sexta-feira, 22 novembro 2024

Lakers no topo

Depois de dez anos, a NBA voltou a se pintar de roxo e dourado com a vitória do Los Angeles Lakers sobre o Miami Heat, na noite de domingo (11), por 106 a 93, que fechou a série final da liga norte-americana em 4 a 2 para o time da Califórnia.

Considerando que 11 das 30 franquias da NBA nunca foram campeãs, o jejum à primeira vista não parece ser o maior dos sofrimentos, mas o título veio para aliviar um período complicado para a equipe mais famosa da liga, dentro e fora de quadra, além de pontuar um acontecimento histórico.

Nos primórdios da NBA, o Lakers – que à época ainda representava a cidade de Minneapolis – encadeou cinco títulos nas oito primeiras temporadas da liga, abrindo larga vantagem como a franquia mais vencedora até então.

Porém, a partir de 1956-57, o Boston Celtics levou 11 dos 13 campeonatos disputados na sequência, seis deles em finais contra o Lakers, que já tinha se mudado para Los Angeles.

Desde então, o topo da pirâmide na maior liga de basquete do mundo sempre foi ocupado solitariamente por Boston.

Com a vitória em 2020, o Lakers se iguala aos grandes rivais, com 17 conquistas, finalmente alcançando o adversário numa corrida em que esteve em desvantagem por mais de 50 anos.

PERÍODO DIFÍCIL

O título também colocou fim ao período mais conturbado da história de uma franquia pouco acostumada a passar perrengue. Em 2010, numa série emblemática contra o Celtics, vencida por 4 a 3, o Lakers conquistava seu 16º título – o segundo seguido – e parecia em ótima posição para igualar a briga em pouco tempo. Só que o destino se escreveu de outra maneira: a equipe não retornou mais às finais e, entre 2014 e 2019, sequer se classificou aos playoffs.

Para uma franquia que deixou de ir ao mata-mata apenas cinco vezes nos primeiros 64 anos de existência, ficar seis anos consecutivos sem conseguir isso representou um insucesso ainda mais incômodo do que o normal.

A chegada do craque LeBron James em 2018 não impediu mais um ano de seca, mas após a troca com o New Orleans Pelicans, em junho de 2019, que trouxe o ala-pivô Anthony Davis, o Lakers voltou a se estabelecer como uma das melhores equipes da liga.

TRAGÉDIA DE KOBE

No entanto, a temporada ficou marcada pela trágica morte de Kobe Bryant. O ídolo fez os fãs da franquia – e do basquete – sentirem uma tristeza profunda em janeiro, quando o helicóptero que levava Kobe, a filha Gianna, de 13 anos, e mais sete pessoas a um jogo do time juvenil feminino que tinha Kobe como técnico e Gigi como estrela, sofreu um acidente nos arredores de Los Angeles. Todas as nove pessoas morreram. Lágrimas caíram, partidas foram adiadas, homenagens se multiplicaram e o luto perdurou.

James, cuja chegada a Los Angeles despertara a desconfiança de fãs do Lakers acostumados a torcer contra ele, logo atribuiu a si próprio a responsabilidade de levar o legado de Bryant adiante. Não haveria forma melhor de fazer isso do que carregando a franquia de volta ao lugar que costumava frequentar.

Antes desta temporada, o Lakers já era, de forma disparada, a equipe com mais participações em decisões: 32, onze a mais do que qualquer outro time.

LeBron James, que vinha de oito finais nos últimos nove anos, certamente era o atleta mais capacitado a entender o que era preciso para retornar ao principal palco do basquete norte-americano.

Anthony Davis, considerado por muitos o melhor jogador de garrafão da liga e talento raro, era o complemento ideal a ele.

LeBron James assumiu o papel de armador da equipe e liderou a liga em assistências, algo inédito na carreira.

Um reflexo disso foi que Anthony Davis, o maior beneficiado pelos passes de James, se tornou o cestinha do Lakers.

Ao longo dos playoffs, Davis foi o mistério que os adversários mais tiveram dificuldades para desvendar. Mas James foi a força que manteve o time funcionando. De forma justa, ele venceu o prêmio de MVP (Jogador Mais Valioso) das Finais, adicionando mais um feito simbólico ao título do Lakers. Pela primeira vez, um jogador conquistou esta honra por três franquias diferentes (no caso dele, por Lakers, Heat e Cavaliers).

“Fazer parte da história dessa franquia incrível é um sentimento inacreditável. Todos aqui, do técnico aos jogadores, assim como eu, queremos ser respeitados”, disse James, ainda na quadra. Ele se referia à descrença exagerada com relação ao sucesso dele e do time antes da temporada. LeBron foi campeão pela quarta vez na carreira.

Os fãs da franquia certamente não vão poder comemorar este título da mesma forma que os outros 16. A pandemia, além de transformar o modo de disputa do campeonato, realizado em um esquema de ‘bolha’, no complexo esportivo da Disney, eliminou qualquer possibilidade de os torcedores acompanharem as partidas in loco.

Porém, eles acordam com uma realidade dos sonhos depois de viverem um pesadelo por tantos anos.

LeBron James, beirando os 36 anos, segue com combustível para desafiar Michael Jordan como o maior de todos os tempos.

Anthony Davis, aos 27 anos, pode estar apenas no começo de uma época de domínio na liga. E pela primeira vez em muito tempo, ao olhar para o alto, eles não veem ninguém.

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