júlia d’Oliveira/ UFTM

Pesquisadores identificaram um novo gênero e espécie de um pequeno crocodiliforme do Período Cretáceo Superior, há cerca de 80 milhões de anos, batizado como Eptalofosuchus viridi. A descoberta se deu após estudos com um fóssil encontrado em uma região onde hoje fica a cidade mineira de Uberaba. E o curioso é seu tamanho.

O animal que viveu em terras mineiras não era grande, possuía cerca de 40 centímetros de comprimento. “A estimativa de tamanho foi feita pelo tamanho da mandíbula desse fóssil em relação à proporção entre a mandíbula e o tamanho total do corpo de outros crocodiliformes parecidos. 40 cm seria o comprimento total da ponta do focinho à ponta da cauda”, explicou o palentólogo Thiago Marinho.

Além dele, Agustín Martinelli e Fabiano Iori, participaram do estudo os pesquisadores Luiz Carlos Borges Ribeiro, da UFTM; Giorgio Basilini e Marcus Vinícius Soares, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); e André Marconato, da USP (Universidade de São Paulo).

O novo gênero foi descrito em trabalho publicado no periódico internacional Cretaceous Research, um dos mais importantes da área de geociências. “Esta é a primeira espécie fóssil descrita para a unidade geológica chamada de Formação Uberaba, cuja ocorrência se dá principalmente abaixo da malha urbana do município homônimo”, disse Marinho, que é pesquisador da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) e participou do trabalho.

Onívoro, o “minicrocodilo” se alimentava de plantas e pequenos animais, além de ter convivido com dinossauros herbívoros gigantes como os titanossauros, grandes dinossauros predadores como os megaraptores e pelo menos outras duas espécies de crocodilos de hábitos carnívoros.

A descoberta

Apesar do estudo ter sido publicado somente nas últimas semanas de agosto, o fóssil foi descoberto em 1966 e desde então ficou no MCT (Museu de Ciências da Terra) do Serviço Geológico do Brasil, no Rio de Janeiro.

Em 2016, 50 anos mais tarde, Thiago Marinho, do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e Agustín Martinelli, do Museo Argentino de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia, de Buenos Aires (Argentina), em visita ao MCT, identificaram o pequeno bloco de rocha esverdeada contendo o fóssil.

O material então foi levado para Uberaba sob empréstimo e em seguida foi preparado por outro paleontólogo, Fabiano Iori, do Museu de Paleontologia Pedro Candolo em Uchôa (SP). Nesta etapa foi verificado que o material se tratava de um fragmento de mandíbula de um pequeno crocodilo com alguns dentes preservados, que ainda não tinha registro na formação geológica que foi encontrado.

Os fósseis da Formação Uberaba são conhecidos há mais de 70 anos, mas somente agora foi possível identificar uma nova espécie. De acordo com comunicado da UFTM, um dos fatores que dificulta a coleta de fósseis nas rochas da região é o fato de que a área principal dessas ocorrências está exatamente abaixo da malha urbana de Uberaba.

Sendo assim, não é raro que escavações para a construção civil e aberturas de poços acabem se deparando com fósseis, como foi o caso desta descoberta. Por isso, a descoberta se mostra importante para o futuro das pesquisas paleontológicas em Uberaba. “Uma vez que a população toma ciência das ocorrências de fósseis, certamente os olhares para as rochas estarão mais atentos e é aí que novas descobertas surgirão”, declara Marinho.

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