“Viajei mais de 800 quilômetros desde Ohio para ter certeza de que estaríamos em número suficiente. Se tivesse pouca gente, não teria nenhum efeito. Aparecemos para que todos entendam que as nossas vidas negras importam.” Aos 30 anos, Jeff Wynn era uma das milhares de pessoas que se reuniram nesta sexta-feira (28) em Washington para pedir igualdade racial e reforma do sistema de justiça nos EUA.
O evento foi uma reedição da marcha que, há 57 anos, resultou no histórico discurso “Eu tenho um sonho”, do ativista de direitos civis Martin Luther King.
Os protestos antirracismo e contra a violência da polícia tomaram os EUA no fim de maio, após o assassinato de George Floyd – homem negro que foi asfixiado por um policial branco em Minnesota, depois que o agente ajoelhou sobre seu pescoço por quase nove minutos.
Os atos arrefeceram no mês passado, mas ganharam novos e graves contornos nesta semana, depois que Jacob Blake, um homem negro morador do estado de Wisconsin, foi baleado sete vezes pelas costas por um policial branco. Os disparos foram feitos à queima-roupa e Blake, segundo seus familiares, ficou paralisado da cintura para baixo.
Parte dos jovens que tomaram as ruas busca justiça inspirada em Luther King, mas não acredita que haverá grandes mudanças enquanto Donald Trump for presidente.
Em 28 de agosto de 1963, Luther King falou das escadas do icônico Memorial Lincoln, na capital americana, por igualdade e harmonia entre brancos e negros, durante aquela que ficou conhecida como “Marcha sobre Washington por Emprego e Liberdade”. À época, o evento mobilizou cerca de 250 mil pessoas e impulsionou, no ano seguinte, a aprovação da Lei dos Direitos Civis, um marco da história americana.
Desta vez, quando os EUA vivem uma nova fase de ebulição social e uma espécie de acerto de contas racial, os ativistas querem se espelhar no passado e pressionar o Congresso por uma nova legislação para garantir igualdade de tratamento de brancos e negros.
Os organizadores esperavam 100 mil pessoas nesta sexta, mas reduziram as expectativas para cerca de 50 mil devido às restrições impostas pela pandemia.