Por Ailton Gonçalves Dias Filho
No próximo mês de fevereiro, a Semana de Arte Moderna completará 100 anos de sua realização no Teatro Municipal de São Paulo. De 13 a 18 de fevereiro de 1922, o evento reuniu inúmeras apresentações musicais, danças, recital de poesias, exposição de obras, pinturas, esculturas e palestras.
O mundo tinha acabado de sair de uma guerra. O Brasil começava os preparativos para a celebração dos 100 anos de sua Independência. O país experimentava algumas mudanças políticas, econômicas e sociais. As oligarquias cafeeiras de Minas e São Paulo dominavam o país com aquilo que passou para a história como a política do “café com leite”.
A migração do campo para a cidade começava sua expansão. Imigrantes europeus e japoneses continuavam a chegar no país. Esse era o contexto da Semana de Arte Moderna que se propôs apresentar uma nova estética cultural para interpretar a nova realidade.
Culturalmente falando, penso que a Semana de Arte Moderna começou em 1917, quando Anita Malfatti, recém-chegada do exterior, expõe sua obra em São Paulo. Exposição duramente criticada em artigo por Monteiro Lobato. Mas a exposição de Anita, em 1917, acabou sendo o embrião da Semana de Arte Moderna.
A proposta da Semana de Arte Moderna era uma nova visão da arte, com uma estética inovadora, recebendo sim influências da vanguarda europeia, mas apresentando uma arte mais brasileira. A Semana de Arte Moderna foi um rompimento com a arte puramente acadêmica.
Capitaneados pelo “Quarteto fantástico”: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Menotti Del Picchia, idealizam a Semana com alguns objetivos. Preconizavam a ausência de formalismo. Buscavam uma ruptura clara com o academicismo e o tradicionalismo. Num certo sentido, ela é uma crítica contundente ao parnasianismo. A Semana, em todos os dias do evento, buscava a valorização da identidade cultural brasileira. A influência externa era bem-vinda com uma fusão aos elementos brasileiros. Experimentações estéticas eram incentivadas. A liberdade de expressão, algo sagrado.
O evento inaugural ficou a cargo do escritor Graça Aranha, que proferiu palestra sobre “a emoção estética da Arte Moderna”. Sua palestra foi seguida de apresentações musicais e exposições artísticas. No segundo dia, novas apresentações musicais e palestra de Menotti Del Picchia. Nesse segundo dia, o poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira, foi lido. A leitura foi fortemente rejeitada por causa da crítica que fazia à poesia parnasiana.
Mas a Semana cumpria seu objetivo: trazer um certo choque à população e participantes. O fato é que, depois de 100 anos, a Semana de Arte Moderna ainda é considerada um dos marcos mais importantes na história cultural de nosso país. Ela continua a inspirar novos artistas, escritores, escultores, entre outros. Na história cultural de nosso país ela foi um divisor de águas. Até hoje desfrutamos de seu legado. É isso!