Graças a uma campanha ao redor do mundo, com envio de correspondências ao próprio Adolf Hitler, Anita Leocádia Prestes, 83, escapou do nazismo aos 14 meses de idade.
Sem a mobilização da avó paterna, Leocádia, o melhor destino para a criança, naquele contexto, seria parar em um orfanato nazista. O pior seria o mesmo reservado para sua mãe, a militante comunista alemã Olga Benário.
Depois que Anita foi entregue à avó e à tia, Lygia, Olga foi enviada a um campo de concentração, onde morreu na câmara de gás. A militante foi entregue a Hitler pelo presidente Getúlio Vargas, em 1936, que manteve preso no Brasil seu companheiro, o também militante Luiz Carlos Prestes.
Historiadora, Anita publica um novo livro, “Viver É Tomar Partido: Memórias” (Boitempo, 2019), em que compartilha suas lembranças, mas também o resultado da pesquisa que desenvolve há cerca de 40 anos.
A obra traz duas cartas até então inéditas de Olga para Prestes, escritas em 4 de abril e 6 de julho de 1936, enquanto Olga estava presa na Casa de Detenção, no Rio de Janeiro, antes de ser mandada à Alemanha. As cartas foram escritas em francês, idioma que Prestes também dominava.
“Gostaria muito de te dizer uma coisa que diz respeito somente a nós dois. Mas diante das circunstâncias não me resta nada além desta possibilidade. Querido, nós teremos um filho. (Eu sinto todos os sinais que existem nesse caso, vômitos etc.)”, escreveu Olga a Prestes. Ela assina como “Maria”, nome que adotou à época.
Na segunda inédita, Olga diz que queria saber se o companheiro está vivo e diz que terá forças para resistir.
Anita conta detalhes como o grande mapa do cenário da guerra na parede de casa, onde Leocádia e Lygia marcavam com alfinetes coloridos os movimentos das tropas, torcendo pela derrota dos nazistas diante dos soviéticos.