Nas cidades que compõem a RMC (Região Metropolitana de Campinas) existem 142 crianças que estão disponíveis esperando para serem adotadas. No Estado de São Paulo, são ao todo 1.819, enquanto no Brasil, 8.889 crianças estão nessa situação. O número de pretendentes chega a 43.891 no país.
No Estado de São Paulo existem 10.196 pessoas cadastradas como pretendentes a adotar, enquanto 1.819 crianças esperam por uma família. Isso significa que no estado existe 5,6 pessoas interessadas para cada uma das 1.819 crianças disponíveis.
No Brasil o número é de 4,9 pretendentes para cada criança, já que são 43.891 pretendentes e apenas 8.889 crianças disponíveis. Ou seja, tanto no Brasil quanto no estado, o número de pessoas querendo adotar é muito maior que o de crianças esperando por um lar. Os dados são do CNA (Cadastro Nacional de Adoção), órgão ligado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Das 142 crianças que esperam por um lar na RMC, 112 estão em Campinas, quatro em Americana, duas em Hortolândia, duas em Indaiatuba, três em Itatiba, três em Jaguariúna, duas em Nova Odessa, nove em Paulínia, quatro em santa Bárbara D’Oeste e uma em Valinhos.
“A conta não fecha justamente porque o perfil pretendido pela grande maioria dos adotantes não condiz com a realidade do cadastro. Muitos querem crianças mais novas, brancas, sem irmãos, sem deficiência, etc…”, comenta a assessoria de imprensa do CNJ.
Nas informações cadastrais é fácil perceber isso. Do total de crianças disponíveis para adoção no país, 5.864 não negras ou pardas, mas dentre os 40.474 pretendentes, 35.700 aceitam crianças pardas e apenas 23.653 aceitam crianças negras.
Quanto mais velha a criança menor a chance de ser escolhida. A maioria que criança com até três anos, 8.381 pretendentes se encaixam nesse perfil. No entanto, somente 592 aceitam crianças com até nove anos, por exemplo. Até 15 anos, somente 70 adotantes aceitam.
O CNA tem um sistema de alerta que informa o juiz automaticamente, via e-mail, sobre a existência de uma criança ou pretendente compatível com aquele perfil que ele acabou de registrar. “A automação no cruzamento de dados permite que o sistema encontre perfis de crianças e pretendentes que vivem em estados e regiões diferentes, o que desburocratiza o trabalho do magistrado e agiliza a efetivação das adoções, informa o site.
Em média, o processo de adoção leva um ano, segundo as informação do conselho.
Quem quer adotar precisa ser maior de 18 anos, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida
É preciso fazer uma petição para dar entrada no cartório da Vara de Infância, passar por um curso e avaliação, que depois será encaminhado para o Ministério Público emitir um parecer.
Adaptação é fase difícil
O enfermeiro de Campinas entrevistado pelo TodoDia explicou que o filho foi separado da mãe porque corria risco de vida. “Ele era prematuro e no primeiro ano de vida teve quatro internações. Ele foi levado por ela a um presídio e pegou tuberculose. O próprio médico, através do prontuário, fez os trâmites para que ele fosse retirado dela”, explicou.
Ele conta que a adaptação da família a ele e a adaptação dele com a família foi um pouco difícil no começo. “Ele veio com cinco anos, com outra realidade social. Era outro mundo. Falava muito palavrão, só via programas de TV sanguinários, só cantava RAP, falava de matar policiais. Os costumes e valores eram totalmente diferentes dos nossos”, relembra.
“Mas nós estávamos preparados para isso. Ele faz todo o acompanhamento com psicóloga. Hoje estuda em colégio militar e a vida é outra. O amor é o mesmo e os dois filhos têm tratamento igual”, afirma.
Ele ainda faz um alerta para quem quer adotar. “As pessoas são exigentes e parece que estão falando de mercadoria. Querem criança branca, loira e de olhos azuis, mas eles não são mercadorias”, finaliza.
‘Esperamos 4 anos na fila’
Para um casal de Campinas a adoção aconteceu depois do nascimento da filha biológica. Eles tiveram problemas para engravidar e decidiram adotar. “Eu desde criança sempre quis adotar. Sempre foi um desejo meu. Conversei com minha esposa e ela também aceitou”, conta o enfermeiro de 46 anos (a identidade será preservada).
Eles entraram na fila para adotar uma criança de até seis anos. Mas no meio do caminho veio a surpresa. A esposa ficou grávida. “Ficamos muito felizes. Partimos para o plano B, que era a adoção, mas veio o plano A”, brincou.
Mesmo com a chegada da criança, eles não desistiram da adoção. “Esperamos quatro anos na fila e quando nossa filha tinha dois anos veio nosso filho, já com cinco anos”, conta sobre a adoção em 2015.
O casal, que é branco, adotou uma criança negra. Ele conta que entre a família e os amigos não houve nenhum estranhamento.
Segundo ele, os problemas foram com as intituições, como escolas e plano de saúde. “Ainda há preconceito com crianças adotivas. Ele estuda em escola particular. Eu ligava para saber e confirmavam que tinha vaga, mas quando eu ia pessoalmente e entregava o termo de guarda, eles diziam que não tinha mais”, contou. O enfermeiro conta que passou por essa situação em quatro colégios particulares.
“As crianças adotadas vêm sempre de uma situação difícil de vulnerabilidade. São retiradas das famílias porque correm riscos de vida. Elas têm outras vivências, por isso os colégios evitam, querem o dinheiro, mas não querem ter trabalho”, relata. “Imagina numa sala de 30 ou 40 alunos e um adotado que ainda não se adaptou, falando palavrão, eles não querem”, explica.
Segundo ele, os planos de saúde também não estão preparados para receber uma criança adotiva. “De acordo com a lei, na adoção a criança é tratada como recém-nascida. Durante 28 dias pode usar a carteirinha da mãe, mas os atendentes não sabem disso”, relata.
| FLN
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