Com a chegada do período seco e a redução no volume de chuvas, a tarifa de energia elétrica no Brasil passa para a bandeira amarela a partir de maio. A medida encarece a conta de luz em R$ 1,88 para cada 100 kWh consumidos. Especialistas explicam as causas e os impactos da mudança.
A alteração na tarifa ocorre devido à queda nos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que dependem fortemente da matriz hídrica. O engenheiro eletricista Valmir Calefi explica que este é um fenômeno sazonal, conhecido como estação seca.
“Esse período vai de meados de março até o final de outubro. Apesar de ainda chover, o volume não é suficiente para manter os reservatórios em níveis ideais”, afirma. “Quando os níveis atingem pontos de alerta, o ONS (Operador Nacional do Sistema) autoriza o acionamento das termelétricas para garantir o fornecimento de energia.”
Como as usinas termelétricas operam com custos mais elevados — movidas principalmente a gás natural e óleo diesel — o valor extra é repassado aos consumidores por meio do sistema de bandeiras tarifárias.

Como funcionam as bandeiras tarifárias?
O sistema, regulado pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), informa aos consumidores as condições de geração de energia e os custos envolvidos.
“A bandeira verde indica normalidade, sem cobrança adicional. A amarela, que entra em vigor agora em maio, já representa um pequeno acréscimo. Se a situação dos reservatórios piorar, podemos avançar para as bandeiras vermelha 1 e vermelha 2, com tarifas ainda mais caras”, explica Calefi.
Atualmente, a bandeira amarela adiciona R$ 1,88 a cada 100 kWh consumidos — valor que pode pesar no orçamento doméstico e industrial. O consumo médio das famílias gira em torno de 200 kWh mensais, o que significa um acréscimo de quase R$ 4, além da tarifa base.
Segundo o economista Marcus Labarth, a alta na tarifa de energia tem efeito cascata na economia e pode influenciar até o IPCA, índice oficial da inflação.
“A energia impacta tudo. Quando o custo aumenta, a indústria repassa esse valor ao consumidor. Isso pode afetar também os juros de financiamentos, como os de imóveis ou veículos, pois tudo está interligado com a inflação”, afirma.
O especialista também orienta os consumidores a adotarem estratégias para reduzir o consumo, especialmente nos horários de pico, como no início da noite.
“É preciso repensar o uso de aparelhos. O chuveiro elétrico, por exemplo, é um dos maiores vilões. Já a geladeira consome bem menos. Pequenas atitudes podem gerar uma economia significativa”, recomenda.
Risco de bandeira vermelha
O cenário pode se agravar. Caso os níveis dos reservatórios continuem a cair, novas termelétricas poderão ser acionadas, aumentando ainda mais o custo da energia.
“É uma medida essencial para evitar apagões, mas, se necessário, o país pode entrar na bandeira vermelha 1 ou até 2. O custo é alto, mas garante o fornecimento”, destaca Calefi.
A adoção da bandeira amarela marca um momento de atenção. Com previsão de estiagem até outubro, economizar energia é a melhor estratégia para aliviar o impacto no bolso.