sexta-feira, 22 novembro 2024
PREVENÇÃO CONTRA O FUMO

Cigarro e HPV potencializam o risco de câncer de cabeça e pescoço, diz estudo da USP

Em 2020, a doença afetou cerca 830 mil pessoas em todo o mundo, causando a morte em 50% delas; A fumaça do cigarro é considerada um dos principais agentes relacionados
Por
Isabela Braz
Foto: Reprodução/Freepik

Cientistas das universidades de São Paulo (USP) e do Chile – Universidade Austral de Chile, Universidade do Chile e Universidade de Tarapacá – publicaram um estudo em que diz que consumo de cigarro e a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) podem, devido efeito nas células que interagem entre si, potencializar o risco de contrair câncer de cabeça e pescoço.


Os resultados deste estudo, publicados no International Journal of Molecular Sciences, mostra que a descoberta abre caminho para a adoção de novas estratégias de prevenção, tratamento ou outra intervenção capaz de beneficiar os pacientes.


O câncer de cabeça e pescoço engloba tumores nas cavidades nasal e oral, faringe e laringe. Em 2020, afetou cerca de 830 mil pessoas em todo o mundo, causando a morte de mais de 50% delas. Segundo os dados mais recentes do Inca (Instituto Nacional de Câncer) foram quase 21 mil mortes no Brasil em 2019.


Segundo o estudo, a fumaça do cigarro é considerada um dos principais agentes relacionados a esse tipo de câncer, sendo este único fator a causa de 42% das mortes associadas a esta doença. Mais de 70 compostos na fumaça do cigarro são considerados cancerígenos.


Embora, a doença esteja historicamente ligada a consumo de álcool, fumo e má higiene bucal, o HPV surgiu nas últimas décadas como fator de risco relevante, afetando uma população mais jovem e de nível socioeconômico mais alto.


Hoje, trata-se de um dos tumores associados ao HPV que mais crescem no mundo. No entanto, a infecção por HPV não é condição suficiente para contrair o câncer, sendo necessários cofatores adicionais.


Segundo o professor do Departamento de Microbiologia do ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP e coautor do estudo, Enrique Boccardo, ao invés de analisar o tabagismo e o HPV como responsáveis pelo risco de câncer de forma separada, a pesquisa buscou focar na possível interação entre os dois.

“Apesar de serem realizados em um ambiente artificial, estudos in vitro são um ponto de partida para compreender o que acontece em modelos mais complexos e, no futuro, talvez nos permitam intervir de forma objetiva e trazer algum benefício”, disse o cientista.


A fumaça do cigarro é considerada um dos principais agentes relacionados ao CCP, sendo este único fator a causa de 42% das mortes associadas a esta doença. Mais de 70 compostos na fumaça do cigarro são considerados cancerígenos e classificados em dois tipos, aqueles que promovem diretamente danos ao DNA e aqueles que requerem ser metabolizados por enzimas do hospedeiro para promover o dano.


Os cientistas brasileiros e chilenos analisaram células orais que expressavam as oncoproteínas HPV16 E6/E7 (a expressão foi induzida em laboratório para mimetizar a condição de células infectadas pelo papilomavírus) e foram expostas a um condensado da fumaça do cigarro. Foi observado nessa condição um aumento considerável dos níveis de SOD2 e de danos ao DNA, reforçando o potencial nocivo da interação entre HPV e fumaça de cigarro em relação à condição-controle.

Ou seja, células não expostas a oncoproteínas ou fumo, expressam menos SOD2 que células que expressam E6/E7 ou que células tratadas com fumaça de cigarro, enquanto células que expressam E6/E7 e foram tratadas com fumaça de cigarro expressam níveis maiores de SOD2 do que qualquer outro grupo analisado. Isso indica a “interação” entre a presença de genes de HPV e a fumaça de cigarro.

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