quarta-feira, 24 abril 2024

Aluno que vestiu camiseta ‘emprestada’ sofre bullying

Uma criança de oito anos usou um uniforme escolar com a inscrição “Empréstimo” nas costas por cinco dias e foi vítima de bullying. Segundo a irmã dele, de 18 anos, ele não queria mais ir para escola por causa disso.

A Secretaria de Estado da Educação abriu sindicância para apurar o envolvimento da diretora da Escola Estadual Germano Benencase Maestro, no Jardim Alvorada, em Americana.

A mãe da criança e o padrasto viajaram ontem ao Rio de Janeiro para participar do programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo. A informação é da irmã do garoto.

Foi ela quem tirou a foto do menino vestido com a camiseta com a inscrição nas costas e postou no Facebook, a pedido da mãe, de 41 anos. Segundo a irmã, a criança usou a camiseta com a inscrição por uma semana. Depois que o caso ganhou repercussão, ela ganhou o uniforme e material escolar de doadores anônimos.

A irmã relata que o irmão chegou em casa terça-feira retrasada reclamando que não queria mais ir à escola se a mãe não comprasse camiseta para ele.

“A diretora mandou usar camiseta e amigos começaram a zoar a hora que foi beber água no recreio. Até então minha mãe não sabia que estava escrito empréstimo”, relatou a irmã.

O menino ficou chateado por causa das gozações dos colegas. “Ele não queria mais ir para a escola. Ficou bravo, mas não chorou”, relatou a irmã. Segundo ela, o menino usava o uniforme apenas na escola e não podia levar para casa.

No dia 7 de fevereiro, a mãe mandou um recado à escola dizendo que passava por dificuldades financeiras, mas iria comprar o uniforme para o filho no dia 20 de fevereiro, depois que recebesse o benefício do Bolsa Família.

Depois do ocorrido e da repercussão do caso, a direção enviou um recado à mãe para comparecer na escola e também para conversar com o dirigente de ensino de Americana.

‘É INADMISSÍVEL’, DIZ ESTADO

A Secretaria do Estado da Educação lamentou o ocorrido na escola em Americana e informou que a Diretoria Regional de Ensino abriu sindicância para apurar o caso de constrangimento ao aluno na escola de Americana. A criança também está sendo acompanhada.

As informações são do sub-secretário de Articulação da Grande São e Interior da Secretaria do Estado da Educação, Henrique Pimentel. Ele ressaltou que o fato está em desacordo com o que a secretaria prega e acredita, porque a intenção é cuidar das pessoas. “É inadmissível que algo assim aconteça”, ressaltou o sub-secretário. Para ele, foi um “ato falho” da diretora.

Tão logo ficou sabendo do caso, já entrou em contato com o dirigente de Ensino de Americana. Pimentel fez uma advertência verbal à diretora, que também recebeu um comunicado por escrito para cessar a exigência do uniforme com inscrição nas costas.

Segundo Pimentel, foi aberta sindicância para uma investigação detalhada sobre o ocorrido e apontar os responsáveis. Ainda não há previsão sobre o prazo para conclusão dos trabalhos, mas a sindicância, conduzida por três supervisores da Diretoria Regional de Ensino, pode concluir por advertência por escrito, abertura de processo administrativo e até mesmo afastamento da diretora.

Pimentel ressaltou que o uniforme escolar não é obrigatório nas escolas estaduais, mas a APM (Associação de Pais e Mestres) da unidade decidiu pela adoção do uniforme com a logomarca da escola. Neste caso, explicou, a APM teria de fornecer o uniforme de forma subsidiada.

A preocupação agora é com o bem-estar da criança. Segundo Pimentel, a pasta está monitorando tudo o que diz respeito ao menino, para tentar minimizar os danos causados. A coordenadora pedagógica da escola acompanha o garoto. Ele frequenta normalmente as aulas.

Neste ano foi implantado o programa Conviva SP nas escolas estaduais justamente para evitar fatos como este. Além de melhorar a convivência no ambiente escolar e combater práticas como bullying e violência física e psicológica, ressaltou Pimentel. | CC

UNIFORME PERDE O SENTIDO

A psicóloga Cristiane Alves Pereira, especialista em adolescente pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explicou que o uniforme deixa de ser usado como mecanismo de proteção, de isonomia e de pertencimento
a um grupo para se caracterizar como instrumento de exposição e de ridicularização,
quando é inscrito “Empréstimo”.

A especialista disse que o uso do uniforme é positivo porque garante segurança se a
criança se perder ou se algo acontecer com ela fora do ambiente escolar, porque ajuda na identificação. O uniforme também demonstra que todos são iguais e evita comparações do tipo quem tem o melhor tênis, o melhor boné, o melhor corte de cabelo. Ainda ajuda na identidade dos pré-adolescentes e dos adolescentes como pertencentes a um grupo, que todos são iguais e que é necessário respeitar as diferenças.

Para ela, a inscrição “Empréstimo” ou até mesmo “Escolar” no uniforme provoca um rompimento com essa regra. “Quando dá uniforme ou coloca empréstimo ou escolar deixou de ter esta característica. Perde a razão de ser”, explicou.

“(Quando isso acontece) Expõe, ridiculariza, reforça a ideia que está fora, que não conseguiu sozinho vir uniformizado”, afirmou. | CC

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