donald trump
O Congresso norte-americano certificou nesta quinta-feira (7) a vitória de Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos. A ratificação ocorreu por volta das 3h40 (5h40, no horário de Brasília) horas depois de o Capitólio, sede do Parlamento norte-americano, ser invadido por manifestantes. Biden teve 306 votos confirmados contra 232 para o atual presidente do país, Donald Trump.
Policiais americanos montam guarda enquanto apoiadores do presidente norte-americano Donald Trumb protestam em frente ao Capitólio em Washington.
(Foto: Reuters/ Leah Millis)
O protesto interrompeu os trabalhos dos congressistas durante várias horas, e o confronto entre manifestantes e policiais deixou pelo menos quatro pessoas mortas e mais de 50 detidas. Após a certificação pelo Congresso, Trump prometeu uma “transição ordeira”.
A sessão de confirmação começou ontem (6) por volta das 13h (15h no horário de Brasília), mas foi interrompida meia hora depois, após uma invasão violenta do Capitólio por manifestantes que participavam de um protesto em Washington. A sessão só foi retomada às 20h (22h, horário local).
Nas últimas horas, ainda antes da aprovação dos votos eleitorais, os congressistas rejeitaram duas tentativas de objeção aos resultados de novembro, apresentadas por representantes republicanos do Arizona e da Pensilvânia. As moções não reuniram votos suficientes por parte de outros Estados para serem discutidas.
Donald Trump reagiu pelo Twitter de Dan Scavino, diretor de redes sociais do presidente norte-americano. Embora afirme que a transição será ordeira, o presidente voltou a desacreditar o resultado eleitoral:
“Embora discorde totalmente do resultado da eleição e os fatos me deem razão, ainda assim haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro. Sempre disse que continuaríamos a nossa luta para garantir que apenas votos legais fossem contabilizados. Embora isso represente o fim do melhor primeiro mandato na história da presidência, é apenas o princípio da nossa luta para tornar a América grande outra vez”, diz o tuíte.
Eleições na Geórgia
A certificação da vitória de Joe Biden acontece no rescaldo do segundo turno das eleições na Geórgia para o Senado, em que os democratas obtiveram duas vitórias históricas.
Pela primeira vez em 20 anos, o Partido Democrata conseguiu eleger não um, mas dois senadores por aquele Estado, retirando do Partido Republicano a maioria no Senado. Agora, cada partido tem 50 assentos, mas os democratas tem a vantagem do voto de minerva da vice-presidente eleita Kamala Harris – uma vez que, segundo a legislação norte-americana, o vice-presidente do país preside o Senado.
O Democratas também têm maioria na Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil).
*Com informações da RTP
A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais. A frase de Churchill cai bem nesse momento em que a maior democracia do planeta registra a vitória do democrata Joe Biden como 46º como presidente dos EUA. O fato que surpreende o mundo, e que gera impacto em importantes setores da Nação americana, é a recusa do atual mandatário, o impetuoso Trump, em aceitar o veredito das urnas. Monta um time de advogados para contestar resultados, passa o chapéu tentando angariar 60 milhões de dólares para custear a judicialização da apuração, diz que a eleição não terminou e produziu uma pérola, ao constatar a derrota em Estados onde ganhou em 2016: “mandem parar de contar os votos”. Ontem no início da tarde, o que fez o magnata dos hotéis? Foi jogar tênis na Virgínia, enquanto milhares de pessoas tomaram as ruas para comemorar a vitória de Biden.
Isso ocorre na mais robusta democracia do planeta. Trump reclama dos votos enviados pelo correio, dados, em sua grande maioria (75%) ao candidato democrata. Ora, essa modalidade de votação ocorre desde a Guerra Civil e até ajudou Abraham Lincoln a se reeleger em 1864. Desse modo, Donald quer pôr no lixo mais de 100 milhões de votos via postal. Disse taxativamente: “A votação universal por correio será catastrófica. Isso vai tornar nosso país motivo de chacota em todo o mundo. Você não pode enviar milhões de cédulas”.
A apuração dos votos recebidas pelos correios obedeceu a rigoroso ritual: conferência de assinaturas, data do envio e de recebimento, controle por fiscais partidários etc. Neste ano, sob o impacto do Covid-19, milhões de eleitores ficaram aflitos e preocupados com as filas e o voto antecipado bateu recordes. A recontagem é permitida em alguns Estados quando a maioria de um candidato é pequena, em torno de 1,5% a 1%. É o caso da Georgia, por exemplo, onde a recontagem será iniciada em 1º de dezembro. O republicano espera que a justiça acolha alguns de seus recursos, sob a expectativa de que algum processo chegue até a Suprema Corte, para a qual nomeou recentemente a juíza Amy Barret. O esperto bilionário vai tentar reverter no tapetão a derrota sofrida.
Convém lembrar que fraude eleitoral nos EUA é um fenômeno raro. Em virtude da própria índole do cidadão. Que conhece direitos e deveres, respeita as normas e teme ser flagrado por ilícito. Há, claro, manifestações de protesto, mas a ordem acaba se impondo. Não se pensa em trocas de malas cheias de votos por outras “fabricadas”. Há punição rígida. Aliás, o partido Republicano da Califórnia admitiu ter instalado mais de 50 urnas falsas no estado e autoridades constataram fraude eleitoral.
Em suma, os mecanismos de controle funcionam. Processo eleitoral, vale lembrar, é complexo. Dos 50 Estados, quem ganhar os votos populares em 48, leva todos os delegados, mesmo que a diferença seja por um. Biden, até ontem, segundo projeção da experiente AFP (Agence France Press), detinha 53% dos votos totais contra 48% de Trump.
O fato é que os estados-pêndulo, que oscilam de um lado para outro, decidiram a eleição. O clamor das ruas é um dos eixos da democracia. Por último, a questão: por que Trump não articulou no Congresso para mudar o sistema? Por que aceitou os resultados de 2016 nos Estados decisivos? Sua derrota significa repulsa à gestão com que conduz o país, particularmente no caso da pandemia. Não há como deixar de lembrar que o showman de O Aprendiz acaba de ser submetido ao amargo refrão de seu famoso programa: “Você está demitido”.
Escrito por: Gaudêncio Torquato | Jornalista, professor e consultor político
Pela 1ª vez, Trump diz que pode não estar na Presidência daqui a algum tempo
Em discurso nesta sexta (13), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pode não estar no cargo em breve.
“Essa administração não fará um lockdown. Espero que, o que quer que aconteça no futuro, quem sabe qual administração será, eu acho que o tempo dirá, eu posso dizer a vocês que essa administração não fará um lockdown“, disse Trump, no jardim da Casa Branca.
No discurso, o presidente destacou os esforços do governo para acelerar a produção de vacinas e combater a Covid-19. E disse que haverá distribuição gratuita de vacinas feitas pela Pfizer, depois que elas forem aprovadas. As doses serão dadas primeiro a funcionários de saúde, idosos e grupos de risco. Ele não deu datas precisas, mas estimou que as vacinas poderão estar acessíveis para todos nos EUA até abril de 2021.
Este foi o primeiro discurso dele em dias. Trump, 74, apareceu com o cabelo praticamente branco, em vez de loiro, como era visto até a semana passada.
Desde a eleição, essa foi a primeira vez em que o republicano afirmou em público que encara as possibilidades de que ele deixe o cargo em janeiro e de que outro governo assuma o país.
Durante toda a campanha eleitoral, Trump deu diversas declarações de que ele seria o vencedor da disputa, e que se perdesse a reeleição, seria por conta de fraudes.
No sábado (7), o democrata Joe Biden foi apontado como vencedor da eleição realizada na terça passada (3), mas Trump se recusa a assumir a derrota. O presidente fez discursos e postagens dizendo que ele é o verdadeiro ganhador, e diz repete que houve fraude nas eleições, sem apresentar provas.
O republicano aposta em uma série de processos na Justiça para tentar reverter o resultado da apuração. No entanto, mesmo membros de seu partido reconhecem a vitória de Biden, que teve 5 milhões de votos a mais. Com isso, uma reviravolta no resultado é considerada bastante improvável.
Nesta sexta (13), projeções da CNN e do The New York Times confirmaram os resultados dos dois últimos estados onde a disputa era considerada indefinida: Biden venceu na Geórgia e Trump conquistou a Carolina do norte.
Assim, o placar nacional projetado pelos dois veículos está em 306 votos no Colégio Eleitoral para Biden e 232 para Trump.
Por coincidência, o republicano conquistou 306 delegados em 2016, e Hillary Clinton, 232, na projeção feita a partir dos votos populares. Na votação final dos delegados, Trump teve 304 votos, porque dois delegados mudaram de lado na votação do Colégio Eleitoral.
A vitória de Biden na Geórgia neste ano tem grande simbolismo, pois o estado era considerado vitória garantida para os republicanos, que ganharam todas na região desde 1992. O democrata também foi o primeiro desde 1960 a conquistar a Presidência sem vencer na Flórida e em Ohio num mesmo pleito.
Os principais veículos de imprensa nos EUA apontaram a vitória de Biden no sábado (7), mesmo sem levar em conta alguns estados que não tinham resultado definido, pois os cálculos indicaram que o republicano já não tinha mais condição de virar o jogo.
Nos EUA, não há um órgão nacional de apuração, e a aclamação do vencedor é feita pelos órgãos de imprensa, a partir de projeções matemáticas feitas durante a contagem dos votos.
Ninguém gosta de ser destituído de seu cargo. A não ser aqueles que entendem que tudo na vida é passageiro, sem brincadeiras. Afinal, estar ocupando um cargo e tentar se manter nele é o desejo da grande maioria apegada ao que faz, principalmente ao Poder, e ser bajulado mundo afora.
Imagina alguém que detém o título de comandar a maior potência comercial do planeta? Pois é, Donald Trump já cumpre aviso prévio e deve repassar ao grupo que ajudará Joe Biden a unificar a nação e manter o poderio e a hegemonia, hoje abaladas por nações como China e Rússia, que tentam manter seu desejo de nação globalizada.
Para os que são reticentes a esta ideia, analisem que o presidente russo, Vladimir Putin, vai permanecer no poder até 2036. Xi Jinping é um político chinês que tem servido como secretário geral do Partido Comunista da China e presidente da Comissão Militar Central desde 2012, e presidente da República Popular da China desde 2013. Xi tem sido, desde 2012, o líder político mais proeminente da China.
Não deve mudar o cenário e, este poderio, aliado ao desejo de dominarem o mundo com seus serviços, produtos e decisões globais levarão o novo presidente a conversar e fazer uma coalizão em que os interesses norte-americanos prevaleçam.
Trump não conquistou o povo americano nos quatro anos em que comandou aquela nação. Abriu canais de diálogo com outras nações, mas, turrão e briguento, acabou perdendo seu status de líder.
O povo norte-americano entendeu que era hora de dar bilhete de dispensa para ele e substitui-lo por outro funcionário. Um que seja mais aprazível e converse com a nação. Sua vice, Kamala Harris, foi o fiel da balança. Negra, de origem indiana e estudante de uma faculdade para negros, roubou a cena no final da campanha e era o que o presidente eleito precisava. Mudar os rumos e apostar num novo futuro.
Quem sabe em quatro anos teremos uma mulher no comando máximo dos Estados Unidos!
Até lá é ver Donald Trump limpar as gavetas, arrumar as malas e se preparar para a transição de governo, do qual ele não queria largar. De jeito nenhum!
Escrito por: Gregório José | Radialista, jornalista e filósofo
Se tivesse calculado, talvez não fosse tão simbólico. Joseph Robinette Biden Jr., 77, foi declarado presidente eleito dos Estados Unidos neste sábado (7), segundo projeção da rede de notícias CNN, na semana em que completou 50 anos desde a primeira vez que assumiu um cargo político.
Os EUA escolhem, assim, Biden como o 46º presidente de sua história, depois de o democrata derrotar Donald Trump numa disputa histórica e acirrada, que o atual líder americano decidiu levar à Justiça.
Antes mesmo de haver um resultado final, o republicano se declarou vencedor da eleição e disse que iria à Suprema Corte para interromper a contagem de votos -com o temor de que aqueles enviados por correio, de maioria democrata, virassem o jogo em estados-chave, como de fato aconteceu.
Trump entrou com ações judiciais em Geórgia, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Obteve vitória parcial na Pensilvânia e três derrotas, uma da quais também na Pensilvânia, e as outras em Geórgia e Michigan.
Em Wisconsin, onde o democrata venceu com menos de 1 ponto percentual de diferença, o atual presidente pediu recontagem dos votos, alegando, sem apresentar provas, que o voto postal gera fraudes.
A projeção da vitória de Biden veio com os resultados na Pensilvânia, estado que os democratas perderam para Trump em 2016 e que foi reconquistado neste ano.
Assim, o agora presidente eleito atingiu ao menos 273 votos no Colégio Eleitoral, acima do mínimo de 270, enquanto o candidato republicano conquistou, até o momento, 214.
Em relação ao apoio popular, Biden registra mais de 74 milhões de votos, recorde nos Estados Unidos e um marco num país onde a participação não é obrigatória. Trump, por sua vez, contabiliza ao menos 70 milhões de apoios na 59ª eleição presidencial americana desde 1788.
Em 4 de novembro de 1970, Biden assumia uma cadeira no conselho do condado de New Castle, em Delaware, espécie de Câmara de Vereadores. Meio século depois, vence a corrida à Casa Branca como o presidente mais velho a tomar posse –terá 78 anos na cerimônia de 20 de janeiro.
A noite da eleição, na terça (3), começou com a expectativa de que Biden superaria Trump com ampla vantagem, mas o republicano ganhou a decisiva Flórida e iniciou uma ilusão vermelha inicial, com uma série de triunfos e lideranças em estados-chave, o que manteve as chances de reeleição.
Ao vencer no Texas, em Iowa e em Ohio durante a madrugada de quarta (4), Trump fez muitos apoiadores de Biden temerem uma repetição de 2016, quando o presidente derrotou Hillary Clinton ao vencer na maior parte das regiões decisivas, contrariando as pesquisas.
Os levantamentos, aliás, novamente subestimaram o voto no republicano, que teve mais apoio do que o esperado entre latinos no Sul e no geral no Meio-Oeste –região crucial para sua vitória há quatro anos.
Já a liderança inicial em estados que depois seriam conquistados por Biden pode ser explicada pelo fato de que muitas regiões contabilizam o voto presencial –que favoreceu o republicano– antes dos votos antecipados, que incluem as cédulas enviadas pelo correio, em sua maioria de eleitores democratas.
Em Michigan e Wisconsin, por exemplo, Biden ultrapassou Trump conforme os votos por correspondência eram contados, principalmente nas grandes cidades, geralmente mais progressistas. Devido à pandemia, mais de 100 milhões votaram de forma antecipada, cerca de dois terços deles pelo serviço postal.
Como presidente, o desafio inicial do ex-vice de Barack Obama será controlar a crise sanitária que colocou os EUA como líderes em números de mortes e diagnósticos de Covid-19, enquanto administra as diversas alas de um Partido Democrata que se uniu para barrar Trump, mas que deve reviver diferenças no governo.
Biden saiu de uma pré-campanha desacreditada, no início do ano, com resultados frustrantes nas primárias de Iowa, New Hampshire e Nevada, para ser nomeado o candidato democrata.
Depois de uma vitória arrebatadora nas primárias da Carolina do Sul, no fim de fevereiro, fidelizou o eleitorado negro e ressurgiu como a principal aposta contra Trump.
Consolidou-se como alternativa a Bernie Sanders, senador progressista e principal rival no duelo interno pela nomeação, e uniu o centro democrata em uma articulação bem montada, que começou com a desistência de rivais às vésperas da Superterça, em março, até Sanders abrir mão da corrida, em abril.
Biden fez uma campanha focada em Trump e nos erros do presidente no combate à pandemia. Apresentava-se como o único líder capaz de unir um país dividido pelo republicano, em meio a uma crise que deixou ao menos 236 mil mortos e 11,1 milhões de desempregados.
Assim, tentava cristalizar um sentimento mais anti-Trump do que pró-Biden entre fatias decisivas do eleitorado. Não era preciso gostar de Biden, diziam auxiliares do democrata. Bastava não gostar de Trump.
A narrativa da campanha democrata era de que Biden, segundo presidente católico dos EUA, depois de Kennedy, conseguiu se reerguer mesmo depois de ter perdido a primeira mulher e uma filha num acidente de carro em 1972 e, quatro décadas depois, outro filho, vítima de câncer no cérebro.
Com experiência e empatia com a dor do povo americano, argumentava, poderia reconstruir os EUA em um de seus momentos de maior dificuldade.
A partir de janeiro, Biden precisa mostrar que é possível colocar seu plano em prática diante do aumento dos casos de Covid-19 nos EUA. Um dia após a votação, o país registrou o maior índice de contaminação diária desde o início da pandemia: 100 mil casos, sinalizando que os EUA estão longe de controlar o vírus.
Além de combater a crise sanitária, o democrata precisa trabalhar em um pacote de estímulo econômico.
Em seus discursos, tem dito que vai “acabar com o vírus” e não “fechar o país”. Também promete restaurar a normalidade e a confiança nas instituições americanas em um país polarizado. Em busca da reeleição, Trump colocou a democracia dos EUA sob seu maior teste de estresse desde a Guerra Civil, entre 1861 e 1865, quando estados do Sul lutaram contra os do Norte pela manutenção da escravidão no país.
O republicano deslegitimou o processo eleitoral e usou o governo para atender suas vontades e tentar garantir sua reeleição, em manobras que incluíram interferência estrangeira e pressão a funcionários e autarquias do Executivo. Apesar de derrotado, Trump permanece como uma força política importante.
Uma mostra dessa força é que Biden foi o primeiro presidente desde John F. Kennedy, em 1960, a se eleger sem conquistar os estados de Ohio e Flórida, e projeções indicam que o Senado deve seguir com maioria republicana. Na Câmara, a margem democrata perdeu fôlego, frustrando expectativas do partido.
Trump também trabalhou por quatro anos para moldar o Judiciário americano e nomeou mais de 200 juízes federais e três nomes à Suprema Corte, ampliando a maioria conservadora na corte. As decisões da instância máxima da Justiça nos EUA seguirão decisivas mesmo sob um governo democrata.
No plano global, a derrota de Trump, apenas o terceiro titular eleito a não conseguir um segundo mandato nos EUA desde a Segunda Guerra, é um aviso a populistas autoritários em todo o mundo, com Jair Bolsonaro à frente. O brasileiro desenhou um alinhamento total com o republicano, e agora terá de lidar com um democrata que já o criticou devido às queimadas na Amazônia.
Diante da polarização incentivada por Trump, o temor era que protestos violentos tomassem as ruas de várias cidades no dia da eleição e também depois da divulgação do resultado. No domingo (31), a três dias do pleito, estabelecimentos comerciais da capital Washington reforçaram a proteção de suas portas e janelas, com tapumes e outras medidas de segurança, principalmente nas cercanias da Casa Branca.
A partir de agora, Biden inicia a montagem de uma equipe de transição, mas as especulações sobre quem será nomeado começaram há dias, conforme sua liderança se mantinha consolidada nas pesquisas.
A senadora Elizabeth Warren, que foi pré-candidata democrata à Casa Branca e se tornou uma das principais conselheiras de Biden, pode assumir um posto da área econômica. Pete Buttigieg, que também concorreu às primárias, pode ficar com um dos postos com influência militar –ele é veterano.
Os dois representam alas diferentes do partido e mostram o desafio que Biden terá para tentar acomodar as correntes internas. Sanders e a estrela democrata Alexandria Ocasio-Cortez, por exemplo, integram um campo ainda mais à esquerda que Warren, por exemplo, e têm influência sobre parte importante da sigla.
Biden formou uma agenda de campanha que incorporou planos bastante progressistas. Agora é preciso saber até onde ele vai como presidente para implementá-los.
Quando terminar o mandato, o democrata terá 82 anos. Ele mesmo já se descreveu como um “presidente de transição”, e a escolha da senadora Kamala Harris, 56, que agora se torna a primeira mulher negra e de ascendência asiática a assumir a Vice-Presidência americana, desponta para o futuro –em 2024.
Resultado final de eleição americana ainda pode levar dias ou semanas
Mesmo no quarto dia da apuração de votos nos Estados Unidos, a confirmação de um resultado definitivo – que pende desde a quarta-feira (4) para a vitória de Joe Biden – ainda pode demorar.
Como o país não tem um órgão central para contar as cédulas e definir o placar, essa tarefa fica a cargo dos veículos de imprensa e dos estados, que têm prazos diferentes para entregar os números. E os estados com o poder de definir o pleito têm muito tempo nas mãos.
Na Pensilvânia, que tem 20 delegados no Colégio Eleitoral e pode selar a vitória de Biden, o democrata tinha ontem 14.541 votos a mais que Donald Trump, ou 0,2 ponto percentual. Com 96% das cédulas contadas, o estado calculava que ainda faltava incluir 100 mil votos vindos do correio e outros 100 mil votos provisórios – aqueles que ainda precisam ser validados, seja porque o eleitor não se registrou previamente ou porque teve algum problema ao depositar a cédula num ponto de entrega. Esse tipo de voto tem vindo em maior volume de condados republicanos.
Não bastasse isso, a legislação na Pensilvânia exige uma recontagem caso a margem de diferença seja igual ou inferior a meio ponto percentual, o que é uma hipótese quase certa. O responsável pela contagem afirmou que o processo pode durar “vários dias”.
Na Geórgia, a recontagem já está prevista. O estado, que vale 16 delegados no Colégio Eleitoral, tinha ontem a menor diferença entre Biden e Trump – apenas 4.175 votos, ou 0,1 ponto percentual. Ao todo, 99% das cédulas já tinham sido contadas, mas faltava incluir 9 mil votos de militares e americanos que vivem no exterior. Assim, o processo pode levar semanas até chegar a um resultado definitivo. A data limite estipulada é 20 de novembro.
Já Nevada, que vale 6 delegados no Colégio Eleitoral, deixou claro que os votos por correio só terminarão de ser contados no domingo (8). Biden tinha vantagem de 22.657 votos no estado, ou 1,8 ponto percentual, com 93% das cédulas apuradas.
O responsável pela apuração no condado de Clark, onde fica Las Vegas, disse diversas vezes à imprensa que seu objetivo “não é agir com rapidez”, mas com precisão. Como muitas das cédulas tiveram erro ao serem processadas, o estado só terá a contagem de 100% dos votos na próxima quinta-feira (12).
Para fechar, o Arizona ainda precisa contar entre 250 mil e 270 mil cédulas, segundo o governo. Não se sabe quando isso será feito. A vantagem do democrata, de 39.070 votos ou 1,3 ponto percentual, diminuiu nos últimos dias, mas se manteve. Ele também vale 6 delegados e precisaria ser ganho junto com Nevada para confirmar Biden como presidente.
TRUMP: ‘ESSA ELEÇÃO NÃO ACABOU’
A campanha do presidente Donald Trump divulgou um comunicado nesta sexta (6) no qual afirma que a eleição americana “ainda não acabou” e que uma “falsa projeção de vitória de Joe Biden” se baseia nos resultados das apurações de quatro estados decisivos que “estavam longe de terminar”.
“Geórgia está indo para uma recontagem, onde estamos confiantes de que vamos encontrar cédulas indevidamente colhidas, e onde o presidente Trump acabará por prevalecer. Houve muitas irregularidades na Pensilvânia. Em Nevada, parece haver milhares de indivíduos que indevidamente lançam cédulas de correio. Finalmente, o presidente está a caminho de ganhar o Arizona, apesar da irresponsável e errônea chamada de vitória de Biden”, afirma a nota. “Biden está se baseando nesses estados para sua falsa reivindicação da Casa Branca, mas quando esta eleição acabar, o presidente Trump será reeleito”, completa o texto.
PROTESTOS DE MULTIPLICAM EM TODO OS EUA
O cenário polarizado na disputa entre Donald Trump e Joe Biden vai além das cores no mapa eleitoral. Em várias cidades, milhares de pessoas estão nas ruas com pautas que incluem a interrupção da contagem de votos (no caso de apoiadores dos republicanos) ou sua continuidade (entre os democratas).
PROTESTOS | Apoiadores de Biden diante da Casa Branca (Foto: Julia Mineeva | TheNews2 | Folhapress)
Em Portland, ao menos 11 pessoas foram presas e a polícia apreendeu fogos de artifício, martelos e um fuzil. Em Nova York, a polícia prendeu cerca de 60 pessoas durante protestos em Manhattan. Em Detroit, a maior cidade do Michigan, um grupo se posicionou do lado de fora de um centro de apuração de votos exigindo parada do processo. Na Pensilvânia, grupos pró-Biden e pró-Trump se manifestaram em frente a um centro de apuração na Filadélfia.
Em Washington, uma procissão de carros e bicicletas circulou em protesto contra o “ataque ao processo democrático” orquestrado por Trump.
Mais de 100 eventos estão programados no país até hoje (7).
Justiça rejeita ação de Trump para suspender contagem de votos na Geórgia
A Justiça da Geórgia rejeitou um pedido da campanha de Donald Trump com base na falta de evidências que sustentem a acusação de que o estado contabiliza votos por correio recebidos fora do prazo limite.
O democrata Joe Biden está cada vez mais próximo do republicano nas projeções no estado, e este não foi a única ação do tipo que a campanha do presidente protocolou na disputa à Casa Branca.
De acordo com o Partido Republicano, votos por correio que chegaram após o prazo limite de 19h (horário local, 21h do Brasil) do dia da eleição, terça (3), estariam sendo colocados no meio de urnas com cédulas enviadas dentro do prazo e, assim, contabilizados.
A campanha de Trump pedia que todos esses votos fossem recolhidos, e os nomes de seus respectivos eleitores, conhecidos.
“Um membro do Partido Republicano testemunhou urnas não processadas corretamente aparentemente misturadas com urnas que estavam prontas para serem contadas”, diz o pedido rejeitado pela Justiça. O caso teria acontecido no condado de Chatham.
Desde que começou a ficar atrás nas projeções eleitorais, o atual presidente e sua equipe têm atuado para desacreditar e colocar em xeque o sistema eleitoral.
A campanha do republicano já afirmou que pedirá a recontagem de votos em Wisconsin, por exemplo, estado onde Biden aparece como vencedor por margem inferior a 1 ponto percentual.
Também entrou com ações similares na Justiça de Michigan, onde o democrata também triunfou, e na Pensilvânia, região em que a vantagem do republicano diminui cada vez mais.
Os estados nos quais Trump concentra seus esforços são aqueles em que a disputa é mais acirrada. Na Geórgia, por exemplo, a vantagem do republicano é de 0,3 ponto percentual, segundo as projeções da CNN desta quinta-feira (5), com 98% dos votos apurados -o democrata segue crescendo cada vez mais.
Em eleição acirrada e com antecipação do voto, participação nos EUA deve ser a maior em 120 anos
O resultado da eleição presidencial americana ainda era desconhecido na manhã desta quarta (4), mais de 12 horas após as primeiras urnas fecharem, mas uma coisa era certeira: o comparecimento dos eleitores neste 3 de novembro foi histórico, e, segundo o US Elections Project, que monitora o índice, deve bater os 160 milhões.
Se o número se confirmar, terão votado 67% dos americanos aptos a fazê-lo. O percentual pode parecer baixo se comparados, por exemplo, com os do Brasil, onde quase 80% dos 147 milhões de eleitores votaram em 2018. Mas é preciso lembrar que nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, o voto não é obrigatório.
Desde o início do século passado, o comparecimento às urnas jamais chegou a 70% do eleitorado. Estima-se que neste ano 239,2 milhões dos 328,1 milhões de americanos estejam aptos a votar (são cidadãos e maiores de idade).
Na eleição passada, uma das que mais atraíram eleitores nas últimas décadas, 59,2% foram às urnas escolher entre Donald Trump e Hillary Clinton. Com Barack Obama e John McCain, em 2008, foram 57,1,%.
Na fatídica eleição de George W. Bush em 2000, que precisou da Suprema Corte, apenas metade dos americanos votou (ainda assim, índice maior do que a baixa história, em 1996, quando 49% participaram da disputa entre o democrata Bill Clinton, o republicano Bob Dole e o independente Roos Perot).
Os percentuais tendem a ser ainda mais baixos quando um dos candidatos é um presidente que tenta a reeleição.
Na contracorrente, a disputa entre Donald Trump e Joe Biden pode vir a ser a que mais atraiu eleitores desde que William McKinley e William Jennings Byran se enfrentaram em 1900 (McKinley seria assassinado no ano seguinte e substituído pelo vice, Theodore Roosevelt).
Naquele ano, votaram 73,7% dos eleitores, mas o grupo excluía mulheres, cujo direito ao sufrágio só seria conquistado quase 19 anos depois -ou seja, se olhada a proporção dos votantes na população total, a de hoje é muito maior. Há dois motivos para essa hiperparticipação em 2020.
O primeiro é a crescente polarização da sociedade americana. O medo e a raiva do outro, do adversário, foi novamente um dos combustíveis da campanha, alimentado pela circulação de informações falsas e pela sensação de que a política de turno, cada vez mais, tende a excluir aqueles que não se alinham a ela.
O segundo é a possibilidade de votar pelo correio ou de forma presencial antecipadamente, alargada e incentivada por causa da pandemia do novo coronavírus, a fim de evitar aglomerações em sessões eleitorais em um país onde mais de 230 mil já morreram em decorrência da Covid-19.
A maioria dos eleitores, aliás, preferiu essa modalidade: segundo o US Elections Project, foram 100,3 milhões de votos antecipados.
Nos EUA, o dia da eleição, sempre na primeira terça-feira de novembro, não é feriado. Os empregadores não têm obrigação de dispensar seus funcionários, e nem todos compensam o dia de trabalho.
Por isso, votar nos EUA muitas vezes é uma questão de cálculo financeiro, uma conta entre a diferença que o cidadão acha que o voto dele fará e o custo de se perder um dia de trabalho ou se locomover até uma sessão eleitoral nem sempre próxima, especialmente em locais menos populosos. Esta, aliás, é uma das contas que os grupos políticos fazem quando tentam desestimular o potencial eleitorado do oponente de ir até as urnas.
Removida a amarra de se estar na sessão eleitoral em um determinado dia útil, muito mais americanos decidiram participar do processo.
Por Luciana Coelho
As urnas começaram a ser fechadas nas eleições presidenciais dos Estados Unidos e não houve sinais de perturbações ou violência em zonas eleitorais, como temiam algumas autoridades norte-americanas.
Muitos dos eleitores foram votar usando máscaras e mantendo o distanciamento social para se protegerem contra o contágio pelo coronavírus. Para conseguirem votar passaram por longas filas em algumas locações, e por curtos períodos de espera em muitas outras.
O resultado das eleições presidenciais pode demorar dias para ser determinado e o vencedor vai liderar um país golpeado por uma pandemia que matou mais de 231 mil de pessoas e deixou milhões sem emprego, com tensões raciais e com uma polarização política que se intensificou durante a campanha.
Na pesquisa nacional de boca de urna da Edison Research, quatro de cada 10 eleitores disseram que acreditavam que as iniciativas para conter o vírus estavam indo “muito mal”. Nos estados da Flórida e da Carolina do Norte, que são considerados cruciais para decidir a eleição, cinco de cada 10 eleitores disseram que a resposta nacional à pandemia estava indo “um pouco ou muito mal”.