A música, por sua vez, é a mais pura das artes, não tem substância. É a ponte entre o mundo material e o mundo espiritual e invisível; o vinho, por evocar os sentidos, seria o complemento perfeito para a boa música.
Em um estudo publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, pesquisadores da Universidade de McGill (Canadá) e do Massachusetts General Hospital (Estados Unidos) relataram uma interessante descoberta em ralação à música. Utilizando a tomografia, detectaram as partes do cérebro que foram ativadas quando dez pessoas ouviram músicas que, segundo elas mesmas, lhes deram intenso prazer.
Verificou-se que, ao ouvir música, as pessoas acionaram exatamente as mesmas partes do cérebro que, em pesquisas anteriores, demonstraram relação com estados de euforia, prazer sexual, da alimentação e outros. O que comprova, definitivamente, a relação biológica entre música e prazer.
Quando se menciona a combinação ou harmonização de um vinho, supõe-se que seja com comida. Mas, por que não ir além e acrescentar mais complexidade a esta experiência sensorial? Já é notório que alimentos e bebidas evocam a todos os sentidos, menos a audição. A lenda nos conta que Dionísio, Deus grego do vinho e da fertilidade, teria inventado o tilintar dos copos para evocar este sentido, único ausente da degustação de um bom vinho. Teria sido essa a origem do ato de brindar. Nossos ouvidos, contudo, merecem não apenas o som do brinde, mas boa música. O vinho é a mais abrangente das bebidas, a que tem maior variedade e nuances. É a que mais apela ao cérebro e ao coração.
A música, por sua vez, é a mais pura das artes, não tem substância. É a ponte entre o mundo material e o mundo espiritual e invisível.
O vinho, por evocar os sentidos, seria o complemento perfeito para a boa música. Alguns nos entusiasmam, outros nos intrigam, nos trazem lembranças, outros surpreendem. Degustar vinho ouvindo música seria, então, uma maneira de tornar a emoção mais completa e complexa. Assim como harmonizar ostras com Chablis ou Sauternes com foie gras, algumas combinações de vinho e música poderiam se tornar clássicas, como tomar Champagne ouvindo standards de Cole Porter, que embalaram as grandes festas da Belle Époque, regadas com o nobre espumante.
Outra combinação candidata a se tornar um clássico é degustar um Bordeaux Grand Cru Classé ouvindo Beethoven. São clássicos entre os clássicos, sínteses do vinho e da música. Como uma versão moderna dessa harmonização, poderíamos apreciar um grande Cabernet Sauvignon californiano ao som de jazz, criações mais contemporâneas, dois clássicos surgidos no século XX.
Outra combinação estimulante é de um Chianti clássico com uma boa canção popular italiana. Típico, alegre e passional. Ou, ainda, pelo mesmo princípio, um Beaujolais Nouveau com “La Vie en Rose”. São leves, descompromissados e inconseqüentes. Pode-se harmonizar também por similaridade, como se faz ao servir vinho doce com a sobremesa. Por este princípio, poderíamos degustar um Shiraz australiano ouvindo rock and roll. Ambos potentes, não ortodoxos e, de certa forma, rebeldes.
As possibilidades são infinitas. Afinal, quantos tipos de vinho há no mundo? Quantos estilos musicais? How deep is the ocean? How high is the sky? Quantos são os sentimentos? Não espero que concordem com minhas combinações, mas que façam as suas próprias. Seja qual for seu estado de espírito, sempre haverá um vinho e uma música adequados.