O MCTIC (Ministérío da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) vai liberar R$ 70 milhões para a conclusão da primeira etapa da construção do Sirius, acelerador de partículas brasileiro que está sendo implantado em Campinas, tido como o maior projeto do Brasil na atualidade na área da ciência e tecnologia. Com o aporte, serão R$ 134 milhões destinados ao projeto em 2018. O total já investido soma R$ 1,29 bilhão.
A obra, que ao todo deve custar cerca de R$ 1,8 bilhão, deve permitir que o Brasil assuma uma posição internacional destacada nos estudos que dependem desse tipo de dispositivo, como os que envolvem a visualização em altíssima resolução de estruturas de vírus e proteínas (de olho em novas vacinas), de solo (com a ideia de aprimorar fertilizantes) e de rochas e de novos materiais (para melhorar a exploração de gás e petróleo), por exemplo.
Com a liberação recém-anunciada, será possível concluir a obra civil (são 68 mil m², tamanho similar ao de um estádio de futebol) e finalizar a montagem dos três aceleradores que compõem o Sirius.
Trata-se de uma boa notícia em meio à estagnação e aos cortes que afetam a área da pesquisa científica no país. “Nada pode parar. Temos tido uma boa convivência com o Ministério do Planejamento. Nesses últimos anos, as deduções (do MCTIC) foram menores que as dos demais ministérios”, disse o ministro Gilberto Kassab.
Dessa forma, em novembro será possível que os elétrons acelerados pelo aparato deem sua primeira volta em dois dos três aceleradores do Sirius, provavelmente no dia 15, dia da Proclamação da República.
“É como se estivéssemos testando as turbinas de um foguete”, compara Antônio José Roque da Silva, diretor do projeto Sirius e diretor-geral do Cnpem (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), em Campinas, do qual o novo acelerador faz parte.
Depois disso, o projeto entrará em uma fase delicada: a criação de um vácuo próximo ao existente no espaço sideral dentro dos túneis percorridos pelos elétrons. Só aí o terceiro acelerador poderá entrar em ação.
As partes do Sirius têm que ser ligadas e calibradas uma de cada vez. Sem isso, explica José Roque, há risco de danificação de componentes eletrônicos sensíveis e todo o potencial da construção, que tem precisão milimétrica inclusive no nível do solo, pode não ser explorado.
Só então entrará em operação a primeira linha de luz -estação experimental que utiliza radiação gerada pelo acelerador para conduzir experimentos das mais diversas áreas. Se tudo correr bem, as primeiras pesquisas poderão acontecer com alguma sorte no segundo semestre de 2019.
O projeto final, com 13 linhas de luz (a capacidade total é de 40), deve ficar pronto somente em 2020 e ainda depende da liberação de mais R$ 510 milhões. Para o ano de 2019, o governo colocou a previsão de R$ 270 milhões para o Sirius no projeto de lei de orçamentária anual. “Estamos confiantes que o Congresso vai entender a importância desse investimento para o país e aprovará a verba”, diz José Roque. “Meu sonho é que cada brasileiro venha conhecer o que é feito aqui, é algo transformador”, completa.