De acordo com dados recentes do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged), divulgados nesta quarta-feira (30), o Brasil encerrou o primeiro trimestre de 2025 com uma taxa de desemprego de 7%. Esse índice representa o menor patamar para os meses de janeiro a março desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012.
O dado reflete uma queda significativa na taxa de desemprego, que não era tão baixa desde 2002. Contudo, o que fica em dúvida é a qualidade dos empregos gerados nos últimos anos.

Embora a taxa de desemprego seja a menor em 23 anos, o vice-procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho da 15ª Região, Ronaldo Lira, alerta para a crescente precarização das condições de trabalho. “A precarização tem se acentuado em razão de um conjunto de fatores estruturais e conjunturais”, afirma.
Mudanças legislativas, como a Reforma Trabalhista de 2017, e decisões que enfraquecem o poder sindical, têm favorecido a adoção de formas de trabalho com menos garantias. A ideia do “empreendedor de si mesmo”, associada à liberdade contratual, tem camuflado relações de subordinação, especialmente no trabalho via aplicativos e plataformas digitais.
No contexto atual, a analista de negócios do Sebrae-SP, Évelly Moraes, aponta que muitas pessoas, tanto com quanto sem formação técnica ou superior, estão optando por empreender. A razão? A escassez de oportunidades no mercado de trabalho ou, em muitos casos, a remuneração insuficiente para garantir a sobrevivência de suas famílias.

A globalização econômica, a pressão para redução de custos, o aumento da competitividade e o avanço tecnológico sem regulação suficiente têm impulsionado modelos de contratação menos protetivos para o trabalhador.
O pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp, Dari Krein, ressalta que, “além dos baixos salários, a falta de um plano de carreira, que era comum em outros tempos, hoje quase não existe mais. Este fator é mais um que ilustra a precarização do mercado de trabalho atual.”

Os números do Caged, no entanto, também revelam um crescimento no mercado de trabalho. Nos primeiros meses de 2025, o Brasil gerou mais de 654 mil novos postos de trabalho, com destaque para os setores de serviços e indústria, especialmente em estados como São Paulo e Minas Gerais.
A automação, a digitalização e o trabalho remoto contribuíram para a criação de novas oportunidades, mas também trouxeram à tona um novo desafio: a fragilização das condições de trabalho. A automação tem substituído postos de trabalho, especialmente aqueles que demandam pouca qualificação, sem oferecer alternativas adequadas de qualificação.
Para Ronaldo Lira, é crucial destacar que, embora as transformações tecnológicas tragam ganhos de eficiência e produtividade, elas também geram novos desafios na proteção do trabalhador. “A automação substituiu postos em larga escala, especialmente os menos qualificados, sem que o mercado ou o Estado oferecessem alternativas de qualificação. A digitalização ampliou o trabalho por plataformas, em que muitas vezes há subordinação camuflada e ausência de qualquer proteção legal”, alerta Lira.