Obra também aborda a conhecida reclusão voluntária do artista cearense em seus últimos anos de vida
“Belchior – Apenas um Coração Selvagem”, dirigido por Natália Dias e Camilo Cavalcanti, é uma junção do nome de duas canções bastante representativas do autor – o clássico “Apenas um Rapaz Latino-Americano” e “Coração Selvagem”. E é certeiro.
Se os diretores optassem por algo na linha de “Belchior em Primeira Pessoa” ou ainda “Belchior – Um Autorretrato” seria menos poético, mas também funcionaria. Afinal, o longa-metragem apresenta a história a partir de um único ponto de vista, o de seu protagonista.
A infância em Sobral, no Ceará, numa família com 23 irmãos; a formação musical ouvindo de Luiz Gonzaga, João do Vale e Jackson do Pandeiro a Ray Charles e Paul Anka no rádio dos vizinhos ou nos alto-falantes da cidade. A intimidade com a poesia de Rimbaud, Baudelaire e João Cabral de Melo Neto. Os estudos em colégio de frades (onde aprendeu “as coisas boas da vida: vinho, charuto e mulheres”), a ida para o “Sul maravilha” (o eixo Rio-São Paulo, onde se davam as cartas da indústria fonográfica brasileira), a fome e o aperto de grana na metrópole.
A vitória no 4º Festival Universitário de Música Popular com a composição “Na Hora do Almoço” e, enfim, o sucesso nacional. Tudo contado pela voz de Belchior. Parafraseando o hino do próprio poeta cearense, iniciativas como este filme contribuem para que a obra de Belchior não morra neste ano nem nos próximos.