Candidata a deputada estadual pelo PT defende também maior investimento na educação pública
A campanha da Rede TODODIA “Sua Voz, Sua Vez, Seu Voto” recebeu nesta semana a candidata a deputada estadual Ana Perugini (PT). Ana destacou ações de combate à violência contra as mulheres na região e investimentos para a educação. Ligada a Hortolândia, Ana foi vereadora na cidade, além de deputada estadual por dois mandatos e deputada federal entre 2015 e 2018.
TODODIA: Ana, quais são suas principais propostas para a educação pública de São Paulo?
ANA PERUGINI : Nós precisamos voltar à educação pública continuada aqui. Os professores precisam de oportunidade de formação. Não podemos falar de escola integral como um espaço onde as crianças se encontram sem atividade adequada para o dia todo e muitas vezes ela não faz. Precisamos de uma integralidade do princípio até o fim. Precisamos dar uma educação de qualidade do início até a faculdade, esse é o sonho, e de preferência que seja integral e integralizado. Hoje o que eu escuto, não só aqui na região de Campinas, é o pedido de socorro, falta de professores, a questão da alimentação escolar ainda pesa. Acho que ao invés de falar de merenda escolar, precisamos pensar em alimentação escolar, nada enlatado, alimentação que de sustentação e condição para a criança estudar.
Com relação à violência nas escolas, que vemos muitas notícias reiteradamente acontecendo, qual sua proposta e possíveis soluções?
O problema da violência na nossa sociedade não é só na escola e não é um problema só de polícia. O problema da violência é a exclusão, é a falta de oportunidade, é o desespero muitas vezes de não ter de onde tirar aquilo que é necessário para sobreviver. Se tem um período que aumentou a violência, principalmente contra as mulheres, foi agora na pandemia. Com o desemprego e a permanência no mesmo local, aumentou a violência contra as crianças, contra os idosos e principalmente contra as mulheres. Nós muitas vezes não estamos preparados para toda adversidade. Se tem que ter algo que precisa ser feito sobre a violência é dar condição de se viver em paz, com moradia, educação, saúde. O problema da segurança e da violência dentro das escolas não nasceu dentro das escolas, nasceu na nossa sociedade.
Como o Estado deve se portar de modo a conscientizar e trazer resultados práticos nas escolas para o combate à violência contra a mulher?
No ano de 2006 foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Lei Maria da Penha, no ano de 2007 nós tomamos posse na Assembleia Legislativa em São Paulo, tudo o que nós tínhamos de condição de fazer de material gráfico e difundir a Lei Maria da Penha nós fizemos. A Lei Maria da Penha precisa trabalhar de forma transversal nas escolas e faculdades, para que haja um conhecimento tanto da história de Maria da Penha como a própria construção desta lei. A cultura você só muda com cultura, para mudar a cultura é desde pequeno.
Qual outra proposta a senhora avalia importante e gostaria de citar?
Você pode observar que mesmo agora, com a Lei Maria da Penha desde 2006, há uma luta para que as mulheres participem da política. Mesmo agora, no ano de 2022, estamos lá nos 30% por exigência da lei. Se não tiver os 30% os outros 70 caem. Além disso, o PIB (Produto Interno Bruto) não mensura quanto custa o trabalho que nós exercemos e nos é dito que nosso trabalho deveria ser feito por amor. Não tem como trabalhar se não for por amor, o que você recebe é uma circunstância pelo seu trabalho, agora ser feliz não tem jeito, o dia de hoje não volta depois, o trabalho que é feito por amor precisa ser contabilizado. Nós já temos uma pesquisa de amostra que o trabalho não remunerado equivale à riqueza produzida pela nossa indústria. Se fala tanto que a mulher é o esteio, que o trabalho, o cuidado dos filhos permite a estrutura da sociedade acontecer como acontece, mas precisamos saber quanto custa isso. Quanto custa lavar a louça, passar roupa, levar filho na escola, fazer lição de casa? Nós precisamos encontrar uma forma de remunerá-las, há sim uma forma disso ser feito. É só na política que nós resolvemos essa questão, o movimento social fortalece a luta política. Mulheres, não tenham medo de fazer parte da política.
Quais são suas propostas para a saúde pública com foco na região?
Nós ainda temos leitos vazios por falta de recurso. Nós precisamos ter mais especialidades, temos hospital de queimados, temos referência para o tratamento de câncer, mas nós não temos médicos o suficiente e nenhuma organização regional para isso. Quando nós pensamos em saúde não é possível pensar só na nossa região, você precisa pensar em uma política federal, que tenha comunhão com a política do Estado e essa responsabilidade precisa ficar mais clara. Não dá para um país como o nosso ficar com um SUS fraco, precisamos de vagas para resolver o problema. Precisamos continuar investindo, não dá pra congelar. Estamos caminhando para uma privatização da saúde, que precisa ser pública.
Qual sua visão sobre segurança pública e de que forma melhorar?
Eu acredito que é importante que haja uma integração na polícia, uma parceria, porque virou uma divisão entre as polícias. Eu acredito que em relação à polícia nós precisamos reestruturar a Polícia Civil, faz muitos anos que pedimos isso. Mesmo a Polícia Militar, a dificuldade de carro, pneus, de colocar combustível. A situação é muito precária. Também penso em segurança para quem? Tem um estereótipo muitas vezes hoje que carrega uma culpa.
Uma forma de se vestir, uma cor de pele, uma maneira de andar que traz suspeita. É preciso humanizar essas relações, que as pessoas não tenham medo da polícia, ela precisa ser respeitada e não temida. Além disso, precisamos fortalecer as delegacias de Polícia Civil em estrutura, aumentar o número de pessoas capacitadas nas ruas e ter atenção com as Guardas Municipais. Uma das coisas que me preocupa hoje é armar a população, se o Guarda Municipal, se o Policial Civil, se o Policial Militar precisa ter acompanhamento psicológico para portar uma arma, você imagina que acompanhamento daremos para o cidadão que vai adquirir arma. Entendo que colocar mais pessoas armadas sem o preparo adequado aumenta a insegurança.
Em relação à violência contra a mulher, de que forma encarar e dar eficiência à resolutividade desses casos?
As mulheres precisam de respeito. Precisamos ter espaços adequados para tratar a mulher vítima de violência para que, ao denunciar, não volte para o mesmo ambiente que o agressor. O machismo que leva à violência é uma doença social que precisa ser tratada. Hoje é menos comum você olhar para uma mulher da cabeça aos pés, porque isso é absurdamente constrangedor, e antes isso era comum. A Lei Maria da Penha também precisa ser cada vez mais estruturada. Mas hoje já temos mais difusão dessas informações e essa rede de proteção já está acontecendo. O que precisamos é de uma rede eficiente, proteção da mulher e o atendimento ao agressor, nessa ordem, porque senão ele vai emendar essa agressão com essa mulher ou outra parceira.
Sobre desenvolvimento econômico, como potencializar o empreendedorismo feminino?
Pelo Sebrae, nós temos dados de que as mulheres vão para seis áreas no empreendedorismo feminino e os homens têm uma diversidade. As mulheres ficam muito na área de alimentação, beleza, vestuário. A pesquisa também mostra que as mulheres vão para o empreendedorismo porque estão com problemas financeiros. Para financiar a mulher empreendedora temos menos condições. Precisamos aprender voltar à economia para o empreendedorismo feminino, a fazer gestão e ter investimento para fazer o negócio começar. Além disso, política de emprego é política de Estado. A questão do desemprego feminino não é da mulher que não empreendeu. Se é para empreender precisamos de políticas de Estado que financiem isso. As mulheres precisam ser lideranças no mercado, precisamos ter o suficiente para gerar mais empregos para outras pessoas.
A senhora defende a revisão da tabela do IR?
Não vamos deixar de rever a tabela do imposto de renda. Os grandes empresários não pagam imposto de renda sobre lucros e dividendos e a nossa escala na tabela de imposto de renda não é corrigida há muito tempo. Quem ganha pouquinho paga o mesmo percentual de quem ganha uma fortuna. Precisamos rever essa questão.