sexta-feira, 19 abril 2024

70 dias à frente da ‘mina de ouro’

Nesta semana, Du Cazellato (PSDB) completou 70 dias no cargo de prefeito interino de Paulínia, a segunda mais rica da RMC (Região Metropolitana de Campinas). O orçamento do município, para este ano, é de R$ 1,5 bilhão, inferior apenas ao de Campinas, no valor de R$ 5,7 bilhões.

Em entrevista exclusiva ao TODODIA, Cazellato é categórico: “É exatamente por ser considerado um município rico que existe, há muito tempo, esta instabilidade política”.

Para o prefeito interino, são pessoas que desconhecem a realidade que veem Paulínia “com olhos cheios de cifrões”. Mas, ele destacou que 56% do orçamento anual são usados para pagar os funcionários e que pesam despesas como o custeio total do Hospital Municipal e o subsídio do transporte coletivo urbano, cuja tarifa está congelada em R$ 1 há dez anos.

Nos últimos cinco anos, foram feitas 11 trocas de prefeito em Paulínia. Além disso, os primeiros dias deste ano foram de impasse sobre quem deveria assumir a chefia do Executivo.

Isso porque o vereador Antônio Miguel Ferrari (DC), o “Loira”, entende que, por ser o novo presidente da Câmara, eleito em dezembro, tem o direito de ocupar a cadeira de prefeito e trava uma guerra judicial. A Justiça Eleitoral, na quarta-feira (16), decidiu manter Cazellato no cargo de prefeito interino, até que haja eleição complementar, para definir o novo prefeito.

TODODIA – Como o senhor recebe as decisões judiciais que o mantêm como prefeito interino? Embora ainda haja a questão da eleição suplementar para ser definida, com as decisões expedidas até aqui, é possível ter tranquilidade para administrar a cidade?
Du Cazellato – Recebi a decisão com muita tranquilidade, pois sempre achamos que é o correto. Quanto à administração do município, é preciso que se separe da disputa política da cidade para que uma não interfira no desempenho da outra. A questão política e jurídica fica a cargo de meus advogados, a questão administrativa é de minha responsabilidade. Não se pode misturar as duas coisas.

Qual a análise que o senhor faz para o fato de Paulínia ser uma das cidades mais ricas da região em termos de orçamento e, ao mesmo tempo, não ter normalidade sob o ponto de vista político?
Creio que é exatamente por ser considerado um município rico que existe, há muito tempo, esta instabilidade política. As pessoas, principalmente aquelas que desconhecem a realidade do município, veem Paulínia com os olhos cheios de cifrões. Esquecem que mais de 56% do orçamento encontra-se comprometido com a folha de pagamento, que o hospital é custeado em sua totalidade pelo município e atende a população da região, que o transporte público é subsidiado e a passagem custa um Real desde 2009, que fornecemos mais de 700 bolsas para cursos universitários todo ano, que através do PAS prestamos mensalmente auxílio financeiro a aproximadamente 5.000 famílias carentes da cidade, que fornecemos transporte universitário a qualquer um que estude até 75 quilômetros fora do município, enfim, que nossa despesas fixas são extremamente altas.

O senhor acha que a eleição da presidência da Câmara, em dezembro do ano passado, já foi realizada com foco no cargo de prefeito? Se sim, quais foram os indícios disso?
Quando fui empossado como prefeito, em 7 de novembro de 2018, me afastei do processo de eleição do presidente da Câmara e, com toda certeza, a ganância pelo poder acabou levando a este lamentável episódio ocorrido depois das eleições. Entretanto, a grande maioria dos vereadores não compactuou e não compactua com a atitude do presidente da Câmara após as eleições. Foi um episódio triste, manchou a imagem da cidade e que precisa ser esquecido.

Como o senhor avalia a briga judicial do vereador Antonio Miguel Ferrari, o Loira, para ocupar o cargo de prefeito interino no seu lugar?
Pleitear o cargo de prefeito judicialmente é um direito dele e se ele acredita ser o prefeito deveria buscar isso via judicial desde o início, só não concordamos com a forma como se buscou alcançar o poder, através da força; isso não concordamos e não vamos permitir. No meu caso, estou como prefeito através de uma decisão judicial em um caso singular, mas o correto é o prefeito ser escolhido através da vontade popular, pelo voto.

Com os acontecimentos que envolveram o prefeito e vice-prefeito, o senhor esperava assumir o cargo de prefeito, quando ainda ocupava a presidência da Câmara?
Nós conhecíamos a existência do processo de cassação do prefeito e do vice, mas nunca interferimos nele enquanto presidente da Câmara. Me preocupei em exercer a função de presidente do Legislativo, pautando os projetos de interesse do município e administrando a Câmara de maneira séria, austera e transparente, tanto é que em 22 meses como presidente devolvi à prefeitura mais de R$ 10 milhões de sobra do orçamento.

No comando da Prefeitura, qual maior desafio hoje?
Hoje o maior problema da prefeitura é o fato de que em função da instabilidade política vivida nos últimos anos a cidade não tem um plano de governo a longo e médio prazo. Não foi feita a manutenção dos próprios públicos, muitos deles encontram-se desativados e a saúde pública encontra-se sucateada. Apenas como exemplo, nunca foi feito manutenção no ar-condicionado do Hospital Municipal, o tomógrafo tem quase 15 anos e vive quebrando, as escolas não sofrem manutenção há muito tempo e falta remédio na rede pública de saúde. Por isso decidi, durante o período em que estiver à frente do Executivo, governar como se fosse permanecer por longo período. Temos projetos de médio e longo prazo, como por exemplo, a reabertura do Parque Ecológico e a construção de uma nova ponte ligando o Bairro de João Aranha, mas temos também compromisso de resolver os problemas atuais e do dia a dia.

Definir nomes para as oito Secretarias vagas está na lista dos desafios?
É claro que pretendemos nomear todos os secretários, mas como disse nossa folha de pagamentos está em níveis altíssimos, mesmo exonerando mais de 300 cargos. Portanto, a nomeação de novos secretários não é minha prioridade, existe uma reforma administrativa para ser apreciada pela Câmara, que diminui em muito o número de cargos comissionados, reduz seus salários e prioriza o reconhecimento do funcionários de carreira. Após sua aprovação, pensaremos nos secretários que faltam.

Diante de todo o impasse sobre quem deveria assumir o cargo de prefeito, como ficou o andamento dos serviços públicos e quais suas metas à frente da prefeitura para melhorar os serviços oferecidos à população?
As obras em andamento não foram interrompidas em nenhum momento. Meus secretários continuaram trabalhando intensamente e eu também cumpri minha agenda normalmente. É claro que causou alguns problemas burocráticos, como por exemplo a atitude lamentável de bloquear a conta bancária da prefeitura e alguns pagamentos não foram efetuados, mas hoje tudo já se encontra normalizado.

Qual a expectativa em relação ao relacionamento entre Executivo e Legislativo, após o recesso, com essa briga judicial?
Conforme afirmei, a maioria dos vereadores me apoia e não concorda com a atitude do presidente da Câmara, mas é claro que alguns vereadores que participaram abertamente desse movimento irão fazer oposição. Isso tudo bem, faz parte do jogo político. No entanto, esperamos que seja uma oposição inteligente, desinteressada e visando o bem da população. Afinal, a oposição é necessária e faz parte de todo regime democrático.

Qual é o balanço que o senhor faz dos 70 dias como prefeito interino?
Acredito que seja positivo, realizamos algumas ações há muito almejada pela população, exoneramos os cargos comissionados para reduzir a folha de pagamento, estamos recuperando alguns próprios municipais, compramos muitos remédios para a rede pública de saúde que estão sendo entregues a partir de janeiro, realizamos algumas pequenas obras, estamos fazendo neste período de férias a manutenção em 16 escolas, fizemos a manutenção em algumas praças, iniciamos o desassoreamento da lagoa do Parque das Flores, dentre outras coisas. Mas quem realmente poderá avaliar a administração será a população.

 
 

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